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Cardeal Gerhard Müller

Cardeal Gerhard Müller
O cardeal alemão Gerhard Müller, em foto de 2014. (Foto: Raúl Sanchidrián/EFE)

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A Gazeta do Povo publica, com exclusividade no Brasil, o perfil do cardeal Gerhard Müller preparado pelos vaticanistas Diane Montagna e Edward Pentin, autores do projeto The College of Cardinals Report. Jornalistas com décadas de experiência na cobertura do Vaticano, Montagna e Pentin escreveram perfis de todos os cardeais apontados como principais candidatos a suceder Francisco no comando da Igreja Católica, com informações biográficas e suas posições sobre temas em debate dentro da Igreja.

Filho de um trabalhador da indústria automobilística, o cardeal Gerhard Müller nasceu em Mainz (Alemanha) e foi criado em uma família católica devota. Ele começou seus estudos em Mainz e continuou seus estudos em Filosofia e Teologia em Munique e em Freiburg im Breisgau. Em 1977, Müller obteve um doutorado, tendo escrito sua dissertação sobre a contribuição do protestante Dietrich Bonhoeffer para a teologia sacramental ecumênica. Seu orientador de doutorado foi o professor (mais tarde cardeal) Karl Lehmann, aluno de Karl Rahner.

No ano seguinte, em 1978, Müller foi ordenado padre e começou a lecionar em escolas secundárias enquanto servia três paróquias na Diocese de Mainz. Seu apostolado intelectual continuou em 1985, quando se tornou professor em Freiburg im Breisgau; no ano seguinte, Müller assumiu a cadeira de Teologia Dogmática na Universidade Ludwig Maximilian, em Munique. Pelos 16 anos seguintes, Müller lecionou em Munique, bem como em muitas outras universidades, enquanto auxiliava em uma paróquia local. De 1998 a 2003, ele foi membro da Comissão Teológica Internacional.

Em 2002, João Paulo II o nomeou bispo de Ratisbona – a diocese na qual Joseph Ratzinger já havia lecionado –, e Müller começou seu trabalho apostólico lá em 2003. Durante seu período como bispo, ele se envolveu em muitas obras para desenvolver a diocese enquanto trabalhava em várias congregações e conselhos na Santa Sé.

Embora a liturgia não seja sua prioridade, o cardeal Gerhard Müller considera a doutrina e o cuidado pastoral igualmente importantes

Em 2012, Müller se mudou para Roma, quando Bento XVI o nomeou prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) – ex officio, ele também se tornou presidente da Pontifícia Comissão Bíblica, da Comissão Teológica Internacional e da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei. O papa Francisco criou Müller como cardeal-diácono em 2014, mas se recusou a renovar seu mandato de cinco anos como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé em 2017. Desde que deixou a CDF, o cardeal Gerhard Müller ganhou uma posição ainda mais pública e proeminente, continuando suas publicações multilíngues e expandindo seu apostolado ao redor do mundo.

Inteligente e honesto, o cardeal Gerhard Müller é um líder decidido e “pé no chão” que agirá corajosamente quando necessário. Respeitado como teólogo, ele nem sempre foi tão conservador quanto parece, e ele próprio não gosta do rótulo, preferindo se considerar simplesmente “católico”. Formado sob a tutela de teólogos alemães liberais, como o ex-chefe da conferência episcopal alemã, o cardeal Karl Lehmann, Müller subiu nas fileiras da Igreja com o apoio de Bento XVI para chegar a uma das posições mais elevadas do Vaticano, a de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, antes de Francisco escolher não renovar seu mandato.

Embora a liturgia não seja sua prioridade, o cardeal Gerhard Müller considera a doutrina e o cuidado pastoral igualmente importantes, e tem incentivado a devoção eucarística de diversas maneiras.

Nos primeiros anos da crise de abuso sexual, ele teve dificuldades para agir de forma coerente, mas desde então tem sido direto sobre a questão. Como bispo de Ratisbona, ele agiu firme e decisivamente com grupos dissidentes. Em 2024, surgiram alegações menores de má conduta financeira quando ele era prefeito da CDF, e que ele negou veementemente.

O cardeal Gerhard Müller é considerado politicamente conservador. Geralmente visto como teologicamente ortodoxo em vez de ideológico como alguns de seus colegas teólogos alemães, Müller, no entanto, foi visto como heterodoxo em alguns de seus ensinamentos, como sobre a transubstanciação; e, embora ele não negue o dogma da virgindade perpétua de Maria, já ofereceu ensinamentos que eram contrários ao consenso teológico generalizado. Ele também atraiu controvérsia por meio de seu interesse na Teologia da Libertação, que ele tentou separar de sua interpretação marxista.

De mentalidade bastante independente, Gerhard Müller tem criticado o globalismo, a “Agenda 2030” e seus protagonistas, a quem ele chama de “elites fortes e poderosas”

Geralmente, o cardeal Gerhard Müller assume posições tradicionais, opondo-se fortemente a um diaconato feminino e resistindo a mudanças no celibato sacerdotal no rito latino, embora ele já tenha favorecido exceções até o fim dos anos 1980. Ardentemente favorável aos ensinamentos do Vaticano II e bastante moderno em sua perspectiva, ele assumiu uma linha dura contra os tradicionalistas da Fraternidade São Pio X. No entanto, ele se aproximou mais do tradicionalismo nos últimos anos e tem sido um crítico ferrenho do Sínodo sobre a Sinodalidade, do “caminho sinodal” alemão e do que ele percebe como afastamentos do ensino estabelecido da Igreja. Ele também tem sido crítico das restrições à missa tridentina.

De mentalidade bastante independente, Gerhard Müller tem criticado o globalismo, a “Agenda 2030” e seus protagonistas, a quem ele chama de “elites fortes e poderosas”.

Dentro da Igreja, ele é considerado um amigo e colaborador intensamente leal que se esforçou para evitar criticar o papa Francisco diretamente, embora tenha muitas perguntas sobre este pontificado, cujas falhas ele atribui principalmente aos cortesãos de Francisco. Ele acredita, por exemplo, que Francisco é culpado de heresia material, e não formal; mesmo assim, Francisco parece apreciar a lealdade de Müller e lhe concedeu vários cargos menores desde que o demitiu como prefeito da CDF em 2017.

Um negociador honesto, bem-informado, culto e “sem um pingo de maldade”, de acordo com um colega, Müller não tem medo de liderar e tomar decisões difíceis.

Além do alemão, sua língua nativa, o cardeal Müller fala italiano, inglês e espanhol.

O que o cardeal Gerhard Müller pensa sobre…

Ordenação de diaconisas: É contra. O cardeal Gerhard Müller sempre afirmou de forma inequívoca que a ordenação de mulheres, seja como sacerdotisas ou diaconisas, é impossível.

Bênção para casais do mesmo sexo: É contra. O cardeal Müller criticou e se opôs fortemente a Fiducia supplicans. Alguns meses antes de o documento ser publicado, e comentando sobre bênçãos a casais do mesmo sexo permitidas pelo “caminho sinodal” alemão, Müller disse que tais bênçãos eram uma “blasfêmia”.

Tornar opcional o celibato para os padres: É contra. O cardeal Gerhard Müller defendeu firmemente o celibato sacerdotal como uma tradição importante na Igreja Católica. Embora em 1988 ele tenha defendido a ordenação de viri probati (homens casados de índole comprovada), ele se retratou completamente de tal opinião.

Restrições à missa tridentina: É contra. O cardeal Müller tem criticado Traditionis custodes e, desde a publicação do motu proprio, tem celebrado a missa tridentina e ordenado padres neste rito.

Acordos secretos entre China e Vaticano: É contra. O cardeal Müller criticou duramente o acordo, e expressou tristeza com o consequente silêncio do Vaticano sobre os abusos de direitos humanos na China e com a falta de apoio do Vaticano ao cardeal Zen durante seu julgamento em Hong Kong.

Promover uma “Igreja sinodal”: É contra. O cardeal Gerhard Müller tem sido muito crítico tanto do Sínodo sobre a Sinodalidade quanto do “caminho sinodal” alemão.

Foco nas mudanças climáticas: É contra. Embora o cardeal Müller não tenha feito comentários específicos sobre mudanças climáticas, ele criticou aqueles que apresentam a Igreja Católica como “uma organização de ajuda à Agenda 2030”, onde “a neutralidade climática [é] o objetivo do planeta Terra”.

Reavaliar Humanae vitae: É contra. O cardeal Gerhard Müller manifestou forte oposição a qualquer tentativa de reavaliar ou reinterpretar os ensinamentos da Humanae vitae, descrevendo tais esforços como um “crime contra a Igreja” e uma traição à sua missão.

Comunhão para divorciados “recasados”: É contra. O cardeal Müller tem consistentemente se oposto à mudança do ensinamento da Igreja para permitir a comunhão para católicos divorciados e recasados, exceto em casos em que os esposos vivam em continência completa. Ele vê tais mudanças como opostas à lei divina e à doutrina estabelecida.

“Caminho sinodal alemão”: É contra. O cardeal Müller se opôs firmemente ao “caminho sinodal” alemão, chamando-o de “processo suicida” e comparando seus processos de tomada de decisão ao Ato de Habilitação de 1933, que deu a Hitler poderes abrangentes. Ele também o chamou de “uma assembleia autonomeada, que não é autorizada por Deus nem pelo povo que supostamente representa”.

Dados pessoais

Nome: Gerhard Ludwig Müller
Data de nascimento: 31 de dezembro de 1947 (77 anos)
Local de nascimento: Mainz (Alemanha)
Criado cardeal: 22 de fevereiro de 2014, pelo papa Francisco
Posição atual: prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé
Lema: Dominus Jesus (“Jesus, o Senhor”)

© 2025 The College of Cardinals Report. Publicado com permissão. Original em inglês: Cardinal Gerhard Ludwig Müller

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