Ao longo de seus catorze séculos de existência, o Islamismo deixou a condição de religião revelada em árabe aos árabes para se tornar uma mensagem espiritual de dimensões mundiais. Segundo o The Global Religious Landscape, emitido pelo Pew Research Center em dezembro de 2012, naquele ano o Islamismo era a religião com o maior número de seguidores no planeta: 1,6 bilhão, contra 1,1 bilhão de católicos – então a segunda maior crença, em número de fieis. A tendência é de que, nos últimos três anos, essa diferença tenha se ampliado.
Atualmente, são 49 nações de maioria muçulmana, sendo que a Organização para a Cooperação Islâmica conta com 57 nações integrantes. Nenhuma religião se espalha de maneira tão impressionante por todos os continentes da Terra se não estiver solidamente alicerçada em valores como a espiritualidade, o amor ao próximo, a tolerância e a solidariedade. Valores que levam, como corolário, à percepção da vida como um dom divino e, portanto, sagrado. Uma chama acesa por Allah no âmago de cada ser humano.
As práticas do chamado Estado Islâmico na Síria e Iraque ou, simplesmente, Estado Islâmico, chocam profundamente, também, os muçulmanos. Suas ações contradizem em tudo aqueles conceitos que estão na base da religião islâmica e são ensinados aos nossos filhos, em casa e nas aulas de religião, nas mesquitas.
Por isso, as práticas do chamado “Estado Islâmico na Síria e Iraque” ou, simplesmente, “Estado Islâmico”, chocam profundamente, também, os muçulmanos. Suas ações contradizem em tudo aqueles conceitos que estão na base da religião islâmica e são ensinados aos nossos filhos, em casa e nas aulas de religião, nas mesquitas. “Não há compulsão na religião”, define o Alcorão Sagrado (2: 256). E, adicionalmente: “E não disputeis com o Povo do Livro, senão com suave exortação” (29: 46). Por “Povo do Livro” entendemos os judeus e os cristãos.
Perseguir minorias, forçar a conversão, assassinar mulheres e crianças, decapitar e queimar vivos os prisioneiros... estes procedimentos cruéis e espetaculosos não só não contam com a chancela da Alcorão Sagrado, como não têm escudo nos ensinamentos do Profeta Muhammad – Deus o abençoou e a sua família e os saudou. Logo que chega ao oásis de Yathrib, vindo de Meca, ele sela um acordo com as tribos cristãs e judaicas do local. A Sahifatul Medinat, ou “Constituição de Medina”, reconhece os direitos à prática religiosa e ao julgamento dos crentes segundo sua religião. Um exemplo claro de respeito ao mandato divino, de tolerância e sabedoria política. Yathrib ficaria conhecida por “Medinatu Rassul”, a “Cidade do Profeta” ou, simplesmente, Medina.
Esse, pois, o ethos do Islamismo, o oposto do que comete o Estado Islâmico. Infelizmente, porém, as ações espetaculosas do EI têm definido a representação do ser islâmico diante de plateias que, atônitas e mal informadas, postam-se diante de televisores, tablets, smartphones e PCs em todo o globo, ou que abrem jornais todos os dias. Parcela significativa dessa audiência acaba construindo uma imagem distorcida do Islamismo como uma religião violenta e intolerante. E, o que é pior, termina por reproduzir um comportamento intolerante e preconceituoso contra os muçulmanos em geral. Inclusive, no Brasil.
Reafirmamos que o Estado Islâmico, apesar de sua iconografia, cânticos e aparência muçulmana, não representa e não age segundo as normas islâmicas. Seu desrespeito pela vida de um ser humano representa o seu desrespeito pela vida de toda a humanidade. E pelo próprio Islamismo.



