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Nicolas Maduro com uma pilha de barras de ouro durante uma coletiva de imprensa em Caracas, Venezuela, em 22 de março de 2018 | Carlos Becerra/Bloomberg
Nicolas Maduro com uma pilha de barras de ouro durante uma coletiva de imprensa em Caracas, Venezuela, em 22 de março de 2018| Foto: Carlos Becerra/Bloomberg

A Venezuela é a casa de ricos depósitos de ouro e detém bilhões de dólares de reservas internacionais em barras de ouro nos cofres do banco central, mas uma pergunta persiste: quanto está guardado lá? 

A resposta assumiu um significado adicional à medida que o ditador Nicolás Maduro enfrenta pressão crescente para abandonar o poder. Na semana passada, países como os EUA e o Reino Unido reconheceram o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, como presidente legítimo da Venezuela, em meio a protestos em massa. Na segunda-feira (28), o governo dos Estados Unidos emitiu novas sanções que efetivamente bloqueiam as exportações de petróleo bruto para os EUA, de onde a Venezuela recebe a maior parte do seu dinheiro. 

Embora o petróleo bruto seja de longe a maior exportação da Venezuela, o petróleo refinado e o ouro constituem fontes significativas de receita, de acordo com dados compilados pelo Observatório da Complexidade Econômica do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Mas tanto as reservas de ouro do país quanto a mineração caíram nos últimos anos, enquanto o regime de Maduro usava o metal amarelo para fortalecer a moeda local em transações internacionais – e até trocá-lo por comida e remédios. 

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As reservas estrangeiras da Venezuela – 76% das quais são em ouro, segundo o World Gold Council – caíram 69%, chegando em US$ 8,4 bilhões, desde que Maduro chegou ao poder em abril de 2013, após a morte de Hugo Chávez, segundo dados do banco central. Sem relatórios nacionais detalhados ou confiáveis, é difícil saber para onde esse ouro está indo. 

A Venezuela exportava ouro para a Suíça, mas não o fez nos últimos dois anos, segundo o sócio-gerente da Caracas Capital Markets, Russ Dallen, citando dados do comércio suíço. Dallen, que acompanha investimentos e ouro na Venezuela há quase três décadas, diz que o regime de Maduro exportou pouco mais de US$ 2 bilhões em ouro nos últimos dois anos – US$ 1,1 bilhão para os Emirados Árabes Unidos em dezembro de 2017 e US$ 901 milhões para a Turquia nos primeiros 10 meses de 2018. 

Outras transações continuam sendo um mistério. As reservas de ouro da Venezuela caíram para US$ 5,45 bilhões em novembro do ano passado, ante US$ 6,12 bilhões no mês anterior, e os US$ 700 milhões que faltam não foram comercializados para a Suíça ou a Turquia, disse Dallen. Se o ouro veio das posses existentes do banco central, ou se foi nova saída das minas do país, é outra questão não respondida. 

"Achamos que a maior parte do que entrou na Turquia no ano passado veio das operações de mineração", disse Dallen. "Mas é difícil para nós sabermos". 

O Banco da Inglaterra detém cerca de US$ 1,2 bilhão em ouro para a Venezuela; o regime de Maduro tem tentado recuperar esse ouro há semanas, mas não está claro quanto ouro ainda pode estar no país latino-americano rico em recursos.  

Observadores independentes não conseguem acessar o cofre do banco central há anos. O último funcionário não-governamental a ver fisicamente as reservas é Francisco Rodriguez, atual economista-chefe da Torino Capital. Em 2014, ele deu uma olhada nas reservas e disse que viu os estimados US$ 15 bilhões em barras de ouro – que se encaixam em "cinco pequenas células que nem estavam cheias no topo". 

Avião misterioso

Na terça-feira, um tuíte do parlamentar venezuelano José Guerra desencadeou especulação e indignação nas redes sociais. Um Boeing 777 russo havia desembarcado em Caracas no dia anterior para retirar 20 toneladas de ouro dos cofres do banco central, disse Guerra, sem fornecer qualquer prova. Separadamente, uma pessoa com conhecimento direto do assunto disse à Bloomberg News que 20 toneladas de ouro foram reservadas no banco central para serem carregadas. Com valor de US$ 840 milhões, o ouro representa cerca de 20% das reservas do metal na Venezuela, segundo esta fonte. 

Na quinta-feira (31), após a publicação desta reportagem, uma fonte ouvida pela agência de notícias Reuters informou que o Banco Central da Venezuela vai vender 15 toneladas de ouro para os Emirados Árabes Unidos, que serão trocadas por euros para que o país tente se manter financeiramente solvente e importar bens básicos. Um primeiro envio, de 3 toneladas de ouro, já foi feito em 26 de janeiro. Há planos, segundo a fonte, de vender até 29 toneladas de ouro ao país até fevereiro.

Quanto à extração de ouro, a vibrante atividade de exploração do país despencou depois que Chávez chegou ao poder em 1999 e nacionalizou as licenças e os ativos de mineração das empresas estrangeiras. Enquanto a extração de ouro aumentou 76% de 1999 a 2005, ela cresceu apenas 3% de 2006 a 2011, de acordo com o Serviço Geológico dos EUA, que parou de receber dados oficiais da produção venezuelana em 2004. 

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O último relatório do World Gold Council diz que a exploração de ouro na Venezuela vem caindo desde 2011, quando o país produziu 25,5 toneladas. Em 2017, o Conselho apontou um rendimento de 23 toneladas. Muito do ouro é extraído na região do Arco Minero del Orinoco, um trecho da floresta que se estende por 180 mil quilômetros quadrados, da Colômbia até a Guiana. 

Maduro afirma que a área possui até 8 mil toneladas de ouro, o que a tornaria um dos maiores depósitos do mundo. A região produziu 8,5 toneladas em 2017, disse o governo em abril. A produção é controlada pelo exército, mas o ouro é extraído em minas artesanais em condições muito precárias. A principal cidade da região, El Callao, foi classificada como o município mais violento do país em 2017.

Futuro do país

No caso de uma mudança de regime, qualquer que seja o ouro na posse do banco central será importante porque pode ser usado como garantia para os empréstimos que o país precisará para reconstruir sua economia, disse Oren Barack, diretor-gerente de renda fixa da AGP. Parceiros Globais da Aliança. 

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Mas para a Venezuela, os recursos que já foram extraídos podem importar menos do que o que ainda está intocado, disse Dallen. 

"Mesmo se o cofre estivesse vazio, as reservas de petróleo, ouro e gás natural permanecerão no solo", diz ele. "É com isso que os detentores de títulos e o FMI estão contando para o futuro".

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