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A Gazeta do Povo publica, com exclusividade no Brasil, o perfil do cardeal Stephen Brislin preparado pelos vaticanistas Diane Montagna e Edward Pentin, autores do projeto The College of Cardinals Report. Jornalistas com décadas de experiência na cobertura do Vaticano, Montagna e Pentin escreveram perfis de todos os cardeais apontados como principais candidatos a suceder Francisco no comando da Igreja Católica, com informações biográficas e suas posições sobre temas em debate dentro da Igreja.
O cardeal Stephen Brislin, arcebispo de Joanesburgo, é um prelado de inclinações heterodoxas e ascendência escocesa e irlandesa, comprometido com questões sociais e que ganhou destaque nos últimos anos devido às suas habilidades de liderança.
Nascido em Welkom em 24 de setembro de 1956, recebeu sua educação inicial no Convento de Santa Inês e nas escolas dos Irmãos Cristãos em Welkom. Brislin prosseguiu com seus estudos superiores em diversas instituições, estudando Psicologia na Universidade da Cidade do Cabo; Filosofia no Seminário São João Maria Vianney, em Pretória; e Teologia no progressista (e agora fechado) Instituto Missionário de Mill Hill, em Londres.
Ordenado sacerdote em 19 de novembro de 1983, após concluir seus estudos na Universidade de Louvain, a carreira eclesiástica de Brislin foi marcada por uma progressão constante e por nomeações significativas. O papa Bento XVI o nomeou bispo de Kroonstad em 28 de janeiro de 2007. Suas habilidades de liderança foram ainda mais reconhecidas quando Bento o nomeou arcebispo da Cidade do Cabo em 18 de dezembro de 2009, cargo que assumiu em 7 de fevereiro de 2010.
Ao longo de seu ministério, Brislin demonstrou estar na ala classicamente liberal da Igreja, comprometido com questões sociais
A influência de Brislin se estendeu além de sua arquidiocese quando ele atuou como presidente da Conferência Episcopal Católica do Sul da África de 2013 a 2019. Durante esse período, participou de importantes eventos da Igreja, incluindo os Sínodos sobre a Família de 2014 e 2015.
O papa Francisco elevou Brislin ao posto de cardeal em 2023, atribuindo-lhe o título de cardeal-presbítero de Santa Maria Domenica Mazzarello. Ele foi nomeado arcebispo de Joanesburgo em 28 de outubro de 2024, e empossado em 25 de janeiro deste ano. Brislin ainda foi eleito presidente da conferência episcopal sul-africana em 7 de agosto de 2024.
Ao longo de seu ministério, Brislin demonstrou estar na ala classicamente liberal da Igreja, comprometido com questões sociais. Ele tem uma visão acolhedora em relação a grupos que sofrem com tendências homossexuais e, após alguns anos de proibição, permitiu que um grupo dissidente, que defende a ordenação de mulheres e o clero casado, atuasse na arquidiocese.
Sob a supervisão de Brislin, a arquidiocese publicou, em 2022, um relatório-síntese como parte de sua contribuição ao Sínodo da Sinodalidade, que pedia mudanças na estrutura hierárquica da Igreja; uma experiência “no mínimo dos mínimos” com o diaconato feminino; a expansão da definição de família; a revisão da Humanae vitae; e a inclusão das pessoas LGBTQ+. O documento, que trazia estampado o brasão do arcebispo, também adotava uma abordagem distintamente heterodoxa e até revolucionária: “No mundo do século 21, é importante manter a tradição, conhecer suas origens, mas também abraçar a mudança”, dizia o relatório, acrescentando que “as fortes tradições da Igreja também são suas fraquezas. As grandes restrições que podem atrapalhar o progresso da Igreja são muitas, variadas, e incluem temas como o celibato obrigatório dos padres e a proibição de mulheres sacerdotisas. De qualquer forma, o Espírito Santo da Esperança estará conosco à medida que seguimos adiante na fé”.
“As grandes restrições que podem atrapalhar o progresso da Igreja são muitas, variadas, e incluem temas como o celibato obrigatório dos padres e a proibição de mulheres sacerdotisas.”
Trecho de relatório produzido pela Arquidiocese da Cidade do Cabo para o Sínodo da Sinodalidade
Brislin tem se manifestado abertamente sobre os desafios enfrentados pela África do Sul, incluindo pobreza, corrupção e a necessidade de uma liderança ética. Ele enfatizou a importância do papel da Igreja na abordagem dessas questões e na promoção da dignidade humana. Em janeiro de 2018, visitou a Faixa de Gaza como parte da Coordenação Anual da Terra Santa, um esforço internacional de bispos em apoio à paz e ao diálogo. Também demonstrou preocupação especial com os migrantes, particularmente o povo basoto, a quem ministrou no início de seu sacerdócio e durante seu tempo como bispo. Além disso, liderou quatro peregrinações para The Southern Cross, cobrindo nove territórios, incluindo Itália, Palestina, Israel, Egito, Espanha e Portugal.
Brislin recebeu o título de Doutor Honorário em Liderança Pastoral pela Oblate School of Theology, em San Antonio, Texas, em 5 de maio de 2023.
Durante seu longo período à frente da Arquidiocese da Cidade do Cabo, iniciado em 2009, as vocações sacerdotais permaneceram aproximadamente no mesmo nível, enquanto o número de religiosos e religiosas diminuiu em cerca de um terço.
Sua proficiência linguística não foi detalhada, mas, além do inglês, espera-se que fale africâner e talvez tenha alguma familiaridade com sesoto.
Questionado no início de dezembro de 2023 sobre a possibilidade de ser um candidato ao papado, ele respondeu que isso era “tecnicamente” possível, mas que não acreditava ter a “experiência global que a maioria dos outros cardeais possui”. Ele acrescentou: “Não se esqueça, sou realmente alguém pequeno em comparação com alguns desses verdadeiros gigantes, pessoas de grande intelecto e muita experiência. Veja o arcebispo [Víctor Manuel] Fernández, por exemplo: ele escreveu 300 livros ou coisa do tipo. Ele é realmente uma pessoa com uma visão muito ampla. E são pessoas como ele, eu acho, que têm mais probabilidade de serem candidatos ao papado”.
O que o cardeal Stephen Brislin pensa sobre...
Ordenação de diaconisas: É a favor. Embora o cardeal Stephen Brislin tenha reafirmado no passado a proibição da Igreja à ordenação de mulheres, ele permitiu que um grupo dissidente que apoia mulheres sacerdotisas se estabelecesse em sua diocese. Além disso, sob a supervisão de Brislin, a Arquidiocese da Cidade do Cabo publicou, em 2022, um relatório-síntese como parte de sua contribuição ao Sínodo da Sinodalidade, que diz: “No mundo do século 21, é importante manter a tradição, conhecer suas origens, mas também abraçar a mudança”. E acrescentou: “as fortes tradições da Igreja também são suas fraquezas. As grandes restrições que podem atrapalhar o progresso da Igreja são muitas, variadas, e incluem temas como (...) a proibição de mulheres sacerdotisas. De qualquer forma, o Espírito Santo da Esperança estará conosco à medida que seguimos adiante na fé”.
Bênção para casais do mesmo sexo: É ambíguo. O cardeal Brislin apoiou Fiducia supplicans, enfatizando que a união não é abençoada e que os homossexuais devem viver castamente.
Tornar opcional o celibato para os padres: É a favor. O cardeal Stephen Brislin não mencionou a questão, mas permitiu que um grupo dissidente que apoia a ordenação de clérigos casados se estabelecesse em sua diocese. Além disso, sob a supervisão de Brislin, a Arquidiocese da Cidade do Cabo publicou, em 2022, um relatório-síntese como parte de sua contribuição ao Sínodo da Sinodalidade, que diz: “No mundo do século 21, é importante manter a tradição, conhecer suas origens, mas também abraçar a mudança”. E acrescentou: “as fortes tradições da Igreja também são suas fraquezas. As grandes restrições que podem atrapalhar o progresso da Igreja são muitas, variadas, e incluem temas como o celibato obrigatório dos padres e a proibição de mulheres sacerdotisas. De qualquer forma, o Espírito Santo da Esperança estará conosco à medida que seguimos adiante na fé”.
Restrições à missa tridentina: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Brislin sobre o assunto.
Acordos secretos entre China e Vaticano: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Brislin sobre o assunto.
Promover uma “Igreja sinodal”: É a favor. O cardeal Brislin comentou positivamente sobre o Sínodo sobre a Sinodalidade, por permitir a contribuição de todas as partes da Igreja.
Foco nas mudanças climáticas: É a favor. O cardeal Stephen Brislin mencionou várias vezes suas preocupações com o meio ambiente e a necessidade de enfrentar as mudanças climáticas.
Reavaliar Humanae vitae: É ambíguo. O cardeal Stephen Brislin defendeu as declarações do papa Bento XVI sobre preservativos em 2010, enfatizando que isso não representava uma mudança na doutrina, e repetiu a posição da Igreja sobre preservativos durante o pontificado do papa Francisco. No entanto, o relatório-síntese publicado pela Arquidiocese da Cidade do Cabo, sob a liderança de Brislin, antes do Sínodo da Sinodalidade, pede uma revisão de Humanae vitae. Ele diz: “as regras da Igreja sobre casamento e controle de natalidade são vistas como um problema. A posição da Igreja sobre contracepção deveria ser reconsiderada, pois esse ensinamento é desfavorável especialmente em relação às pessoas mais pobres em nossas comunidades. Muitos afirmaram que não há espaço para debate aberto sobre uso seguro da contracepção e os ensinamentos da Igreja”.
Comunhão para divorciados “recasados”: É a favor. Embora o cardeal Stephen Brislin não tenha dado um apoio específico e generalizado ao acesso, ele apoia as diretrizes de Amoris laetitia e enfatiza a necessidade de analisar cada caso individualmente.
“Caminho sinodal alemão”: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Brislin sobre o assunto.
Dados pessoais
Nome: Stephen Brislin
Data de nascimento: 24 de setembro de 1956 (68 anos)
Local de nascimento: Welkom (África do Sul)
Criado cardeal: 30 de setembro de 2023, pelo papa Francisco.
Posição atual: arcebispo de Joanesburgo (África do Sul)
Lema: Caritas in Veritate (“Caridade na verdade”)
© 2025 The College of Cardinals Report. Publicado com permissão. Original em inglês: Cardinal Stephen Brislin.