A polícia realizou buscas nesta quinta-feira na casa e no antigo escritório do ex-arcebispo da Bélgica, que se aposentou recentemente. Foram levados documentos e um computador pessoal como parte de uma investigação sobre o abuso sexual de crianças por padres da igreja Católica Apostólica Romana, disseram funcionários do governo. A polícia e os promotores não disseram se o ex-arcebispo Godfried Danneels é suspeito de ter cometido abusos ou de simplesmente ter registros relacionados a acusações contra outra pessoa.
Separadamente, a polícia confiscou os registros de um painel independente de investigação de abusos sexuais por sacerdotes, cerca de 500 casos no total. O presidente do painel disse que a invasão foi uma enorme violação da privacidade das pessoas - a maioria delas homens na casa dos 60 ou 70 anos - que vivem com a vergonha do abuso.
As buscas ocorreram após recentes comunicados à polícia "que são relacionados ao abuso sexual de crianças dentro da igreja", disse Jean-Marc Meilleur, porta-voz do escritório da promotoria de Bruxelas. Ele, porém, não deu maiores detalhes sobre o caso.
A polícia levou documentos, mas não interrogou Danneels em sua casa na cidade de Mechlin, ao norte de Bruxelas, disse Hans Geybels, porta-voz do ex-arcebispo. "Eles levaram seu computador", acrescentou ele. Geybels informou também que Danneels tem cooperado muito. "O cardeal acredita que a justiça deve seguir seu curso normal. Ele não tem nada contra isso."
De posse de um mandado de busca, a polícia entrou no escritório do arcebispo às 10h (horário local, 7h em Brasília) quando os nove bispos do país iniciavam seu reunião mensal com o arcebispo Andre-Joseph Leonard, sucessor de Danneels que assumiu o cargo em janeiro.
Danneels era um líder liberal na igreja da Europa antes de se aposentar. Mas ele voltou aos refletores quando, no final de abril, o bispo mais antigo da Bélgica, Roger Vangheluwe, renunciou após admitir ter abusado sexualmente de um menino no período no qual Danneels era arcebispo.
A renúncia levou Rik Deville, um ex-padre, a afirmar que ele advertira Danneels pelo menos 15 anos atrás que Vangheluwe havia abusado de um menino. Em abril, Danneels afirmou que "não podia se lembrar de tal discussão".
Meilleur disse que as buscas na casa e no escritório de Danneels não têm relação com o caso de Vangheluwe. "Este é um caso novo que surgiu recentemente", disse ele.
O chefe do painel de investigações sobre abuso sexual, o psiquiatra infantil Peter Adriaenssens, criticou a apreensão dos documentos, dizendo que não havia necessidade de levar os documentos de todos os 500 casos analisados pelo comitê. Apenas 100 pessoas estão prontas para relevarem seus nomes às autoridades judiciais, afirmou ele.
O painel funciona há anos e havia cuidado de cerca de 30 casos de supostos abusos até o ano passado, quando os casos de abuso por clérigos católicos começaram a surgir em todo o mundo e o trabalho aumentou vertiginosamente.



