
Londres - Se você acha que eles estão lá fora, à espreita, você não está sozinho. Antes atribuída apenas a esquizofrênicos, a paranóia pode ser mais comum do que antes se imaginava.
De acordo com o psicólogo britânico Daniel Freeman, aproximadamente um em cada quatro londrinos têm pensamentos paranóicos com regularidade. Freeman é especialista em paranóia do Instituto de Psiquiatria do Kings College e autor de um livro sobre o assunto.
Especialistas revelam que há uma grande variedade de paranóias, desde as perigosas ilusões patológicas que levam os esquizofrênicos à violência até os temores irracionais do cotidiano de muitas pessoas, diariamente.
"Nós estamos agora começando a descobrir que a loucura é humana e que nós precisamos olhar para as pessoas normais para entendê-la", afirmou o médico Jim van Os, professor de Psiquiatria da Universidade Maastricht, na Holanda. Van Os não está envolvido nos estudos de Freeman.
A paranóia é definida como um medo exagerado e infundado que outras pessoas estão tentando ferir você. Isso inclui pensamentos sobre outras pessoas tentando chatear ou incomodar você, por exemplo, ao encarar, dar risada ou fazer gestos pouco amigáveis.
Pesquisas com milhares de pessoas na Grã-Bretanha, nos EUA e em outros lugares mostram que os níveis de paranóia estão crescendo um pouco. Isso apesar de as estimativas das pesquisas sobre quantas pessoas têm paranóia variarem bastante, entre 5% e 50%.
Um estudo britânico com mais de 8.500 adultos apontou que 21% deles pensam que houve ocasiões em que outras pessoas agiam contra elas. Outra pesquisa, com 10 mil adultos em Nova Iorque, concluiu que quase 11% acham que alguém os está seguindo ou espionando.
Dennis Combs, um professor-assistente de Psicologia na Universidade do Texas, em Tyler, estuda a paranóia há uma década. Quando ele começou a concluir seus estudos, a maioria com universitários, ele mostrou que 5% deles tinham pensamentos paranóicos. Nos últimos anos, o índice pulou para 15%, afirmou.
Metrô
Em um pequeno experimento em Londres, Freeman concluiu que um quarto das pessoas se dirigindo ao metrô na capital provavelmente têm pensamentos regulares que qualificam-se como paranóia. No estudo, 200 pessoas selecionadas ao acaso (as com histórico de problemas mentais eram excluídas) participaram de uma simulação para ir até o trem. Eles relataram suas reações diante de passageiros virtuais programados para serem neutros.
Mais de 40% dos participantes do estudo tiveram pelo menos um pensamento paranóico. Alguns se sentiram intimidados pelos passageiros virtuais, alegando que eles pareciam agressivos, fizeram gestos obscenos ou tentaram começar uma briga.
Freeman afirma que, em grandes cidades, muitos eventos ambíguos podem levar a pensamentos paranóicos. Por constantemente fazermos julgamentos rápidos, baseados em informação limitada, como que rua tomar ou se alguém é ou não perigoso, o processo de decisão está propenso a erros.
Van Os afirma que o experimento com realidade virtual de Freeman é consistente e confirmou pesquisas anteriores. Os especialistas dizem que nem todos com pensamentos paranóicos precisam de ajuda profissional. Tudo depende de quão perturbadores os pensamentos são, e se eles atrapalham a vida da pessoa. "As pessoas andam por aí com pensamentos estranhos a toda hora", disse David Penn, professor de psicologia na Universidade da Carolina do Norte. "A questão é se isso se transforma em um comportamento real."
Van Os se recorda de uma paciente convencida de que o cantor francês Charles Aznavour estava apaixonado por ela. Segunda a paciente, o cantor sussurrava para ela toda noite, por mais de duas décadas. "Você poderia qualificar isso como uma experiência psicótica, mas ela estava muito feliz com isso", aponta o pesquisador. "Não existe sempre a necessidade de cuidados quando há um caso de psicose."
Ele espera que o fato de se identificar mais cedo sintomas mais leves nas pessoas possa ajudar as pessoas a evitar casos mais sérios.
A atmosfera do pós-11 de Setembro e a guerra ao terror também aumentaram os níveis de paranóia no Ocidente, apontam os especialistas. "Nós somos bombardeados com informação sobre nosso status de alerta e nos dizem para relatar pessoas que parecerem suspeitas", apontou Penn. "Isso leva as pessoas a serem mais paranóicas."
Eventos traumáticos podem tornar as pessoas mais vulneráveis a pensamentos paranóicos. Desde os ataques, Penn disse que os americanos têm se mostrado mais vigilantes sobre qualquer coisa fora do comum.
Ainda que a atenção aumentada possa ser uma coisa boa, Peen disse que isso também pode levar a falsas acusações e a uma atmosfera onde os não familiares são vistos negativamente.
Isso pode resultar em isolamento social, hostilidade e até mesmo em crimes. E pode também prejudicar a saúde física. Mais paranóia significa mais estresse, um bem conhecido fator de risco para problemas no coração e enfartes.
Ainda assim, os especialistas dizem que um pouco de paranóia pode ser útil.



