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O presidente da França, Emmanuel Macron, durante reunião do Conselho de Segurança e defesa do país no Palácio do Eliseu, em Paris, nesta quinta-feira (16)
O presidente da França, Emmanuel Macron, durante reunião do Conselho de Segurança e defesa do país no Palácio do Eliseu, em Paris, nesta quinta-feira (16)| Foto: EFE/EPA/LUDOVIC MARIN / POOL MAXPPP OUT

A França foi significativamente afetada nesta semana por um episódio de extrema violência que chocou diversas pessoas no país europeu e no mundo.

Criminosos fortemente armados realizaram uma operação digna de cinema na manhã de terça-feira (14) em uma rodovia da região da Normandia para libertar o prisioneiro Mohamed Amra, de 30 anos, também conhecido como “Mosca”, que estava sendo transportado por agentes penitenciários em um furgão. O "Mosca" estava sendo levado de uma audiência de volta para o presídio onde cumpria sua pena por múltiplos crimes.

A operação criminosa culminou no brutal assassinato de dois agentes penitenciários e em outros três feridos, que seguem hospitalizados. Amra, identificado como chefe de uma gangue do tráfico de drogas da cidade de Marselha, fugiu e ainda não foi encontrado, mesmo estando sob uma forte operação de busca - composta por diversas autoridades, atualmente em curso para recapturá-lo.

O ataque meticuloso contra agentes do Estado francês em plena luz do dia em uma rodovia principal reflete os métodos brutais do narcotráfico e sua ação coordenada no país, que, segundo parlamentares, deve estar vivenciando neste momento um rápido e forte processo de expansão e poder.

Na terça-feira, justamente no dia da operação criminosa na Normandia, o Senado da França divulgou um relatório, concluído após seis meses de investigações e 158 audiências, onde apontou a gravidade da situação envolvendo a crescente influência e poder no narcotráfico no país liderado por Emmanuel Macron.

O documento revelado pelo Senado descreve que a França está “submersa” pelo tráfico de drogas, que promove a violência exacerbada no país, possui um modelo econômico complexo e organizado e a sua própria hierarquia. Conforme os senadores, o tráfico de drogas atualmente se infiltra facilmente em diversos locais da França, impondo suas regras e modelos tanto em áreas urbanas quanto em áreas rurais.

Segundo estimativas do ministro da Economia da França, Bruno Le Maire, o comércio de drogas no país deve movimentar anualmente cerca de US$ 3,8 bilhões.

O relatório do Senado francês destaca a situação descrita como “calamitosa” nos territórios ultramarinos do país, espalhados pela América do Sul, África e Oceania. Estes territórios, segundo o documento, estão “abandonados pelo Estado”, sendo vítimas da escassez de recursos humanos e técnicos, o que torna praticamente “impossível” que as autoridades comecem suas operações de combate ao tráfico de drogas por esses locais.

Além de fazer um claro alerta sobre o poder do tráfico, o relatório também citou o alto risco de corrupção entre funcionários públicos e privados, que podem estar sendo “peças fundamentais” para o comércio de drogas. Segundo os senadores, é necessário que o governo francês “comece agir desde já” para tentar mitigar os efeitos e combater a influência das gangues e do tráfico dentro do Estado e nas cidades francesas.

No documento divulgado na terça, os Senadores franceses pedem que as autoridades que atuam nas fronteiras e em locais sensíveis enfrentem processos de auditorias internas como forma de prevenção à corrupção e que todos realizem um treinamento sobre o combate ao tráfico.

Durante as audiências do Senado, que culminaram na criação do relatório juízes da cidade de Marselha, onde Amra possui sua gangue, descreveram a realidade sombria com a qual convivem. Eles falaram sobre o aumento do "narcoterrorismo" na cidade, deixando os presentes perplexos com os exemplos e números apresentados. Olivier Leurent, juiz chefe do tribunal judicial de Marselha, alertou: "No curto prazo, corremos o risco de ver o Estado de Direito ruir". A juíza Isabelle Couderc expressou seu medo de que a guerra contra os traficantes em Marselha esteja sendo perdida.

Marselha, que segundo informações da mídia local se tornou o epicentro do comércio de drogas na França, enfrentou 49 mortes e 123 feridos em tiroteios relacionados ao narcotráfico no ano passado.

Além de citar todos os problemas enfrentados internamente, o relatório também destacou a deficiência na cooperação internacional como outro ponto crítico.

Segundo o documento, os líderes das redes de tráfico de drogas que atuam na França conseguem encontrar facilmente refúgio em países estrangeiros, particularmente nos Emirados Árabes Unidos, onde, segundo os senadores, “parecem viver sem preocupações”. Os senadores pediram ao governo no relatório que tente resolver este problema.

Além disso, os senadores também citaram a Venezuela como um país crucial para o tráfico de cocaína na França e pediram que o governo francês condicione suas relações diplomáticas com o regime de Caracas a um “compromisso palpável” no combate às drogas.

Os parlamentares listaram no relatório algumas outras sugestões se combater o poder do narcotráfico, citando a criação de um departamento exclusivo para lidar com o combate às drogas e ao tráfico, ideia que não é bem vista por membros do governo Macron, que preferem continuar investindo em operações regulares contra o tráfico e num escritório fraco de combate às drogas.

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