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Entrevista

O que vai resolver o problema do Haiti é o investimento estrangeiro

Igor Kipman, embaixador do Brasil no Haiti

“A preocupação básica no momento é a realocação de 1,3 milhão de desabrigados que estão em barracas precárias” | Antônio Costa/Gazeta do Povo
“A preocupação básica no momento é a realocação de 1,3 milhão de desabrigados que estão em barracas precárias” (Foto: Antônio Costa/Gazeta do Povo)

Porto Príncipe, Haiti - Quem caminha pelas ruas de Porto Príncipe e vê que a maior parte da população está realmente sem ocupação, se convence rapidamente de que só investimentos externos permitirão a geração de trabalho e renda e, a longo prazo, o desenvolvimento do país. Essa é a opinião do em­­baixador brasileiro no Haiti, Igor Kipman, para quem a presença militar brasileira no país está sendo eficiente em pavimentar o caminho para que novos investimentos ocorram. Curitibano, Kipman conversou sobre a situação do Haiti com a Gazeta do Povo na embaixada brasileira, na região de Pétionville.

O que o senhor pensa da crítica manifestada pelo representante da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti, o brasileiro Ricardo Seitenfus, retirado do cargo, de que é preciso destinar mais esforços para o desenvolvimento do Haiti e menos para a segurança?

Esse é o discurso do Brasil no Conselho de Segurança da ONU desde 2004 [quando a missão de pacificação, Minustah, entrou no Haiti]. Não é novidade. A cada renovação da resolução [que permite à ONU manter a missão de paz], conseguimos avanços para que a Minustah trate mais de desenvolvimento. A segurança hoje está incomparavelmente melhor do que em 2004. Em 2005, tivemos a vinda da companhia militar brasileira de engenharia, que depois foi ampliada, e hoje a Minustah faz muito mais em termos de desenvolvimento do que em 2004. Um dos trabalhos é desobstruir ruas e abrir estradas. Mas não se pode esperar que ela resolva o problema do desenvolvimento, porque esse avanço depende de investimento pesado – nesse caso, estrangeiro. Geração de emprego e criação de renda. Essa não é a função da missão da ONU. Ela coopera para que esses investimentos possam entrar no país, mantendo o am­­biente seguro e com in­­fraestrutura. Você não faz ideia do que eram essas ruas da cidade em 2004...

Quais são os principais investimentos privados do Brasil no Haiti?

Temos a empreiteira baiana OAS, que já está atuando aqui, e o interesse manifesto da indústria têxtil brasileira. Ano passado, veio uma missão grande da Asso­­ciação Brasileira da Indústria Têxtil com cerca de dez grandes empresas, que estão em tratativas para vir investir aqui, mas isso passa pelo ambiente seguro e acesso a infraestrutura. Além disso, o Banco Interamericano trabalha na criação de um polo industrial no norte do país, da qual também temos participado. E a Empresa Brasileira de Pes­­quisa Agropecuária (Embrapa) tem um projeto de melhoramento de sementes. Uma variedade de arroz testada já se mostrou dez vezes mais produtiva que a utilizada localmente. Depois vamos buscar substituir as variedades para aumentar a produtividade e reduzir o custo.

Que outros projetos de reconstrução estão em andamento no país?

Há uma quantidade imensa de projetos – nem todos em andamento. A preocupação básica no momento é a realocação de 1,3 milhão de desabrigados que estão em barracas precárias. Em outubro do ano passado chegou a epidemia de cólera, que foi mais um complicador.

Em que fase está o projeto de construção da hidrelétrica no Rio Artibonite, para a qual o Brasil destinou recursos?

O projeto foi finalizado em outubro e custou ao governo brasileiro R$ 4 milhões. Agora a obra pode ser licitada, mas a decisão foi aguardar os recursos de construção. Faltam US$ 120 milhões. Estamos buscando parceiros, falando com autoridades.

O atraso na conclusão do processo eleitoral atrapalha a re­­construção do país?

Sim. Há uma expectativa natural do povo haitiano e dos parceiros internacionais em saber quem serão os novos governantes do país, que irão gerir o dinheiro prometido pelos doadores. O atraso faz com que as coisas fi­­quem emperradas. O combate à epidemia de cólera segue o curso normal, mas projetos de mais longo prazo e maior volume de recursos estão presos. Faz parte do processo democrático. O atraso é ruim, mas inevitável no processo democrático que se está tentando implantar aqui.

A posse, prevista pela Cons­­ti­­tuição para o dia 7 de fevereiro, claramente não poderá ocorrer. O presidente Préval po­­de permanecer no cargo mesmo assim?

O entendimento é que sim, porque a Carta haitiana diz que o mandato é de cinco anos, e ele assumiu em maio de 2006.

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