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A Gazeta do Povo publica, com exclusividade no Brasil, o perfil do cardeal Angelo Bagnasco preparado pelos vaticanistas Diane Montagna e Edward Pentin, autores do projeto The College of Cardinals Report. Jornalistas com décadas de experiência na cobertura do Vaticano, Montagna e Pentin escreveram perfis de todos os cardeais apontados como principais candidatos a suceder Francisco no comando da Igreja Católica, com informações biográficas e suas posições sobre temas em debate dentro da Igreja.
Nascido durante a Segunda Guerra Mundial e criado em Gênova, Itália, o cardeal Angelo Bagnasco sentiu-se atraído pelo sacerdócio ainda jovem, quando era coroinha; essa experiência mais tarde lhe seria útil em sua ampla atuação pastoral.
Sua família era da classe trabalhadora e desejava que ele se tornasse contador. Angelo, no entanto, queria ser padre, e seu pároco ajudou seus pais a aceitarem sua vocação. O cardeal Giuseppe Siri, que chegou a ser considerado candidato ao papado, ordenou Bagnasco como sacerdote em 29 de junho de 1966, menos de um ano após o encerramento do Concílio Vaticano II. Em vez de seguir um caminho burocrático dentro da Igreja, Siri garantiu que Bagnasco estivesse próximo do povo da diocese, com foco no ministério voltado para a juventude.
Por mais de 20 anos, Bagnasco atuou como vigário paroquial em Gênova, sendo que durante dez desses anos também lecionou em um seminário. Durante muito tempo, trabalhou com estudantes universitários e do ensino médio, incluindo os escoteiros, auxiliando em suas necessidades pastorais. Mais tarde, continuou desempenhando funções semelhantes ao dirigir o escritório catequético da Diocese de Gênova.
Em 1998, recebeu a sagração episcopal pelas mãos do arcebispo Dionigi Tettamanzi. Bagnasco adquiriu um conhecimento aprofundado da Itália graças à sua nomeação singular como arcebispo do Ordinariato Militar da Itália em 2003, cargo que ocupou até ser transferido para Gênova como arcebispo em 2006. Além disso, foi nomeado pelo papa Bento XVI como presidente da Conferência Episcopal Italiana, posição que ocupou por uma década, de 2007 a 2017.
O cardeal Bagnasco é amplamente respeitado como um homem de inteligência aguçada, alta cultura, profunda compaixão e intensa espiritualidade
O amplo respeito que conquistou entre seus colegas bispos ficou evidente quando foi eleito presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa, que liderou de 2016 até 2021.
O papa Francisco aceitou a renúncia do cardeal Bagnasco ao cargo de arcebispo de Gênova em maio de 2020, quando ele tinha 77 anos.
O cardeal Bagnasco é amplamente respeitado como um homem de inteligência aguçada, alta cultura, profunda compaixão e intensa espiritualidade – e alguém capaz de combinar essas qualidades com afabilidade e uma personalidade gentil.
Fervoroso defensor da doutrina ortodoxa da Igreja no espaço público, ao estilo de João Paulo II e Bento XVI, Bagnasco, como presidente da Conferência Episcopal Italiana, lutou arduamente pela fé e pela doutrina moral da Igreja na arena política, chegando a precisar de seguranças para sua proteção pessoal.
Para Bagnasco, testemunhar publicamente os valores cristãos, incluindo a defesa da vida humana desde a concepção até a morte natural, é um dever cristão, o que lhe conferiu uma voz profética em uma cultura na qual a maioria dos líderes eclesiásticos permaneceu em silêncio. “Se a fé não se tornar um juízo sobre o homem, a sociedade e a história”, disse ele em junho de 2024, “ela nega a si mesma”.
O cardeal Bagnasco sempre defendeu a Humanae vitae e, em 2014, se opôs à “proposta Kasper”, que permitiria a comunhão para divorciados “recasados” em alguns casos, embora não tenha manifestado publicamente apoio às dubia. Ele se posicionou fortemente contra as uniões civis homossexuais, mas, no fim de seu tempo como arcebispo de Gênova, sua abordagem sobre questões homossexuais de modo geral tornou-se menos clara.
De temperamento moderado, confiável, corajoso e discreto, Angelo Bagnasco continua sendo visto como um possível papa apesar de não poder mais votar no conclave
Ele rejeita o universalismo, é contra o fim do celibato sacerdotal obrigatório e a ordenação de mulheres como diaconisas, e tem se manifestado contra a perseguição aos cristãos. Há muito tempo defende as raízes cristãs da Europa e frequentemente abordou a crise de abusos clericais, pedindo o fim dos encobrimentos. Também pediu mais transparência nas finanças da Igreja.
O cardeal Bagnasco sempre destacou a importância da Eucaristia e da liturgia, e é um defensor da preservação da missa tridentina.
Embora esteja oficialmente aposentado, em 2021 o Vaticano o retirou da aposentadoria para investigar alegações de abuso contra um importante bispo polonês.
Ele também continua a se pronunciar sobre questões que considera importantes para os tempos atuais. Assim como os papas João Paulo II e Bento XVI, preocupa-se especialmente com o esquecimento das raízes cristãs da Europa. Para ele, Cristo e a Eucaristia são essenciais para a resolução dos muitos problemas da Europa e do Ocidente, e ele não hesita em afirmar isso.
De temperamento moderado, confiável, corajoso e discreto, Angelo Bagnasco continua sendo visto como um possível papa, caso os cardeais eleitores desejem que o papado retorne a um ocupante italiano tradicional e prefiram um conservador confiável após as divisões internas da Igreja nos anos do pontificado de Francisco.
Além do italiano, o cardeal Bagnasco não é listado como proficiente em nenhum outro idioma.
O que o cardeal Angelo Bagnasco pensa sobre...
Ordenação de diaconisas: É contra. O cardeal Bagnasco sustenta o ensinamento da Igreja de que somente os homens podem receber a Ordem Sagrada.
Bênção para casais do mesmo sexo: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Bagnasco sobre o assunto.
Tornar opcional o celibato para os padres: É contra. O cardeal Angelo Bagnasco é firmemente favorável à disciplina do celibato sacerdotal.
Restrições à missa tridentina: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Bagnasco sobre o assunto.
Acordos secretos entre China e Vaticano: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Bagnasco sobre o assunto.
Promover uma “Igreja sinodal”: É ambíguo. O cardeal Angelo Bagnasco não se manifestou nem a favor nem contra uma Igreja sinodal, mas abordou a Eucaristia e a comunhão em uma reunião sobre Eucaristia e Sinodalidade em 2021.
Foco nas mudanças climáticas: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Bagnasco sobre o assunto.
Reavaliar Humanae vitae: É contra. Em 2018, o cardeal Angelo Bagnasco descreveu a encíclica como um “farol para o verdadeiro amor” e ressaltou que, embora as circunstâncias possam influenciar a percepção subjetiva, elas não alteram a natureza objetiva dos princípios morais. Ele reafirmou sua relevância no contexto da dignidade humana e da moral católica e não deu nenhuma indicação de que deseja sua revisão.
Comunhão para divorciados “recasados”: É contra. O cardeal Angelo Bagnasco resistiu à mudança e opôs-se firmemente à “proposta Kasper” de 2014, na qual o novo ensinamento se baseia.
“Caminho sinodal alemão”: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Bagnasco sobre o assunto.
Dados pessoais
Nome: Angelo Bagnasco
Data de nascimento: 14 de janeiro de 1943 (82 anos)
Local de nascimento: Pontevico (Itália)
Criado cardeal: 24 de novembro de 2005, por Bento XVI
Posição atual: arcebispo emérito de Gênova (Itália)
Lema: Christus Spes mea (“Cristo, minha esperança”)
© 2025 The College of Cardinals Report. Publicado com permissão. Original em inglês: Cardinal Angelo Bagnasco



