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Defesa da vida

Papa Francisco foi enfático na luta contra o aborto

Papa Francisco
O papa Francisco foi enfático na luta contra o aborto. (Foto: EFE/EPA/MAURIZIO BRAMBATTI)

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Desde sua eleição em 2013, o papa Francisco, que morreu na última segunda-feira (21), enfrentou inúmeras polêmicas por frases relacionadas a temas morais, mas manteve uma posição inequívoca e firme contra o aborto. O pontífice reafirmou diversas vezes que a vida deve ser protegida desde a concepção.

Em muitas ocasiões, Francisco se expressou de forma contundente sobre o assunto, chegando a classificar médicos que praticam aborto como "assassinos de aluguel" e comparando a prática à eugenia nazista​.

Já no primeiro ano de pontificado, em setembro de 2013, falando a ginecologistas e obstetras no Vaticano, ele afirmou que "cada criança não nascida, mas condenada injustamente a ser abortada, tem o rosto de Jesus Cristo". Na mesma ocasião, disse aos médicos que a vocação deles é cuidar "da vida humana na sua fase inicial" e que a vida é "sempre, em todas as suas fases e em todas as idades, sagrada".

Em 2018, durante uma reunião com membros de uma associação de famílias da Itália, o papa disse que o aborto é como uma "luva branca", que equivale "ao programa de eugenia da era nazista". "No século passado, o mundo inteiro ficou escandalizado com o que os nazistas fizeram para buscar a pureza racial. Hoje, fazemos a mesma coisa, mas com luvas brancas", afirmou.

Em uma viagem à Coreia do Sul, em agosto de 2014, ele visitou e rezou em um cemitério de fetos abortados​. Diante de cruzes que indicavam vidas interrompidas no ventre, o papa permaneceu alguns minutos em oração. Em 2018, no Dia de Finados, Francisco repetiu o gesto numa área periférica de Roma, orando em um jardim dedicado às crianças não nascidas​.

Em documentos oficiais e em seu posicionamento magisterial, papa condenou aborto de forma veemente

Em documentos oficiais de seu pontificado, Francisco também reiterou de forma explícita a oposição ao aborto. Na encíclica Laudato Si’ (2015), dedicada ao cuidado da criação e do meio ambiente, ele vinculou a ecologia à defesa dos nascituros.

"Uma vez que tudo está relacionado, também não é compatível a defesa da natureza com a justificação do aborto. Não parece viável um percurso educativo para acolher os seres frágeis que nos rodeiam e que, às vezes, são molestos e inoportunos, quando não se dá protecção a um embrião humano ainda que a sua chegada seja causa de incómodos e dificuldades: «Se se perde a sensibilidade pessoal e social ao acolhimento duma nova vida, definham também outras formas de acolhimento úteis à vida social»", afirmou Francisco, citando o papa Bento XVI.

Em 2016, o papa teve uma iniciativa pastoral inédita ao estender a todos os padres a faculdade de perdoar o pecado do aborto em confissão – algo até então reservado a bispos em muitos lugares. A medida, anunciada no contexto do Jubileu da Misericórdia, visava assegurar que nenhuma mulher arrependida ficasse sem absolvição por falta de um confessor autorizado, mas foi recebida por alguns críticos do papa como uma forma de minimizar a gravidade do ato.

Na carta apostólica Misericordia et misera, publicada em novembro daquele mesmo ano, Francisco foi explícito sobre o ensinamento da Igreja, mas explicou o motivo da decisão de facilitar a confissão. "Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai", escreveu.

Sobre a decisão de facilitar a absolvição em casos de aborto, ele voltou a falar em 2019, em um voo de volta de uma viagem ao Panamá. "O problema não é dar o perdão, mas acompanhar uma mulher que tomou consciência de que fez um aborto. São dramas terríveis. Uma mulher, quando pensa sobre o que fez… É necessário estar no confessionário, e ali é preciso dar consolo, e por isso concedi a todos os sacerdotes a faculdade de absolver o aborto, por misericórdia", disse. "Muitas vezes, quando eles choram e têm esta angústia, eu as aconselho da seguinte maneira: o seu filho está no Céu. Fale com ele, cante-lhe a canção de embalar que não lhe pôde cantar. E ali se encontra uma maneira de reconciliação da mãe com o filho. Com Deus, a reconciliação já existe, Deus perdoa sempre. Mas também ela deve elaborar o que aconteceu. O drama do aborto, para compreendê-lo bem, é preciso estar num confessionário. É terrível."

Em entrevistas e coletivas, papa Francisco confrontou insinuações abortistas

Em fevereiro de 2016, o papa Francisco foi contundente sobre o assunto durante uma coletiva de imprensa no voo de retorno do México a Roma. Um dos presentes questionou se a Igreja poderia aceitar o aborto como "mal menor" no caso de grávidas infectadas pelo vírus zika. O papa foi categórico em sua resposta: "O aborto não é um mal menor. É um crime. É eliminar uma pessoa para salvar outra. É aquilo que faz a máfia. É um crime, é um mal absoluto".

Francisco explicou ainda que "o aborto não é um problema teológico: é um problema humano, é um problema médico… É mal em si mesmo, não um mal religioso… é um mal humano. E, obviamente, uma vez que é um mal humano – como cada assassinato – é condenável."

Em outras entrevistas a meios de comunicação, Francisco reiterou a condenação do aborto. No início de 2021, em conversa com o canal italiano Canale 5, lamentou que tantas crianças sejam "descartadas" antes mesmo de nascer. "As crianças são descartadas, não sendo desejadas… Antes de nascer, são canceladas na vida", disse o papa, criticando a cultura que não acolhe os bebês quando apresentam alguma doença ou quando não são planejados​. Francisco observou ainda que "o problema da morte não é um problema religioso, mas humano, de ética humana", algo que "um ateu também deve resolver em consciência".

Em 15 de setembro de 2021, em viagem de retorno da Eslováquia, um jornalista perguntou ao papa sobre o "problema" do aborto e o "direito de escolha" da mulher. Francisco respondeu: "O aborto é mais do que um problema, o aborto é um homicídio"​. Invocando dados científicos, ele explicou que já na terceira semana de gestação o embrião tem todos os órgãos formados, com DNA próprio. "É uma vida humana… ponto final! E esta vida humana deve ser respeitada​", disse. "Sem meias palavras: quem faz um aborto, mata", acrescentou. O papa afirmou ainda que seria inconcebível a Igreja mudar nesse ponto, porque acolher o aborto seria "como aceitar um assassinato em série"​.

Papa chamou a atenção para "abortodutos" da pandemia da Covid-19

Durante a crise da Covid-19, em setembro de 2020, o papa criticou o uso da pandemia como subterfúgio para promoção do aborto. "Infelizmente, os países e as instituições internacionais estão também promovendo o aborto como um dos chamados 'serviços essenciais'", disse ele em mensagem à 75ª Assembleia Geral da ONU.

"É triste ver como se tornou simples e conveniente, para alguns, negar a existência da vida como solução para problemas que podem e devem ser resolvidos tanto para a mãe como para a criança não nascida", acrescentou, lamentando que se tentasse tratar o assassinato do bebê como parte do cuidado à saúde​.

No mesmo ano, seu próprio país natal, a Argentina, aprovou a legalização do aborto – e surgiu a crítica de que o Papa teria se omitido no debate. Na realidade, Francisco se manifestou alinhando-se claramente à defesa da vida, por meio de mensagens públicas e privadas.

Em e-mail à deputada pró-vida Victoria Morales Gorleri, destacou que o aborto não é apenas uma questão religiosa, mas de ética humana, e comparou a prática à contratação de um assassino de aluguel. Além disso, disse que estava agradecido "de coração" pela luta de mulheres argentinas contra o aborto.

Em carta à Conferência Episcopal, afirmou que tem reiterado essa posição desde o início de seu pontificado. "Uma última [carta] me indagava sobre o problema do aborto, e respondi da mesma forma como faço desde sempre", afirmou. "Acho engraçado quando alguém diz: ‘Por que o Papa não envia à Argentina sua opinião sobre o aborto?’ Eu a estou enviando a todo o mundo (inclusive à Argentina) desde que sou Papa", acrescentou. No dia da votação, publicou no Twitter uma mensagem que muitos interpretaram como referência direta ao tema, sublinhando o valor de toda vida humana, inclusive das mais frágeis.

A analogia do assassino de aluguel, usada na carta às mulheres, foi empregada com frequência pelo papa Francisco. Em outubro de 2018, numa audiência geral, ele questionou se seria correto "contratar um sicário" para eliminar um ser humano e afirmou que "não se pode… não é justo eliminar um ser humano, por mais pequenino que seja, para resolver um problema".

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