A visita papal à Coreia do Sul, de hoje até a próxima segunda-feira, começou com uma piada, conta a jornalista argentina Inés San Martín. A diocese de Daejon seria a anfitriã da Jornada Asiática da Juventude, versão continental do evento que trouxe o papa Francisco ao Brasil em 2013. No fim do ano passado, o cardeal Fernando Filloni, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, disse ao bispo anfitrião, Lázaro You Heung-sik, que ele representaria o papa no evento. "Mas não é você que eu quero", respondeu o coreano; "eu vou convidar o papa!". Filloni até explicou que seria difícil, que a Coreia é longe de Roma, mas You não desanimou, escreveu uma carta a Francisco, e deu no que deu.
A Coreia do Sul é um caso raro no Extremo Oriente. O cristianismo cresce a velocidades espantosas; em 1960, os católicos eram 0,5% da população; hoje são 10%; no mesmo período, os protestantes saltaram de 2% para 17%. A credibilidade da Igreja Católica no país teve um grande reforço após décadas de ocupação japonesa e dos conflitos que destruíram o país.
Os missionários cristãos estiveram entre os primeiros a ajudar os coreanos, e a hierarquia católica se opôs vigorosamente aos governos autoritários que vigoraram nos anos 60, 70 e 80. A doutrina cristã também atraiu os coreanos, porém, essa pujança passava despercebida do mundo ocidental até 1984, quando João Paulo II visitou a Coreia do Sul pela primeira vez. Até então, o país-chave para a evangelização do Extremo Oriente era o Japão, mas lá o cristianismo não consegue crescer, com os católicos representando menos de 0,5% da população.
Na China e na Coreia do Norte comunistas, o problema é a perseguição estatal algo que os cristãos coreanos sofreram no século 19 (Francisco vai beatificar 124 mártires, assassinados entre 1791 e 1868).
Não se sabe se a visita de Francisco ajudará a impulsionar a Igreja fora da Coreia do Sul, mas a presença do papa é um reconhecimento ao país que, depois das Filipinas, tem o catolicismo mais vibrante da Ásia, continente cuja Igreja o próprio papa descreveu como "uma promessa".



