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A Gazeta do Povo publica, com exclusividade no Brasil, o perfil do cardeal Fridolin Ambongo Besungu preparado pelos vaticanistas Diane Montagna e Edward Pentin, autores do projeto The College of Cardinals Report. Jornalistas com décadas de experiência na cobertura do Vaticano, Montagna e Pentin escreveram perfis de todos os cardeais apontados como principais candidatos a suceder Francisco no comando da Igreja Católica, com informações biográficas e suas posições sobre temas em debate dentro da Igreja.
O cardeal Fridolin Ambongo Besungu, OFMCap, arcebispo de Kinshasa, é um fervoroso defensor da justiça social, que se envolve destemidamente na política em nome dos pobres e dos sem voz. No entanto, sua abordagem em relação à missão e a outras questões cruciais parece contraditória.
Ele nasceu em 24 de janeiro de 1960, em Boto, na zona rural da província de Nord-Ubangi, na República Democrática do Congo, em uma grande família católica com 11 irmãos; seu pai era seringueiro.
Fridolin estudou Filosofia no seminário de Bwamanda e Teologia no Instituto Saint-Eugène-de-Mazenod, no Congo, antes de ingressar na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, em 1981, professando os votos perpétuos em 1987. Foi ordenado sacerdote em 14 de agosto de 1988. Após a ordenação, tornou-se professor nas Faculdades Católicas de Kinshasa (atualmente Universidade Católica do Congo). Estudou Teologia Moral na Academia Alfonsiana, em Roma, e em 1995 defendeu sua dissertação universitária em Teologia Moral intitulada La réhabilitation de l’humain, base de développement vrai au Zaïre. Pour une éthique de développement intégral (“A reabilitação do ser humano como base para o verdadeiro desenvolvimento no Zaire. Por uma ética do desenvolvimento integral”).
Ele lecionou Teologia Moral no Instituto Mazenod de 1995 a 2005. Em 2004, João Paulo II o nomeou bispo de Bokungu-Ikela; 12 anos depois, em 2016, tornou-se arcebispo de Mbandaka-Bikoro; e, em 2018, arcebispo coadjutor de Kinshasa. No mesmo ano, em novembro, foi elevado a arcebispo de Kinshasa.
O cardeal Ambongo Besungu é um fervoroso defensor da justiça social, que se envolve destemidamente na política em nome dos pobres e dos sem voz
O arcebispo Ambongo foi criado cardeal pelo papa Francisco durante o consistório de 5 de outubro de 2019. No ano seguinte, o Santo Padre o nomeou membro do Conselho de Cardeais. Desde fevereiro de 2023, ele exerce a função de presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (Secam).
Sua posição de destaque na Igreja Católica africana anda de mãos dadas com seu envolvimento na política do Congo, onde é visto não apenas como líder da Igreja Católica na África e um potencial papabile, mas também como um líder da oposição política ao presidente Félix-Antoine Tshisekedi Tshilombo. O cardeal, que se autodenomina uma “sentinela”, expressa abertamente suas críticas ao governo. Ambongo tornou-se tão vocal que, no início de 2024, o procurador público da Corte de Cassação do Congo o acusou de “comportamento sedicioso que leva a atos criminosos” por não ter incentivado o exército congolês em sua luta na região oriental do país. No fim de abril, o episcopado local minimizou o andamento do processo (1).
O cardeal Ambongo tem uma visão clara sobre política e justiça social, seja em relação ao neocolonialismo, à exploração dos recursos naturais do Congo, à desigualdade de riqueza, à corrupção ou à proteção do meio ambiente.
Em questões relacionadas à fé e à Igreja, ele também pode parecer decididamente ortodoxo: defende com firmeza a família, o celibato sacerdotal e o ensino moral da Igreja. Foi um dos principais opositores, em nome da maioria dos bispos africanos, da declaração Fiducia supplicans, e negociou habilmente com o Vaticano uma dispensa para sua aplicação.
No entanto, seu pensamento muitas vezes parece confuso e contraditório. Ele defende a identidade católica e ressalta a importância da missão, mas se mostra confortável com protestantes permanecendo protestantes e muçulmanos permanecendo muçulmanos, e dá a entender que o batismo não é necessário para a salvação.
Ele reconhece o declínio da civilização cristã ocidental, mas vê o atual pontificado como representando a “Igreja jovem” do futuro, ainda que muitos críticos deste pontificado afirmem que ele frequentemente abraça valores seculares que aceleram o declínio do Ocidente.
O cardeal Ambongo Besungo foi um dos principais opositores, em nome da maioria dos bispos africanos, da declaração Fiducia supplicans
Ele expressou preocupação com a evangelização superficial, mas opta por focar principalmente na dignidade humana, em questões sociais e na cultura, em vez dos sacramentos e do sacrifício da Missa (nossa pesquisa também mostra que ele não fez comentários ou reflexões sobre a vida interior).
Ele acredita que a chave para o futuro da Igreja é a sinodalidade, que ele considera um “novo modo de ser Igreja”, mas parece alheio ao fato de que o processo sinodal tem sido usado por muitos de seus protagonistas para promover as mesmas agendas que ele sempre combateu com veemência.
O cardeal Fridolin Ambongo Besungu tem uma crença firme e apaixonada na África e no que o continente pode oferecer à Igreja e ao mundo. Ele é um forte defensor da inculturação e do rito zairense, e vê a evangelização como necessária tanto para sua terra natal quanto para os novos territórios missionários em declínio do Ocidente. No entanto, sua própria arquidiocese tem um histórico fraco na atração de vocações, em um continente onde elas supostamente crescem mais rapidamente. Sob sua liderança, o número de padres e religiosos despencou.
O cardeal Fridolin Ambongo Besungu possui muitas qualidades e tem sido frequentemente considerado um possível sucessor de Pedro nos últimos anos, mas, conforme mostra nossa pesquisa, muitas questões permanecem em aberto.
Notas
(1) O episcopado do país declarou que “o caso (estava) sendo tratado de forma responsável com as autoridades competentes, em conformidade com os textos legais do país, incluindo o Acordo-Quadro entre a RD Congo e a Santa Sé”.
O que o cardeal Fridolin Ambongo Besungu pensa sobre...
Ordenação de diaconisas: É ambíguo. A Igreja na África não tem “nenhuma dificuldade particular” com a perspectiva de estudar o acesso das mulheres ao diaconato, afirmou o cardeal Fridolin Ambongo Besungu em uma coletiva de imprensa no Vaticano em 22 de outubro de 2024, durante o Sínodo sobre a Sinodalidade.
Bênção para casais do mesmo sexo: É contra. “As bênçãos extralitúrgicas oferecidas por Fiducia supplicans não poderão ser concedidas na África sem causar escândalo”, escreveu ele em sua declaração ao anunciar que havia obtido a aprovação dessa posição em Roma. “As uniões de pessoas do mesmo sexo são consideradas contraditórias às normas culturais e intrinsecamente más”, acrescentou.
Tornar opcional o celibato para os padres: É contra. Os seminaristas devem ter uma visão clara do que o celibato significa e escolhê-lo com total liberdade: “Mas, se o fizerem, devem viver em coerência com sua decisão livre”, afirmou o cardeal Fridolin Ambongo Besungu.
Restrições à missa tridentina: É ambíguo. Não há celebrações diocesanas da missa tridentina em Kinshasa. O cardeal Fridolin Ambongo Besungu apoiou entusiasticamente o rito zairense, que ele considera um “grande patrimônio” devido à sua “criatividade”.
Acordos secretos entre China e Vaticano: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Ambongo sobre o assunto.
Promover uma “Igreja sinodal”: É a favor. O cardeal Ambongo é extremamente favorável ao processo sinodal. Ele enfatizou a importância desse processo como um “novo modo de ser Igreja”.
Foco nas mudanças climáticas: É a favor. O cardeal Fridolin Ambongo Besungu insiste que “a crise climática é uma realidade vivida pelos povos de toda a África” e a chama de “um ultraje moral, um exemplo trágico e marcante de pecado estrutural, facilitado pela indiferença insensível e pela ganância egoísta”. Ele apelou aos líderes mundiais para que “ouçam o clamor dos pobres e o clamor da terra”.
Reavaliar Humanae vitae: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Ambongo sobre o assunto.
Comunhão para divorciados “recasados”: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Ambongo sobre o assunto.
“Caminho sinodal alemão”: É ambíguo. Por ocasião de sua entrevista à KTO em 2022, o cardeal Ambongo foi questionado sobre o “caminho sinodal” alemão, que defende a ordenação de mulheres como sacerdotes. Ele não condenou fortemente o sínodo alemão, mas se disse surpreso pelo fato de ter ocorrido em um nível “nacional”, quando a sinodalidade é uma questão para a “Igreja universal”.
Dados pessoais
Nome: Fridolin Ambongo Besungu
Data de nascimento: 24 de janeiro de 1960 (65 anos)
Local de nascimento: Boto (República Democrática do Congo)
Criado cardeal: 5 de outubro de 2019, pelo papa Francisco
Posição atual: arcebispo de Kinshasa (República Democrática do Congo)
Lema: Omnia Omnibus (“Todas as coisas para todos os homens”)
© 2025 The College of Cardinals Report. Publicado com permissão. Original em inglês: Cardinal Fridolin Ambongo Besungu



