
Em uma órbita a cerca de 7,8 bilhões de quilômetros do Sol, mais de 50 vezes a distância da Terra para nossa estrela, o planeta-anão Makemake só foi descoberto em 2005, mas os astrônomos já começam a desvendar seus segredos. Com ajuda de um um fenômeno recorrente, mas muito difícil de ser observado, eles conseguiram determinar com grande precisão seu tamanho e verificar se ele possuiria uma atmosfera global à semelhança de seu "irmão" Plutão, rebaixado à categoria de planeta-anão em 2006.
Conhecido como ocultação estelar, o fenômeno acontece quando o objeto celeste passa exatamente na frente de uma estrela do ponto de vista da Terra. No caso de Makemake, a ocultação ocorreu em 23 de abril do ano passado e foi alvo de uma campanha que mobilizou 16 observatórios em países da América do Sul, entre eles o Brasil. Destes, sete telescópios conseguiram fazer medições, o que permitiu aos cientistas deduzir que o planeta-anão tem cerca de 1420 quilômetros de diâmetro e não apresenta uma atmosfera significativa, embora sua presença não tenha sido de todo descartada.
"O Makemake, como outros objetos distantes como ele e conhecidos como transnetunianos, são remanescentes da formação do Sistema Solar", lembra Julio Ignacio Bueno de Camargo, pesquisador do Observatório Nacional e um dos autores de artigo sobre o planeta-anão publicado na edição destas semana da revista "Nature". "Em função de sua grande distância do Sol, ele conservou muitas das características que tinha naquela época e seu estudo nos permite recuperar a história de como o Sistema Solar se formou e evoluiu."
Segundo Camargo, o método da observação de ocultações estelares é o único capaz de fornecer dados com alta precisão sobre tamanho, albedo (reflexividade) e atmosfera de corpos celestes distantes como a Makemake a partir de telescópios em terra. As dificuldades, porém, começam no próprio tamanho reduzido do planeta-anão. Outro problema é a região do céu onde ele passa, afastada do plano da galáxia, o que diminui as possibilidades dele cruzar em frente de uma estrela.
Por fim, a magnitude da estrela ocultada influencia as medições, já que se ela for muito tênue o trabalho só pode ser feito por grandes telescópios. No caso da ocultação observada no ano passado, o planeta-anão escondeu a estrela batizada NOMAD 1181-0235723, com uma magnitude aparente de apenas 18,22 (quanto maior o número, menor é o brilho da estrela).
"Isso tudo demandou um extenso estudo anterior para prever quando uma ocultação estelar pelo Makemake iria ocorrer", conta Camargo. "A princípio, prevíamos que seriam cerca de três por ano, mas nem todas se concretizaram, pois a sombra do planeta acabou passando fora da Terra ou por locais onde não foi possível a observação, como nos oceanos ou lugares onde não havia telescópios capazes de observá-las."



