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Alimentação

O que realmente nos engorda

Estudo coloca em xeque a ideia de que a caloria é a vilã da obesidade e mostra como os carboidratos afetam o consumo de energia no corpo

“Uma família”, obra do artista plástico colombiano Fernando Botero | Sothebys/Reuters
“Uma família”, obra do artista plástico colombiano Fernando Botero (Foto: Sothebys/Reuters)

Caloria é caloria. Assim diz a sabedoria nutricional sobre a obesidade desde a década de 1960. A expressão significa que uma caloria de proteína gera a mesma energia que uma caloria de gordura ou carboidrato. Evocar a frase "caloria é caloria" é dizer que o que comemos é relativamente irrelevante. Engordamos porque consumimos mais energia do que utilizamos.

Mas nem todo mundo acredita nisso. O periódico The Journal of the American Medical Association publicou resultados de um teste clínico feito por David Ludwig, do Hospital Infantil de Boston. No estudo, a ideia de que a caloria é o vilão dos obesos foi colocada em xeque.

A noção de que "caloria é caloria" data de 1878, quando o nutricionista alemão Max Rubner estabeleceu o que chamava de lei isodinâmica.

No começo do século 20, o também alemão Carl Von Noorden aplicou o conceito à obesidade, vista como um defeito de armazenamento de gordura em quem consome mais calorias do que gasta.

Suspeito

Agora, a discussão mudou. Os carboidratos são os principais suspeitos na dieta de quem engorda, sobretudo os refinados, facilmente digeríveis (alimentos que têm alto índice glicêmico) e açúcares.

O mecanismo é óbvio: carboidratos estimulam a secreção do hormônio insulina, que serve, entre outras coisas, para armazenar gordura em nossas células.

Estudo

A equipe de Ludwig realizou um feito inédito. Testando indivíduos obesos, que reduziram de 10% a 15% do peso e estavam suscetíveis a engordar, os pesquisadores observaram que o consumo de energia caiu vertiginosamente. Essas pessoas queimaram menos calorias do que quem faz o mesmo naturalmente – isso significa que elas precisam lutar contra a fome para manter a perda de peso.

Ludwig mediu quantas calorias eram utilizadas por esses indivíduos e quantas calorias eram ingeridas. A pesquisa os submeteu a três dietas bem diferentes, que continham a mesma quantidade calórica, mas uma composição nutricional diferente.

Uma das dietas era baixa em gordura e, por isso, alta em carboidratos. Trata-se da receita indicada por nutricionistas: grãos integrais, frutas, vegetais e fontes magras de proteína.

A outra tinha baixo índice glicêmico: menos carboidratos no total, e aqueles que foram incluídos eram de digestão lenta (como favas, vegetais sem amido e outras fontes minimamente processadas). A última era a de Atkins, muito baixa em carboidratos e alta em gordura e proteína.

Os resultados mostraram que quanto menor a quantidade de carboidratos consumidos, maior a energia utilizada pelos indivíduos que sofreram redução de peso. Segundo Ludwig, quando eles se alimentavam com dietas baixas em gordura, tinham de acrescentar uma hora de atividade física moderada todos os dias para gastar a energia que gastavam sem esforço com a dieta baixa em carboidratos. E isso enquanto consumiam a mesma quantidade de calorias.

Se a atividade física os deixasse com fome – uma possibilidade provável – manter o peso com a dieta baixa em gorduras e alta em carboidratos seria mais difícil. O estudo nos diz que pessoas que têm predisposição engordam independente das calorias ingeridas.

Quanto menor a quantidade de carboidratos consumida, maior a facilidade de nos mantermos magros. E quanto maior a quantidade, maior a dificuldade. Em outras palavras, os carboidratos engordam.

Tradução: Adriano Scandolara

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