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Uma das prioridades da política externa americana é conseguir a extinção do arsenal de armas nucleares da Coreia do Norte. As negociações ganharam força a partir de junho, com a cúpula de Cingapura, entre Donald Trump e Kim Jong-il, o líder norte-coreano. O país asiático possui o menor conjunto de armas nucleares entre os nove que reconhecidamente tem: seriam entre 10 e 20, segundo o Stockholm Internacional Peace Research Institute (Sipri), um instituto sueco dedicado a pesquisas sobre o desarmamento. 

Um dos mentores do programa de armas nucleares norte-coreano foi o Paquistão. A troca de conhecimentos militares entre os dois países ganhou força a partir dos anos 90, quando a Coreia do Norte transferiu tecnologia para o Paquistão iniciar rapidamente o desenvolvimento de seu programa de misseis. 

“Como compensação, os paquistaneses forneceram conhecimento para a fabricação de armas nucleares à Coreia do Norte”, diz Claude Rakisits, da consultoria Geopolitical Assessments e professor associado honorário da Universidade Deakin (Austrália). 

Mas, apesar de o número de armas nucleares no mundo ter tido uma pequena queda em 2017, segundo o instituto sueco, passando de 14,9 mil, no início daquele ano, para 14,6 mil, no início de 2018, as evidências que o Paquistão está aumentando seu arsenal nuclear são grandes. 

Os pesquisadores Shannon Kile e Hans Kirtensen, do instituto sueco, destacaram em um relatório publicado em junho que: 

O Paquistão continua a priorizar o desenvolvimento e a implantação de novas armas nucleares como parte de sua ‘postura de dissuasão de espectro total’ em relação à Índia. Estima-se que o Paquistão possuía ente 140 e 150 ogivas em janeiro de 2018. O arsenal de armas nucleares do Paquistão deverá expandir-se significativamente na próxima década, embora as estimativas do aumento do número de ogivas variem consideravelmente.

Aparentemente, segundo Rakisits, o arsenal paquistanês está seguro. E, no entendimento dele, os americanos também consideram isto. “Esperamos que estejam certos.” 

Mas, a situação não é cômoda: o Paquistão é vizinho de uma outra potencia nuclear, a Índia, com a qual não tem um bom relacionamento; enfrenta problemas de extremismo religioso, principalmente na fronteira com o Afeganistão; e tem uma relativa instabilidade política, apesar de ter realizado eleições recentemente, nas quais Imram Khan, um ex-jogador de críquete, foi levado ao cargo de primeiro-ministro. 

O professor e consultor australiano considera que, diante desse quadro, é possível considerar que o arsenal paquistanês oferece maiores riscos do que o norte-coreano. 

As tensas relações com a Índia 

Índia e Paquistão não tem um bom relacionamento desde que se tornaram independentes, em 1947. Em quatro oportunidades – 1947, 1965, 1971 e 1999 -, as forças armadas dos dois países chegaram a se enfrentar. O maior ponto de tensão está ao Norte dos dois países, que disputam a região da Cachemira. 

A Índia começou a desenvolver o programa de armas nucleares em nos anos 70. E o Paquistão, em 1998. A finalidade paquistanesa é clara, aponta Rakisits: usar como mecanismo de contenção contra a Índia.

“O Paquistão deixou claro que usaria armas nucleares táticas contra qualquer invasão indiana em grande escala através da fronteira, mesmo que isso significasse que a maioria das pessoas mortas seria paquistanesa.” 

Uma maior aproximação com a Índia é mal vista pelos militares, que tem grande influência na política paquistanesa. O professor e consultor australiano destaca: 

Temas como política externa, segurança e defesa estão no domínio militar e de mais ninguém. Por uma questão de cortesia, os generais podem consultar o primeiro-ministro sobre estes assuntos, o que inclui tudo o que relacionado com as armas nucleares. Mas, no final das contas, os generais controlam todos estes assuntos.

O ex-primeiro ministro Nawaz Shariff tentou uma reaproximação com a Índia, a partir de 2013, mas foi pressionado a não continuá-la. Atualmente, ele está na prisão, cumprindo uma sentença de 10 anos, por envolvimento em um escândalo de corrupção. 

Extremismo religioso 

O Paquistão tem sérios problemas com extremismo religioso e compartilha uma fronteira com o Afeganistão, que é dominado pelos talibãs e, por muito tempo, serviu de base para Osama bin Laden e seu grupo terrorista, a Al Qaeda. Bases militares e tropas são, constantemente, alvo de ataques. 

Isto desperta um sinal de alerta. “Embora a segurança do arsenal esteja nas mãos de pessoas que foram minuciosamente investigadas, elas podem se radicalizar e mudar de lado. Várias bases militares foram atacadas no passado e há uma sensação de que estas operações foram facilitadas por ajuda que veio de dentro”, diz Rakisits.

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