Envolvidas em escândalos ou em campanhas ambientais, as grandes ONGs internacionais demonstram cada vez mais poder de influenciar governos, empresas e a opinião pública. Movimentando US$ 1,9 trilhão ao ano em todo o mundo, o equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, as ONGs estão diretamente envolvidas em ações de desenvolvimento em países emergentes mas obtêm melhores resultados onde há democracia.
Um exemplo é a cooperação de entidades como a Plan International com o governo da Albânia, país dos Bálcãs reconstruído ao longo dos últimos 20 anos. "As ONGs tiveram um papel importante nesse trabalho (de reconstrução), tanto que a maior parte já está saindo de lá", conta o diretor da entidade no Brasil, Moacyr Bittencourt, que trabalhou por quatro anos naquele país.
Esse tipo de impacto positivo está diretamente relacionado com a abertura democrática dos países. Quanto mais aberto, mais poder de influência as ONGs podem conquistar. A opinião é do representante da ONG Lideranças para o Desenvolvimento Sustentável na América Latina (Avina), Miguel Milano.
Rosana Heringer, diretora da ONG ActionAid no Brasil, explica que é possível fazer um trabalho de formiguinha entre parlamentares para auxiliar a passagem de matérias consideradas importantes para o desenvolvimento do país.
"Trabalhamos pela aprovação do Fundeb (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) em 1997, o que ocorreu mesmo sem haver dois terços do Congresso ideologicamente afinado com a medida", diz Rosana. "Mas os governos não são homogêneos", ela pondera. "Temos capacidade de influenciar mais um Ministério do que outro."
É aí que entram outros mecanismos de influência, como campanhas de mídia. Ainda que pareçam inofensivas, elas requerem aprovação do país onde o trabalho é realizado um problema onde há censura.
"Para fazer uma publicação sobre a aids em Angola, não pode mostrar fotografias de camisinhas, que podem ser consideradas imorais", exemplifica Bittencourt, da Plan Brasil.
Apesar das complicações que coloca como a expulsão de 13 organizações do Sudão, em março, em represália à ordem de prisão contra ditador Omar al-Bashir , a África continua a ser prioridade na atuação das ONGs internacionais. "Há países muito pobres, que dependem do trabalho das ONGs e de seus recursos, mas não querem nenhum tipo de mobilização política", diz o diretor da Visão Mundial no Brasil, Ronaldo Martins. Em países como a Líbia, as ONGs nem chegam a entrar, sob a alegação de que o Estado é quem deve prover de tudo.
Propaganda negativa
Escândalos como a prisão, em 2007, de 16 voluntários da ONG francesa Arca de Zoé, quando tentavam levar 103 falsos órfãos do Chade para adoção na Europa, também atrapalham o trabalho das organizações internacionais.
No Brasil, há quem veja a ameaça iminente de pilhagem da Amazônia por ONGs que seriam meros braços de governos estrangeiros. O professor de Antropologia da Universidade Federal Fluminense Mércio Gomes vê aí um exagero, mas critica a pressão exercida sobre questões nacionais. "Fazem lobby alegando que o Brasil é incapaz de segurar a onda de expansão do agrobusiness e, portanto, que elas devem ter mais poder", diz. Ele faz um paralelo com os anos 50 e 80, quando a atuação de ONGs estrangeiras no país visava a contracepção.
O meio ambiente é o campo em que o ativismo mais chama a atenção, mas mesmo o respeitado Greenpeace embarca em causas furadas. Aconteceu em 1995, quando a organização convenceu a Shell a não afundar o reservatório de petróleo Brent Spar, alegando riscos para a natureza. Apesar de a companhia acreditar que aquela seria a forma mais segura de se livrar do material, cedeu à pressão de governos do norte europeu, convencidos pela campanha do Greenpeace. Mais tarde, os ambientalistas admitiram ter superestimado o risco.
* * * * *
Interatividade
Você acredita que ONGs estrangeiras tenham intenções ocultas em países emergentes?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br ou deixe seu comentário abaixo
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.



