
Enquanto a Somália era só mais um país empobrecido e instável no Chifre da África, o mundo se contentava em enviar doações ou adotar crianças a distância. Agora que o país se transformou no principal "exportador" de piratas só em 2009, 74 navios foram atacados por somalis e pelo menos 280 tripulantes são mantidos reféns , todos concordam que o ideal seria reestruturar o país, de forma que ele próprio monitore seu mar e portos, trazendo mais segurança ao Golfo de Áden e Oceano Índico.
O problema é que o governo do país africano não tem a mínima estrutura para caçar e prender bandidos. Aqueles que são presos pela Marinha de outros países são levados a julgamento no vizinho Quênia.
A gota dágua foi o sequestro do cargueiro americano Maersk Alabama e a dramática libertação de seu capitão, na semana passada. Logo depois, o presidente Barack Obama (cujo pai era queniano) anunciou medidas como rastreamento e congelamento do dinheiro obtido por piratas nos sequestros. Uma conferência internacional também foi marcada para esta semana, em que a pirataria deverá ser o principal assunto.
Política de segurança
Além de ações imediatas contra a pirataria, o encontro tratará de iniciativas para estabilizar a Somália. O premier do país, Omar Abdirashid Ali Sharmarke, já deixou claro que só combaterá os piratas se outras nações providenciarem os recursos necessários.
Na reunião, a União Europeia pressionará pela destinação de US$ 260 milhões para ampliar a segurança na Somália e equipá-la. A França já se comprometeu com o treinamento de 500 somalis na fronteira com o Djibuti.
E a ajuda internacional não se restringe ao Ocidente. Na sexta-feira, o ministro da Defesa do Japão, Yasukazu Hamada, ordenou que a força aérea de seu país deixasse aviões de inteligência de prontidão para se unir à batalha internacional contra os piratas.
Mas antes de colocar em prática essa fora-tarefa, será preciso revisar as ações já adotadas. Em outubro, a Otan (aliança militar do Ocidente) enviou uma flotilha preventiva ao Golfo de Áden que não funcionou, pois, desde então, os ataques só aumentaram.
Para o colunista da revista on-line Slate Fred Kaplan, o ideal seria enviar frotas de várias partes do mundo para que a repressão aos piratas em sua maioria jovens muçulmanos não seja identificada com a "guerra ao terror" dos Estados Unidos.
No lugar de politizar a questão, ele sugere ações práticas: decretar a área ao redor de navios de comércio como zona de segurança e permitir que tripulantes de navios atirem contra piratas quando tentarem subir a bordo; e contratar almirantes armados para cada navio que passe por rotas inseguras, custeados por um fundo internacional.
Em 2008, os donos de navios pagaram mais de US$ 150 milhões em resgates. "Os piratas descobriram um filão. Só não sabem até quando irá durar", diz o pesquisador Leandro Duran, do Centro de Arqueologia Náutica e Subaquática da Unicamp.
"Alguns dizem que as raízes da pirataria na Somália estão na própria Somália e sua falta de leis, e que o problema só seria resolvido até que o país tenha um governo forte e estável. Pode ser verdade, mas o que faremos enquanto esperamos um Messias de Mogadíscio?", questiona Kaplan.



