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A pianista Elena Bashkirova à frente da Orquestra da Câmara de Israel | Reuters
A pianista Elena Bashkirova à frente da Orquestra da Câmara de Israel| Foto: Reuters

Uma orquestra israelense deverá provocar fortes emoções na Alemanha no próximo ano, quando tocar uma peça de Richard Wagner, o compositor favorito de Hitler, contestando um antigo tabu em Israel relacionado a sua música.

Os conjuntos israelenses quase nunca tocam Wagner, respeitando os sentimentos dos sobreviventes do Holocausto. Com a passagem do tempo e o número cada vez menor de sobreviventes, porém, a oposição veemente dentro do Estado judaico à obra do compositor antissemita do século 19 se esvaece, opina a presidente da Orquestra da Câmara de Israel (ICO na sigla em inglês), Erela Talmi.

"Acho que os ares mudaram e as pessoas que estiveram nos campos de concentração ou estão mais fracas ou não estão mais entre nós, e aqueles que expressaram sua opinião são poucos e é difícil para eles serem escutados agora", afirmou ela.

A ICO vai se apresentar em julho na esteira do festival anual de Beyreuth, na Alemanha, que celebra as óperas de Wagner.

A orquestra tocará o Idílio de Siegfrid, de Wagner, assim como uma obra do compositor israelense Zvi Avni, uma do músico Felix Mendelssohn, nascido na Alemanha, e uma de Gustav Mahler, nascido na Áustria - estes últimos dois dos mais proeminentes compositores judeus.

Talmi afirmou que a apresentação da orquestra enviará uma mensagem contundente: "Vocês não podem se livrar de nós. Vocês não podem se livrar da nossa música."

Protestos

Ao longo dos anos, a tentativa feita por alguns músicos em Israel de tocar a música de Wagner provocou casos em que a plateia se levantou e foi embora em protesto e gerou um debate público acalorado.

Wagner também é um tabu na mídia de propriedade estatal em Israel, que normalmente não toca suas obras.

A ICO ensaiará e tocará a música de Wagner apenas quando estiver na Alemanha, disse o maestro da orquestra, o austríaco Roberto Paternostro.

Segundo ele, Wagner era uma lembrança prolongada do boicote de Israel aos antigos símbolos alemães e, embora os tabus e outros itens antigamente associados com o regime nazista tenham sido abandonados, o compositor permanecia banido.

"Wagner tornou-se um símbolo...não há problema em ter um Volkswagen em Israel e não há problema aqui em viajar de Lufthansa. Hoje eu cheguei à sala de concerto em um táxi Mercedez, mas Wagner tornou-se símbolo de todas as coisas terríveis que aconteceram", disse Paternostro à Reuters.

Embora Wagner, que escreveu textos antissemitas, tenha morrido meio século antes de Hitler subir ao poder, o ditador nazista era um admirador fervoroso e tirou dos textos do compositor suas próprias teorias sobre pureza racial e extermínio de judeus.

Especialista em Wagner, Paternostro foi indicado diretor artístico da ICO no início do ano e disse ter sugerido a ideia para que a orquestra tocasse na cidade bavária de Bayreuth na época do festival de Wagner.

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