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Cardeal Willem Eijk

Cardeal Willem Eijk
O holandês Willem Eijk em 2012, quando foi criado cardeal por Bento XVI. (Foto: Claudio Peri/EFE/EPA)

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A Gazeta do Povo publica, com exclusividade no Brasil, o perfil do cardeal Willem Eijk preparado pelos vaticanistas Diane Montagna e Edward Pentin, autores do projeto The College of Cardinals Report. Jornalistas com décadas de experiência na cobertura do Vaticano, Montagna e Pentin escreveram perfis de todos os cardeais apontados como principais candidatos a suceder Francisco no comando da Igreja Católica, com informações biográficas e suas posições sobre temas em debate dentro da Igreja.

A célebre capacidade do cardeal Willem Eijk de conciliar diferentes formas de pensamento vem, em parte, de sua infância: ele foi criado por um pai protestante e uma mãe católica.

Eijk concluiu os estudos iniciais de Medicina em 1978, na Universidade de Amsterdã, e ingressou imediatamente no seminário; enquanto isso, dedicava-se à ética médica na Universidade de Leiden e trabalhava como médico de medicina interna. Em 1985, foi ordenado sacerdote e, enquanto servia como capelão, concluiu seu doutorado em Medicina, com uma tese que era uma resposta às políticas holandesas de eutanásia. Em 1990, Eijk foi enviado por seu bispo a Roma, onde obteve uma licenciatura em Teologia Moral e um doutorado em Filosofia pela Universidade São Tomás de Aquino (Angelicum). Também se formou em Teologia pela Pontifícia Universidade Lateranense. Posteriormente, Eijk ensinou Teologia Moral na Holanda e na Suíça; ajudou a fundar uma associação que promove a ética médica; e foi membro da Comissão Teológica Internacional de 1997 a 2000.

Em 1999, Eijk foi ordenado bispo, tendo como um dos consagrantes o bispo Franciscus Wiertz, de Roermond. Por sete anos, Eijk governou a diocese de Groningen-Leeuwarden. Grande parte do trabalho de Eijk como bispo foi uma resposta à crescente secularização e perda de fé na sociedade holandesa – um trabalho estressante, que possivelmente afetou sua saúde: em 2001, ele sofreu um hematoma subdural (hemorragia cerebral); após um período de repouso, recuperou-se e retomou suas atividades.

Eijk é amplamente visto como solidamente ortodoxo e pró-vida, com uma fervorosa devoção a Nossa Senhora

Bento XVI nomeou Eijk arcebispo metropolitano de Utrecht em 2007. Em meio aos seus deveres episcopais, Eijk coeditou um manual de ética médica católica, publicado em 2010, e foi eleito presidente da Conferência Episcopal dos Países Baixos no ano seguinte. Ele atuou como um estimado membro da Pontifícia Academia para a Vida, sendo reeleito em 2017. Em 2012, Bento XVI o criou cardeal-presbítero.

Após o Concílio Vaticano II, a Igreja holandesa foi uma das que mais se radicalizaram; agora, está em queda livre, com uma onda de secularização e fechamento de paróquias. Em meio a essa difícil situação, o cardeal Willem Eijk tem trabalhado para levar a luz de Cristo ao seu povo e ao mundo. O próprio Eijk apoia o Concílio, acredita que ele foi necessário e que foi uma obra do Espírito Santo. De início, as vocações na arquidiocese de Utrecht continuaram a cair após Eijk se tornar arcebispo, mas na última década os números permaneceram estáveis, apesar dos fortes ventos secularistas em toda a Holanda.

Eijk é amplamente visto como solidamente ortodoxo e pró-vida, com uma fervorosa devoção a Nossa Senhora. Suas iniciativas apostólicas têm como prioridade reacender o amor pela Eucaristia e pela Virgem Maria, a catequese familiar e a evangelização pessoal. A experiência de Eijk como médico e teólogo moral lhe deu ferramentas para abordar questões contemporâneas prementes, nas quais estão em jogo a vida ou a morte, especialmente a eutanásia e a fertilização in vitro.

Embora o cardeal Willem Eijk tenha tido a desagradável tarefa de fechar muitas paróquias na Holanda, uma empreitada que gerou fortes críticas de todos os lados, ele o fez principalmente a pedido da própria Igreja local e dialogando com os afetados por essas decisões. Ele não se deixou intimidar pela impopularidade que tais ações lhe trouxeram.

O cardeal Eijk fornece um exemplo para pastores que desejam “alimentar o rebanho” que lhes foi dado por Cristo, independentemente dos lobos que possam estar rondando

Claro e intransigente quanto aos ensinamentos da Igreja, Eijk manifesta um amor pela verdade católica mesmo quando ela é impopular, como se viu em sua disposição para defender a Humanae vitae e sustentar a indissolubilidade do casamento como sendo apenas entre um homem e uma mulher, e o lugar privilegiado do ato conjugal. Ele também se opôs às bênçãos de casais homoafetivos, mas o fez com seu tato e diplomacia característicos.

Sua insistência no ensinamento de Cristo sobre um sacerdócio exclusivamente masculino e celibatário tem sido um sinal de contradição para alguns. Embora tenha compaixão pelos refugiados e enfatize a necessidade de cuidar deles, especialmente dos cristãos que fogem da perseguição, Eijk disse que os migrantes econômicos frequentemente têm a obrigação de construir seus países de origem e têm obrigações para com o país ao qual emigram. Ele também falou com clareza sobre as diferenças fundamentais entre o Islã e o cristianismo. Eijk valoriza a reverência na liturgia, mas até agora se manteve fora da controvérsia sobre as restrições à missa tridentina.

Durante a pandemia de Covid, o cardeal foi um ardente defensor da vacinação contra o vírus, valendo-se de seu conhecimento médico. Apesar das preocupações com a segurança e eficácia das vacinas, e de outras questões morais a seu respeito, ele viu seu uso como uma “obrigação moral” para proteger a si mesmo e aos outros do vírus.

Ao longo dos anos, Eijk se acostumou a críticas por vezes veementes por sua adesão inabalável à fé católica em todas as suas dimensões, mas, ainda assim, ele fornece um exemplo para pastores que desejam “alimentar o rebanho” que lhes foi dado por Cristo, independentemente dos lobos que possam estar rondando.

Além de seu idioma nativo, o holandês, o cardeal Willem Eijk é fluente em italiano e inglês, e proficiente em várias outras línguas.

O que o cardeal Willem Eijk pensa sobre...

Ordenação de diaconisas: É contra. O cardeal Willem Eijk tem insistido que este ensinamento não pode mudar por causa de pressões culturais ou sociais. Além disso, ele considera que este é um assunto surrado que se tornou irrelevante para os jovens que buscam um encontro com Cristo na Igreja Católica. Durante a homilia em uma missa de ordenação sacerdotal em novembro de 2024, ele disse que “os jovens não vêm [à igreja] para discutir ordenação de mulheres, porque isso é um assunto dos anos 60 que não lhes interessa. Eles vêm para rezar”.

Bênção para casais do mesmo sexo: É contra. O cardeal Eijk criticou a decisão dos bispos flamengos (a região da Bélgica de fala holandesa) de introduzir cerimônias de bênção, e acredita que esses relacionamentos irregulares não podem ser abençoados “porque são contrários à ordem divina estabelecida na criação”.

Tornar opcional o celibato para os padres: É contra. O cardeal disse acreditar que o celibato é inseparável do ministério sacerdotal.

Restrições à missa tridentina: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Eijk sobre o assunto.

Acordos secretos entre China e Vaticano: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Eijk sobre o assunto.

Promover uma “Igreja sinodal”: A favor. O cardeal Willem Eijk vê a sinodalidade como “pensar sobre possibilidades de criar uma Igreja em que cada membro da comunidade participe da missão da Igreja”. Mas ele reconhece que nem todos que estão participando deste processo entendem a sinodalidade, usando-a como uma oportunidade para mudar a doutrina. Para ele, isso é consequência da secularização e do individualismo.

Foco nas mudanças climáticas: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Eijk sobre o assunto.

Reavaliar Humanae vitae: É contra. O cardeal Eijk disse que a encíclica, hoje, é “cada vez mais reconhecida como um documento profético”. Em vez de pedir uma reavaliação, ele reafirmou o ensinamento da Igreja sobre a contracepção artificial.

Comunhão para divorciados “recasados”: É contra. O cardeal Eijk acredita que qualquer pessoa que deseje receber a Eucaristia precisa estar num estado que lhe permita receber as graças contidas no sacramento.

“Caminho sinodal alemão”: É contra. Embora o cardeal Willem Eijk não tenha tratado especificamente do “caminho sinodal alemão”, ele não aprova as mudanças que vem sendo defendidas, como as bênçãos a casais homoafetivos e o diaconato feminino.

Dados pessoais

Nome: Willem Jacobus Eijk
Data de nascimento: 22 de junho de 1953 (71 anos)
Local de nascimento: Duivendrecht (Países Baixos)
Criado cardeal: 18 de fevereiro de 2012, pelo papa Bento XVI
Posição atual: Arcebispo de Utrecht (Países Baixos)
Lema: Noli recusare laborem (“Não rejeite o trabalho”)

© 2025 The College of Cardinals Report. Publicado com permissão. Original em inglês: Cardinal Willem Jacobus Eijk

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