Não existe uma palavra no idioma Huaorani para definir "futuro". A lacuna semântica soa dramática quando uma das últimas etnias não contatadas do planeta pode ser eliminada por uma disputa de terras.
Pesquisas estimam a existência de 4 mil huaoranis, subdividos em cinco tribos. Antes da colonização espanhola, a tribo povoava toda a região a leste dos andes equatorianos, dentro da Floresta Amazônica.
Uma de suas principais características culturais é a devoção à terra. Para os huaoranis, o mundo físico e o espiritual convivem juntos, e a floresta é a sua expressão máxima. Para eles, viver ali oferece abrigo contra bruxarias e ataques inimigos. "Os rios e as árvores são as nossas facas", disse um deles ao jornalista americano Joe Kane, que viveu entre os huaoranis na década de 80.
A primeira incursão branca ao refúgio Huaorani aconteceu em 1956, quando cinco missionários americanos fizeram contato com a tribo. Eles foram recebidos pacificamente, porém mortos dois dias depois.
Depois vieram outros missionários, e os índios se renderam à catequese.
Em 1968, a empresa petrolífera Texaco descobriu amplas reservas naquele território, e iniciou-se uma nova onda de conflitos. Somente em 1980 foi criada a atual reserva, com 6,8 mil km² (um terço da área original).Hoje, as disputas por terra continuam. As concessões petrolíferas ameaçam o isolamento do povo Huaorani, que migra cada vez mais para o leste. Para definir os colonizadores, eles têm uma palavra: "cowodi", ou "canibais desumanos".
