
O Paraguai se transformou em território de risco para os agricultores brasileiros. Ter uma propriedade produtiva e titulada não é sinônimo de vida tranqüila e com garantias constitucionais, nem mesmo para pequenos produtores. Os imigrantes brasileiros vivem uma era de incertezas desde que o presidente Fernando Lugo foi eleito: terras são invadidas e plantações queimadas. Os casos se espalham de Norte a Sul e criam um clima de instabilidade no país. Pelo menos cem fazendas produtivas estão ocupadas atualmente, segundo a Associação dos Produtores de Soja do Paraguai.
Nas últimas semanas, a Embaixada do Brasil em Assunção e os consulados brasileiros no Paraguai receberam diversos pedidos de ajuda de brasileiros que têm áreas invadidas. O Itamaraty já foi comunicado, mas o conflito persiste.
A situação ficou mais tensa para o lado dos brasileiros depois da posse de Lugo, em 15 de agosto. Durante campanha, o presidente prometeu fazer uma reforma agrária e agora os sem-terra cobram seus direitos. As áreas mais conflituosas situam-se nos estados de Caagazú, San Pedro, Itapuá e Alto Paraná, onde vive a maior parte dos imigrantes brasileiros.
O governo paraguaio insiste em afirmar que dá garantias à propriedade privada e acusa vândalos de serem responsáveis pelas invasões. A Mesa Coordenadora Nacional de Organização Campesina (MCNOC), principal agremiação campesina do país, garante que não é responsável pela onda de invasões porque está dialogando com o Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural e da Terra (Indert) para promover uma reforma agrária de caráter patriótico e assentamentos com modelos produtivos. O líder do MCNOC, Luiz Aguayo, diz que o grupo não vem ocupando terras, embora mantenha 80 acampamentos em frente às propriedades. "Não há ocupações novas, apenas antigas." Para Aguayo, boa parte das invasões atuais é incentivada por políticos do Partido Colorado, que deixou o poder depois de 61 anos com a vitória do presidente Fernando Lugo. "Eles pretendem desestabilizar o país." O próprio governo admite que há grupos arregimentando desempregados para formar fileiras de falsos "sem-terra".
Em Mariscal Solano López, situada no estado de Caagazú, a 80 quilômetros da fronteira com Foz do Iguaçu, a hipótese mais forte é essa. Conhecida pelo clima pacato, a colônia com predomínio de imigrantes brasileiros, os chamados brasiguaios, ganhou ares de guerra nos últimos dois meses, depois que um grupo de 150 supostos campesinos montou acampamentos em 13 propriedades. Liderados por um advogado que acabou sendo preso, os sem-terra impediam os brasileiros de plantar.
Na última quinta-feira, policiais retiraram os campesinos das propriedades, mas as marcas da destruição ficaram. A maior delas na propriedade de Divaldo Rodrigues Santos, 29 anos. Lá foram queimados 10 hectares de trigo plantados por Santos, filho de brasileiros, mas nascido no Paraguai. Ele arrendou 25 hectares de terra para plantar trigo e, mesmo sendo um pequeno produtor, teve os direitos violados. "Perdi 15 mil quilos de trigo, o que ficou é para pagar as dívidas", diz.
A presidente da Associação de Produtores de Soja e Oleaginosas do Paraguai, Claudia Ruser, denunciou os abusos cometidos por sem-terras, que também atingem agricultores paraguaios, no Senado, Câmara dos Deputados e Corte de Justiça. Claudia diz que se o governo não agir rápido vai haver uma crise de segurança e econômica no país.



