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Manifestante pró-Brexit segura um cartaz que diz "Nós votamos por independência" ao lado de uma manifestante contra o Brexit que segura as bandeiras da União Europeia e do Reino Unido |  TOLGA AKMEN / AFP
Manifestante pró-Brexit segura um cartaz que diz "Nós votamos por independência" ao lado de uma manifestante contra o Brexit que segura as bandeiras da União Europeia e do Reino Unido| Foto:  TOLGA AKMEN / AFP

A primeira-ministra britânica Theresa May divulgou nesta segunda-feira (21) um “plano B” para o Brexit, que parece muito com uma versão requentada do seu plano A, que sofreu uma derrota esmagadora no Parlamento na semana passada.

May foi forçada a voltar a Westminster por um parlamento que tem tentado exercer mais controle sobre como deve ser a retirada da União Europeia. Mas embora May tenha dito que iria “garantir que os membros tivessem a oportunidade de divulgar seus pontos de vista”, ela não alterou sua abordagem em resposta a muitos dos pontos de vista já expressados. 

May recusou-se a descartar um Brexit sem acordo – a possibilidade de que o Reino Unido deixe UE sem um acordo em 29 de março, resultando na interrupção do comércio e das viagens e em caos geral. 

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May reiterou sua oposição a adiar o Brexit para além do prazo de 29 de março, dizendo que uma extensão para permitir mais debate parlamentar seria “simplesmente adiar a decisão” – e provavelmente não seria aceito pelos outros 27 membros da UE. 

Ela também repetiu argumentos contra um segundo referendo – outro voto popular sobre o Brexit. May disse que o povo já votou pelo Brexit e que o trabalho de seu governo e do Parlamento é realizá-lo. Um segundo referendo, ela alertou, “poderia prejudicar a coesão social minando a fé em nossa democracia”. 

May disse que achava possível o progresso no elemento mais contencioso do acordo de retirada – o chamado “backstop irlandês”, uma política destinada a evitar o ressurgimento de uma fronteira dura na ilha da Irlanda depois do Brexit. Uma fronteira aberta foi uma parte fundamental do Acordo de Sexta-Feira Santa de 1998, que pôs fim a décadas de conflito na Irlanda do Norte. 

May disse que consultaria os legisladores “para considerar como podemos cumprir nossas obrigações com o povo da Irlanda do Norte e da Irlanda de uma forma que possa obter o maior apoio possível na Câmara”. 

“E então eu levarei as conclusões dessas discussões de volta para a UE”, disse ela. 

Mudanças

Mas quanto espaço para mudanças existe no lado da UE? 

Líderes europeus disseram repetidamente que o acordo apresentado por May ao Parlamento na semana passada, negociado dolorosamente durante meses e meses, foi o melhor que eles puderam oferecer. E eles têm relutado em retomar qualquer discussão até que o Reino Unido possa apresentar uma frente mais unida. 

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, colocou no fim de semana um pouco do ônus sobre a UE. “Temos a responsabilidade de moldar um processo para que as pessoas daqui a 50 anos não nos reprovem e e se perguntem ‘por que eles não podiam fazer concessões?’", ela disse. 

O ministro das Relações Exteriores da Polônia, Jacek Czaputowicz, levantou na segunda-feira a ideia de limitar o backstop irlandês a cinco anos. 

“Não sei se é viável, se a Irlanda está pronta para apresentar tal proposta, mas tenho a impressão de que poderá desbloquear as negociações”, disse ele à BBC. 

Falando em Bruxelas, no entanto, o ministro das Relações Exteriores da Irlanda, Simon Coveney, descartou a ideia. 

“Ele mencionou essa questão em Dublin em dezembro, quando visitou”, disse Coveney a repórteres. “Deixei bem claro que colocar um limite de tempo em um mecanismo de seguro, que é o que o backstop é, efetivamente significa que ele não é um backstop. Eu não acho que isso reflita o pensamento da UE em relação ao acordo de retirada”. 

May não mencionou nenhum limite específico ao backstop no Parlamento na segunda-feira. 

De fato, a maior novidade que ela trouxe foi o anúncio de que os 3 milhões de cidadãos europeus que moram no Reino Unido não precisariam pagar uma taxa de 65 libras (R$ 315) para solicitar status de residência após o Brexit. 

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Os legisladores reclamaram que ela não estava trazendo nada de novo. Vários comentaram que May parecia estar sem ideias – e parecia mais derrotada do que desafiadora. 

“É como se a votação da semana passada nunca tivesse acontecido. O plano B é o plano A”, tuitou Sarah Wollaston, uma legisladora do partido Conservador que apoia um segundo referendo. 

“O governo ainda parece não ter percebido a escala da derrota na Câmara dos Comuns na semana passada”, disse Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, da oposição. “A primeira-ministra parece estar passando por movimentos de aceitação do resultado, mas na realidade está em profunda negação”. 

“Realmente parece um pouco com o dia da marmota”, disse Corbyn. 

Além disso, Corbyn disse que o Parlamento terá mais voz sobre como o Brexit vai se desenrolar. 

“Hoje é o início de um processo democrático em que esta Câmara irá debater alterações que determinarão como navegaremos pelo Brexit”, disse o líder trabalhista. 

Corbyn se recusou a participar de conversações entre os partidos, a menos que May elimine a possibilidade de um Brexit sem acordo. 

Mas em vez de atrair parlamentares da oposição e arriscar a divisão do seu próprio partido, May parece ter calculado que é melhor tentar conquistar os rebeldes em seu Partido Conservador – mais de um terço dos tories votaram contra o Plano A – e o Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte que apoia seu governo minoritário. 

Muitos comentaristas políticos acham que o Reino Unido tentará adiar a saída da UE para depois do prazo de 29 de março, buscando uma prorrogação do artigo 50. 

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, disse a repórteres em Bruxelas que os ministros da UE estavam ansiosos para saber sobre a direção de Londres. “Nós sabemos o que Londres não quer, agora devemos finalmente descobrir o que eles querem”, disse ele. 

Ele também enfatizou que é importante que não haja uma fronteira dura na Irlanda, fazendo referência a uma explosão de bomba no centro de Londonderry, na Irlanda do Norte, no sábado à noite. 

“A Europa é um projeto de paz, e a Europa não pode fazer nada que leve a conflitos que se estendam novamente em uma parte do continente onde eles já haviam encerrado”, disse ele. “É uma questão muito delicada e, portanto, é uma questão que, nas discussões que estão por vir, não consigo imaginar que haverá muita mudança”.

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