
Mesmo após décadas de profundas pesquisas sobre o Holocausto, somente agora surgem dolorosos detalhes sobre os mais de 1.100 guetos dirigidos pelos alemães no Leste Europeu, onde os nazistas mataram centenas de milhares de judeus.
Descobriu-se que havia cerca de 200 guetos a mais do que se pensava, disse Martin Dean, editor da recém-publicada Encyclopedia of Camps and Ghettos, 1933-1945, Volume 2 (Enciclopédia de Campos e Guetos 1933-1945, volume 2, sem tradução para o português). Trata-se de um trabalho de longo prazo para documentar cada local organizado pela perseguição nazista, além dos bem conhecidos Gueto de Varsóvia e dos campos de extermínio como Auschwitz.
A obra "nos dá informações sobre guetos que cairiam no esquecimento histórico e seriam esquecidos para sempre se não tivéssemos este volume", disse o estudioso do Holocausto Lawrence Langer. "Quem sabia que havia mais de 1.000 guetos?"
Mais judeus morreram durante a Segunda Guerra Mundial na Polônia e no oeste da União Soviética onde hoje ficam a Ucrânia, Bielo-Rússia e Lituânia do que os estimados 1 milhão de mortos nas câmaras de gás somente no campo de Auschwitz, disse Langer.
"As pessoas estão mortas, mas pelo menos temos a memória do lugar onde elas viveram e algum conhecimento sobre quem as matou", afirmou Langer, de 83 anos, professor emérito de Inglês da Simmons College, em Boston.
O museu faz pesquisas sobre o cotidiano desses locais com os familiares dos sobreviventes e usa as novas informações, algumas das quais provenientes de não judeus, que indicam a localização de valas comuns sem identificação.
Pesquisadores do Museu Memorial do Holocausto, de Washington, coletaram meticulosamente informações detalhadas para as mais de 2 mil páginas da enciclopédia em comunidades onde os alemães reuniram judeus e mataram os que tentaram escapar.
Pesquisadores e escritores fizeram buscas em todo o mundo para encontrar testemunhas, analisaram arquivos abertos após a queda do comunismo, além de textos de sobreviventes e testemunhos em várias línguas.
De cidade em cidade, de vila em vila, e até mesmo em pequenas localidades na região rural, Dean e seu grupo juntaram peças de um terrível quebra-cabeça que, segundo ele, "mostra que os nazistas fizeram esforços concentrados para encontrar cada judeu em cada lugar" e eliminar cada um deles.
Dean é um estudioso do Holocausto do Centro para Estudos Avançados do Holocausto e historiador sênior da Unidade de Investigação de Crimes Nazistas de Guerra da Scotland Yard em Londres.
A pequena cidade ucraniana de Mizocz é um exemplo dos repetidos horrores cometidos no Leste Europeu. O capítulo sobre a cidade na enciclopédia foi escrito por um sobrevivente que atualmente vive na Pensilvânia e integrou os menos de 10% dos moradores do gueto que sobreviveram à guerra.



