
O pedido de calma do presidente da África do Sul, Jacob Zuma, parece não ter surtido efeito. Os ataques xenófobos tomaram a cidade de Durban, deixando seis moçambicanos e etíopes mortos nos últimos dias, se alastraram ontem por várias cidades do país.
O centro de Johannesburgo, capital financeira da África do Sul, amanheceu ontem com carros e lojas de imigrantes incendiados. Doze pessoas foram detidas durante a madrugada. Perto dali, trabalhadores do subúrbio de Jeppestown voltaram a se concentrar nas ruas para exigir a saída de imigrantes da zona, armados com paus, machados e pedaços de ferro. Em Port Elizabeth, no Sul, foram registrados os primeiros saques. Com medo, imigrantes começam a se armar em grupos de autodefesa.
“Estou assustado, não acho que aqui volte a ser um lugar seguro”, disse Prince Okhe, nigeriano que teve a loja atacada por sul-africanos. “E o governo nem pensa em oferecer compensações pelos danos”.
Desde o início dos ataques em Durban, que começaram há quase três semanas, mais de 5 mil estrangeiros foram desalojados. E as condições nos acampamentos são consideradas “as mais básicas”, segundo o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur). Cerca de 50% dos estrangeiros não têm documentos e haviam entrado no país de forma ilegal.
“Um dos nossos focos é garantir um ambiente de diálogo entre comunidades de migrantes, cidadãos locais e as autoridades - disse o chefe da missão da Organização Internacional para Migrações na África do Sul (OIM), Richard Ots.
Ontem, a OIM pediu às autoridades que garantam instalações sanitárias e de saúde adequadas nos locais. O governo vem sendo acusado em demorar a agir. Após um pronunciamento do presidente Jacob Zuma, na quinta-feira, foi a vez de sua mulher, Tobeka Madiba Zuma, condenar os ataques.
“Como africanos temos a nossa própria maneira de responder aos desafios. Não é atacando e matando uns aos outros”, disse.
A fala do rei
O rei zulu Goodwill Zwelithini é acusado por muitos por ter causado os ataques quando pediu para imigrantes a deixarem o país, há algumas semanas. Ontem, ele anunciou que se reunirá com líderes para pedir o fim da violência.
“Há uma relação muito complicada entre as estruturas eleitas democraticamente e as liderança tradicionais”, diz Emily Craven, mestre em Políticas pela Universidade de Witwatersrand e gestora da ONG Action Aid no país. “Parece mais fácil chamar incidentes isolados de ação criminosa do que aceitar que há um problema fundamental na sociedade sul-africana. Quando o rei zulu faz declarações xenófobas, há uma corrida para afirmar que ela estava fora de contexto e ele não estava incitando a violência”.



