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Caso Abin

Peña critica espionagem do Brasil e relembra Guerra do Paraguai: “Sentimentos de ódio ainda existem”

Peña critica espionagem do Brasil e relembra Guerra do Paraguai: “Sentimentos de ódio ainda existem”
O presidente do Paraguai, Santiago Peña (Foto: EFE/ Juan Pablo Pino)

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O presidente do Paraguai, Santiago Peña, falou nesta sexta-feira (4) sobre o caso de espionagem da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contra autoridades de seu país durante as negociações tarifárias da energia de Itaipu. Segundo o mandatário, este episódio serviu para reviver “velhas feridas” da Guerra da Tríplice Aliança e revelou que “sentimentos de ódio” contra o Paraguai ainda persistem na região.

“Em um momento de nossa história, tivemos que enfrentar uma guerra de extermínio, como foi a guerra da Tríplice Aliança, com três irmãos, Uruguai, Argentina e Brasil, mas principalmente liderada pelo Brasil”, declarou Peña à rádio argentina Mitre. O presidente apontou que seu governo encara a revelação com “tremenda preocupação” e classificou o episódio como uma “notícia bastante desagradável”.

“Recebemos ciberataques da China e os Estados Unidos estão nos ajudando, mas jamais imaginamos ser vítimas de espionagem por parte de nossos irmãos do Brasil”, disse Peña, evidenciando o impacto da denúncia no relacionamento diplomático entre os países. “Esse episódio infelizmente abre essas velhas feridas”, lamentou. Segundo Peña, seu país busca neste momento deixar para trás “essa história de ódio, de ressentimento, que veio principalmente de fora para o Paraguai”, mas a realidade mostra que “ainda existem esses sentimentos”.

“Queremos propor uma relação de amizade, de parceiros, de amigos, que nos permita realmente construir um Mercosul mais forte”, reforçou Peña.

A revelação do esquema de espionagem gerou forte reação em Assunção. O governo paraguaio chamou nesta semana seu embaixador em Brasília para consultas, entregou uma nota formal de protesto à embaixada do Brasil e anunciou a suspensão temporária das negociações sobre Itaipu.

O caso veio à tona após reportagem do portal UOL revelar que a Abin montou uma operação de espionagem para monitorar autoridades paraguaias e obter informações privilegiadas sobre a posição do país vizinho nas tratativas sobre Itaipu. O Brasil admitiu nesta semana a existência da operação, iniciada em 2022, ainda durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, contudo, garantiu que ela foi encerrada em março de 2023, já sob a atual gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De acordo com o UOL, a Abin utilizou um software chamado Cobalt Strike para realizar ataques cibernéticos a partir de servidores no Chile e no Panamá. Um funcionário da agência revelou à Polícia Federal que os espiões brasileiros conseguiram invadir computadores de ao menos cinco ou seis servidores paraguaios e colher dados estratégicos sobre os valores propostos por Assunção nas negociações e sua posição sobre o Anexo C do tratado de Itaipu, que obriga o Paraguai a vender ao Brasil o excedente de energia a preços preferenciais.

O caso ganhou ainda mais relevância em meio ao avanço das tratativas bilaterais para atualizar o chamado Anexo C do Tratado de Itaipu, que estabelece as bases financeiras e as condições para a comercialização da energia gerada pela usina hidrelétrica. Em março, os dois países anunciaram que o Brasil pagará, pelos próximos três anos, US$ 19,28 por quilowatt-mês pela energia excedente paraguaia — um aumento de US$ 2,50 em relação ao valor anterior. Também foi firmado um instrumento de entendimento para que o Paraguai possa vender livremente sua parte da energia ao mercado brasileiro, regulado ou não. O acordo final estava previsto para ser assinado em 30 de maio, antes das negociações sobre o tema serem suspensas.

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