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Vista aérea da Praça de São Pedro quando João Paulo II foi beatificado em maio de 2011 | Massimo Sestini/Reuters
Vista aérea da Praça de São Pedro quando João Paulo II foi beatificado em maio de 2011| Foto: Massimo Sestini/Reuters

Terremoto

Muitos esperavam que o monsenhor Angelo Giuseppe Roncalli fosse um papa "de transição". Contra todas as previsões, João XXIII causou um "terremoto positivo" na igreja, nas palavras do jornalista Georges Suffert, e anunciou em janeiro de 1959 o Concílio Vaticano II, evento sem precedentes na história da instituição.

Longe

Em 1978, o papa João Paulo II se tornou o primeiro papa não italiano depois de 400 anos. Ele era da Polônia, um lugar "muito distante". Com o seu pontificado, de inegável influência na história da Igreja, quebrou a hegemonia dos latinos e mostrou que a origem não era necessária para governar com mão firme a Santa Sé.

Vácuo

Por mais importante que tenha sido a figura de João XXIII para a história eclesiástica, ninguém duvida que a maioria absoluta dos presentes na Praça de São Pedro no próximo domingo será formada por "fãs" de João Paulo II. Mesmo assim, muitos italianos têm devoção ao papa italiano, pelo seu perfil bonachão e simpático.

Papa João Paulo II

• Batizado Karol Józef Wojtyla, nasceu em 18 de maio de 1920, em Wadowice, Polônia.

• Foi eleito Sumo Pontífice em 16 de outubro de 1978, sendo o 263º sucessor do Apóstolo Pedro. Seu pontificado durou 27 anos – o terceiro mais longo da história, atrás de Pio IX, que reinou por 31 anos, e de São Pedro, que ficou à frente da Igreja Católica por 37 anos.

• Foi um papa bastante ativo, realizou 104 viagens para fora da Itália e 146 pelo interior do país.

• Sob o lema papal "Totus tuus" (Todo teu), João Paulo II escreveu 14 Encíclicas, 15 Exortações apostólicas, 11 Constituições apostólicas e 45 Cartas apostólicas. Também celebrou 147 beatificações, nas quais foram proclamados 1338 beatos, e 51 cerimônias de canonização, nomeando 482 santos.

• Morreu em 2 de abril de 2005.

Papa João XXIII

• Nascido em 25 de novembro de 1881, em Sotto Il Monte, província de Bérgamo, na Itália.

• Angelo Giuseppe foi o quarto de 13 irmãos de uma família de camponeses. Sua formação religiosa começou no ambiente familiar, cuja vida paroquial era bastante intensa. Foi eleito papa em 28 de outubro de 1958, sucedendo Pio XII.

• João XXIII possuía uma personalidade simples e cordial, e a imagem de bom pastor marcou seu pontificado – era chamado de "papa da bondade".

• Apesar de seu pontificado ter durado menos de cinco anos, João XXIII iniciou uma grande renovação na Igreja ao convocar o Sínodo romano, instituir uma comissão para a revisão do Código de Direito Canônico e, principalmente, ao convocar o Concílio Vaticano II.

• Morreu em 3 de junho de 1963.

Para convencer os outros de uma ideia, nada mais eficiente que exemplos bem concretos. Desde o século 1º, a Igreja escolheu personalidades exemplares – pelas virtudes, pela fidelidade aos ensinamentos da doutrina, etc. – e os "santificou", deu a palavra de que essas pessoas foram felizes fazendo o bem – "beatos" – e alcançaram um lugar bom no Céu.

Por possuírem mais méritos, teriam mais credibilidade de convencer Deus a alcançar graças para os pecadores que ainda tentam fazer pontos aqui na Terra.

Mas não é fácil alcançar este status dentro da Igreja, como ocorrerá com os papas João XXIII e João Paulo II no próximo domingo. O processo de canonização de um candidato passa por várias etapas. A responsabilidade de analisar a vida do candidato é da Congregação para as Causas dos Santos e, após anos de estudos, entrevistas com quem o conheceu e a certificação de milagres, o possível santo necessita da aprovação final do papa para assim ser considerado solenemente.

As normas para a instrução das causas de canonização foram alteradas pela última vez por João Paulo II, na Constituição Apostólica Divinus Perfectionis Magister. O caminho rumo à santificação começa com o surgimento de uma autêntica fama de santidade. Reconhecido o clamor popular sobre o candidato à santificação, passa-se à coleta de testemunhos, de obras realizadas e de provas documentais das ações dele junto à comunidade em nome de Deus. Para ser beatificado, é necessário atestar a existência de um milagre conseguido de Deus pela intercessão do santo. Para a canonização, deve ser reconhecido um segundo milagre.

Todas essas informações são então submetidas a um longo e minucioso processo de avaliação e verificação dos fatos que envolvem os membros da Congregação para as Causas dos Santos, médicos e psicólogos. Essa é a etapa mais importante e mais demorada – São José de Anchieta, por exemplo, foi canonizado em fevereiro deste ano após enfrentar um processo de canonização de mais de 400 anos – e acabou sendo polêmico porque, no final, o papa Francisco não exigiu a confirmação de mais um milagre.

No imaginário coletivo, santo é uma pessoa cuja vida foi inteiramente dedicada à Obra de Deus, seja por meio da reclusão ou da absoluta abnegação. São homens e mulheres cujas vidas inspiram a fé, a virtude e a caridade.

No entanto, do ponto de vista teológico, ser santo é uma possibilidade para todos os fiéis. O Padre Márcio Fernandes, da Igreja Coração de Maria e professor de Teologia Dogmática no Sthudium Theologicum de Curitiba, explica que são considerados santos todos os homens e mulheres verdadeiros, capazes de realizar algo pela sociedade em que vivem.

Vaticano cria plano de guerra para atender 7 milhões de peregrinos

Denise Drechsel

A canonização dos dois papas no próximo domingo promete ser um teste de organização e paciência para as autoridades e os cidadãos romanos, já acostumados a receber milhares de pessoas na cidade, mas não tantas assim: são esperadas 7 milhões de pessoas, segundo cálculos feitos pela Prefeitura de Roma a partir da ocupação confirmada em hotéis e alojamentos no município e região.

Um volume tão grande de peregrinos na cidade só foi visto em 2005, no funeral de João Paulo II, quando se estimou a circulação de 3 milhões de peregrinos na cidade eterna.

No dia 1º de abril, além de acalmar a população preocupada com o caos – nas redes sociais não faltam sugestões do que fazer para fugir da cidade nesses dias –, o prefeito Ignazio Marino anunciou um plano especial feito em parceria com agentes de segurança, empresas, postos de saúde e voluntários.

No dia da cerimônia, por exemplo, serão distribuídas 4 milhões de garrafas de água e instalados quase mil banheiros químicos. A polícia contará com 6,4 mil agentes além de outros, de número não confirmado, infiltrados em pontos estratégicos com trajes civis. No total, o evento terá também 2,6 mil voluntários.

Além disso, para garantir o transporte das pessoas na cidade, ônibus, trens e "tranvias" funcionarão em horários especiais nos dias 26 e 27 de abril. Para melhorar ainda a mobilidade urbana, em algumas ruas, como a tradicional Via dei Fori Imperiali, que liga a Piazza Venezia ao Coliseu, será proibida a circulação de veículos.

Mas, mesmo com tanta confusão, não é preciso ter pena dos italianos. De acordo com a Confcommercio, confederação que reúne os comerciantes italianos, acredita-se que os peregrinos deixarão pelo menos 230 milhões de euros na cidade, em hotéis, restaurantes e lojas, principalmente nas de distribuição de produtos religiosos. Nada mau para um país ainda em crise econômica.

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