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Whatsapp é usado por 1,5 bilhão de pessoas no mundo | Pixabay
Whatsapp é usado por 1,5 bilhão de pessoas no mundo| Foto: Pixabay

Esqueça os debates e os comícios. As eleições na Índia são disputadas e vencidas no Whatsapp, o aplicativo de mensagens pertencente ao Facebook que é usado por milhões de pessoas para fazer chamadas, conversar e compartilhar informações. Mas o serviço está fornecendo uma plataforma sem filtros para fake news e ódio religioso, apontam ativistas e observadores. 

Em uma eleição estadual na Índia prevista para este mês e vista como uma prévia do pleito nacional no próximo ano, os dois maiores partidos do país dizem que tem mais de 20 mil grupos do Whatsapp e que com eles podem atingir mais de 1,5 milhão de partidários em minutos. Mas algumas dessas mensagens são falsas e distorcem as palavras de oponentes políticos, o que acaba aumentando as tensões entre nacionalistas hindus e a minoria muçulmana do país. 

A primeira “eleição Whatsapp”, como vem sendo chamada, chega no momento em que o Facebook é acusado de minar a democracia, devido às falhas em controlar a desinformação gerada pela Rússia, as notícias imprecisas e o discurso de ódio. Em países em desenvolvimento como Mianmar e Sri Lanka, notícias falsas no Facebook têm gerado protestos, linchamentos e violência religiosa. Nos Estados Unidos, contas administradas por agentes russos compartilharam desinformação e mensagens polêmicas para mais de 126 milhões de pessoas.

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Riscos de abusos

Mas ativistas em muitos países dizem que o Whatsapp, usado por 1,5 bilhão de pessoas e conhecido por suas mensagens encriptadas que nem os funcionários da empresa conseguem ler, representa um desafio maior para a democracia. 

A plataforma facilita abusos porque muitos dos seus usuários são novos na internet e não são alfabetizados digitalmente. E como as conversas acontecem em grupos privados, pode ser mais difícil para o público corrigir informações falsas. 

“Ela está ficando fora de controle e o Whatsapp não sabe o que fazer a respeito”, disse Nikhil Pahwa, ativista de direitos digitais. “A dificuldade é que é impossível saber como esta informação está se espalhando. É muito fácil para um partido político espalhar informações erradas”. 

O Whatsapp não é usado com frequência nos Estados Unidos e, quando Facebook o comprou em 2014, analistas ficaram chocados com o preço pago: US$ 19 bilhões. Mas Mark Zuckerberg o adquiriu por causa de seu alcance global: sua penetração é maior do que a do Facebook em algumas regiões do mundo. 

Em países como o Brasil e México, o aplicativo é o serviço mais comum não só para mensagens de texto e ligações entre amigos e famílias, mas também para negócios. 

O maior mercado do Whatsapp está na Índia, onde tem mais de 200 milhões de usuários. Os indianos enviaram mais de 20 bilhões de mensagens de Feliz Ano Novo neste ano. E o Whatsapp está testando formas de realizar pagamentos pelo aplicativo . O objetivo é o de expandir a sua atuação. 

Desde o início de sua operação na Índia, as mensagens foram usadas para incitar a violência popular. Boatos no Whatsapp sobre sequestro de crianças levaram ao assassinato de três pessoas no estado de Tamil Nadu na semana passada. 

Nas eleições da Índia, o Facebook firmou uma parceria com o website Boom, de checagem de fatos, para revisar conteúdos, mas em relação ao Whatsapp pouco foi feito. Representantes do serviço de mensagens estiveram na Índia nos últimos dias para se reunir com grupos da sociedade civil e discutir as eleições do próximo ano. 

“Estamos conversando com pessoas para dar-lhes mais controle sobre os grupos e estamos desenvolvendo nossas ferramentas para bloquear conteúdo automatizado”, disse um porta-voz do Whatsapp. “No período que antecede as eleições do próximo ano, estamos intensificando nossos esforços de educação para que as pessoas conheçam melhor as ferramentas de segurança, bem como descobrir notícias falsas e fraudes”. 

Questionamentos

Executivos do Facebook entraram em confronto com os do Whatsapp em uma série de questões, incluindo privacidade e como lucrar mais com a base do serviço de mensagens. Seu co-fundador renunciou no mês passado devido às tentativas do Facebook coletar informações mais detalhadas. Por sua vez, os executivos da companhia estão frustrados com a incapacidade do Whatsapp em conter a onda de notícias falsas ou controlar o conteúdo ilegal compartilhado na plataforma. 

O primeiro-ministro Narendra Modi, que venceu as eleições em 2014, apoiado por uma forte campanha nas mídias sociais, tem milhares de seguidores no Whatsapp comandando grupos populares. Muitas de suas postagens contêm alertas sobre os muçulmanos, uma tática para unir a base hindu leal. 

“Chegar a cada lar e promover nosso manifesto ficou muito mais fácil e rápido”, disse Vikas Puttur, porta-voz de um partido nacionalista em Mangalore. “Conhecemos a realidade em instantes.” 

Mangalore é uma cidade de 625 mil habitantes, com palmeiras e casas de telhado de terracota. Mas a brisa do mar não consegue esconder a tensão entre a maioria hindu e uma minoria muçulmana rica, muitos dos quais seguem uma forma mais rigorosa de islamismo, fomentada por laços com o Golfo Pérsico. 

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Puttur, portador de um MBA e com vínculos com um partido nacionalista, nega que seu grupo político divulgue fake news ou mensagens de orientação religiosa, mas afirma que seu oponente, o Congresso Nacional Indiano, faz uso dessas práticas. Este partido nega, mas seus apoiadores espalharam fake news sobre um funcionário de um partido nacionalista preso por compra de votos. 

Puttur fez um vídeo, que teve grande circulação, sobre o político muçulmano Zameer Ahmed Khan, traduzindo um forte discurso como uma promessa de “matar todos os hindus”. 

De acordo com o site de checagem de notícias Alt News, não foi isso que Khan disse. Ele afirmou que se for ministro, em cinco anos ele trabalharia tanto que seu nome apareceria no Guinness Book. O site disse que a prática do fake news é disseminada entre todos os partidos, mas a desinformação maior é disseminada por partidos nacionalistas. 

Questionado sobre as discrepâncias, Puttur resumiu-se a dizer: “eu disse o que ele realmente quis dizer.” 

O governo indiano, sentindo-se incapaz de parar a divulgação de conteúdos veiculados pelo Whatsapp, decidiu derrubar a internet em lugares onde há maior tensão. No ano passado foram 70 interrupções contra seis, em 2014, de acordo com o portal Internet Shutdowns. 

Estratégias

O Brasil tem adotado uma tática parecida. Volta e meia o serviço é interrompido, por causa da recusa de executivos da empresa em compartilhar dados requisitados pelas autoridades. 

Outros países vêm tentando monitorar o conteúdo do Whatsapp. Na Colômbia, o site de notícias La Silla Vacia lançou um detector de Whatsapp em 2017, permitindo que usuários submetam mensagens do aplicativo para checagem. Ativistas no México e o governo do Egito têm desenvolvido ferramentas, permitindo que pessoas reportem histórias suspeitas de serem falsas ou, no caso do Egito, que causem perigo aos interesses públicos e à segurança nacional. 

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O porta-voz do Whatsapp disse que se há alguma preocupação relacionada à segurança, a empresa é capaz de bloquear maus usuários no Whatsapp e no Facebook. Apesar de as empresas não conseguirem monitorar conteúdos, eles tem acesso a informações como números de telefones, fotos de perfil e podem conectar contas do Whatsapp com contas do Facebool para obter pistas sobre atividades indesejadas como terrorismo, pornografia infantil e envio de spam. 

“Partidos políticos tem usado o Whatsapp para se organizar”, diz o porta-voz. “E isto foi feito sem qualquer ajuda.” A eleição em Karnataka está nos ensinando mais sobre o que esta acontecendo e como evitar, mais efetivamente, a difusão de spam.

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