
Sanaa - "Papai, caímos na água. Ouvia pessoas falando perto de mim, mas não podia ver nada. Estava tudo escuro ao meu redor". Foi assim que Bahia Bakari, a adolescente de 14 anos e única sobrevivente entre as 153 pessoas que estavam a bordo do Airbus A310 da companhia aérea estatal do Iêmen (Yemenia) contou ao pai sobre o acidente e como esperou nas águas pelo resgate. A jovem passou 13 horas no mar da costa do arquipélago de Comores, a 300 km da costa oriental africana, sem saber nadar e sem colete salva-vidas.
O oficial que resgatou Bahia disse que a adolescente se agarrou a um pedaço do avião das 1h30 da madrugada até as 15h da terça-feira, quando fez sinais para um bote que passava e foi resgatada.
O homem disse que ela estava muito fraca para segurar à boia que foi jogada para a menina e que teve que se jogar na água para salvá-la. Internada em hospital nas ilhas Comores, Bahia quebrou uma clavícula e teve queimaduras em uma perna, mas se recupera bem. Ela está consciente, tem arranhões no rosto e curativos no cotovelo.
O pai, Kassim Bakari, falou com a filha por telefone depois do acidente. Em entrevista a uma rede francesa, o pai afirmou que a filha chorou bastante após o resgate e perguntou pela mãe. "Ela não sentiu nada e descobriu-se dentro dágua", disse à rádio RTL.
"Ela é uma garota muito tímida, eu nunca pensei que ela fosse escapar dessa maneira," disse Bakari, descrevendo a menina como "frágil".
Seu tio, Joseph Yousouf, contou que ela perguntou muito pela mãe, que não foi resgatada. Ele respondeu que ela estava se recuperando no quarto ao lado, por temer que ela ficasse nervosa.
"É um verdadeiro milagre. Ela é uma jovem corajosa", disse, no hospital, Alain Joyandet, ministro francês para cooperação internacional. "Ela demonstrou uma incrível força física e moral", disse ele.
Joyandet disse que a adolescente seria enviada para a França na noite de ontem para tratamento em um hospital de Paris. "Fisicamente, ela está fora de perigo, mas evidentemente ela está muito traumatizada", disse ele.
Nos próximos dias será montada uma operação com mergulhadores para procurar a caixa-preta. Joyandet ressaltou, no entanto, que não existe nenhuma garantia de que a baliza ainda esteja acoplada à caixa-preta ela pode ter se soltado com o impacto da queda da aeronave. "Hoje a prioridade é continuar a busca por corpos e destroços do avião. Nós iremos procurar a caixa-preta assim que possível, nos próximos dias."
O Exército francês chegou a anunciar ontem que um sinal havia sido detectado a partir dos escombros do avião, mas depois voltou atrás e afirmou tratar-se de um sinalizador.
Dos passageiros, 75 eram comorenses, 65 franceses, um canadense e um palestino.



