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Grande mercado doméstico, uma das vantagens polonesas, não pôde ser reproduzido pelos vizinhos europeus | The New York Times
Grande mercado doméstico, uma das vantagens polonesas, não pôde ser reproduzido pelos vizinhos europeus| Foto: The New York Times

Exemplo

Joalheria explora viés patriótico entre os consumidores

"Gosto de comprar de empresas polonesas porque o dinheiro fica aqui", declarou o estudante Tomasz Niespodziany, 22 anos, que citou a rede de mercados Piotr i Pawel e a cervejaria local Fortuna entre as preferidas.

Ele e a namorada estavam procurando alianças numa filial da rede de joalherias polonesas Apart, que projeta e produz suas peças dentro e nos arredores de Poznan e as vende em 180 lojas de toda a nação.

A Apart explora um viés patriótico nos consumidores poloneses, usando a modelo polonesa Anja Rubik, que também apareceu na versão local de America’s Next Top Model, para vender sua coleção. A empresa também se beneficiou dos novos aeroportos e estradas reformadas, que aceleram a distribuição e reduzem os custos.

Dados

4% era a taxa de desemprego de Poznan em 2010, a mais baixa do país, empatada com Varsóvia, de acordo com dados do governo polonês.

Risco

Austeridade sobre países vizinhos ameaça bom momento polonês

Poznan também exemplifica as ameaças apresentadas à história de sucesso da Polônia, sem falar nas economias mais enfraquecidas da Europa. O tipo de infraestrutura monetária da União Europeia que ajudou a construir uma nova autoestrada está sendo desativado.

Cofres estatais vazios nos países afetados, em conjunto com a ênfase na austeridade em vez de estímulos à economia, ameaçam também comprometer o crescimento polonês.

"Em 2008 e 2009, não sentimos a crise financeira", disse Malgorzata Olszewska, diretora de vendas e marketing global da Solaris. Após um ano recorde para a empresa em 2011, com receita superior a US$ 450 milhões, as vendas se reduziram enquanto Grécia, Espanha e Portugal praticamente pararam de fazer compras, e a Itália se tornou muito mais cautelosa.

  • Fábrica de ônibus exporta para vários países

Para compreender como a Polônia serve de antídoto contra a melancolia que consome a Europa é bom visitar a cidade de Poznan, situada entre as capitais Berlim e Varsóvia.

Ao longo dos séculos, Poz­­nan trocou de mãos diversas­­ vezes entre Alemanha e Polô­­nia, para se fixar com a segunda e se tornar a maior beneficiária da relação entre os dois países. A frontei­­ra aberta facilitou o comércio e as regras da União Europeia incentivaram os investimentos.

Uma fila de ônibus novos à espera de testes na sede da fábrica Solaris, em Bo­­lechowo, nos arredores da cidade, simboliza o sucesso das exportações. Ônibus pintados de branco e rosa seguirão para Monchengladbach, na Alemanha; os de branco e azul, para Vasteras, na Suécia; e os de amarelo para Aarhus, na Dinamarca.

Corporações estrangeiras,­­ como Volkswagen e Brid­­gestone, têm operações den­­tro ou nos arredores de Poz­­nan, cidade com mais de meio milhão de habitantes. Segundo dados do governo polonês, em maio de 2010, Poznan estava empatada com Varsóvia na mais baixa taxa de desemprego do país, na casa dos 4%.

Após a recém-terminada Eurocopa, organizada em conjunto pela Polônia e pela Ucrânia, muitos poloneses começaram a avaliar o progresso da nação e um bom humor incomum tomou conta de um país muitas vezes pessimista.

Não se tratou de um golpe de sorte, no entanto, mas do resultado de decisões lógicas tomadas em Varsóvia.

André Sapir, pesquisador sênior e economista da Bruegel, organização política de Bruxelas especializada na integração europeia, avaliou que o sucesso polonês era resultado de boa gestão monetária e da política fiscal, mantendo a dívida reduzida e a flexibilidade da taxa de câmbio. Segundo ele, a Polônia exerceu uma forte supervisão financeira, impedindo o tipo de explosão do empréstimo ao consumidor em moedas estrangeiras que saiu do controle na Hungria.

"Eles fizeram diversas coisas ao mesmo tempo em que foram coerentes e sempre compreenderam a necessidade de ser flexíveis", disse Sapir. O grande mercado doméstico, uma das vantagens polonesas, não pôde ser reproduzido pelos vizinhos do país. Com 38 milhões de habitantes – mais que República Tcheca, Eslováquia e Hungria juntas –, as empresas polonesas dependem menos das exportações do que outros países europeus.

HistóriaFabricante de ônibus simboliza vínculos com a Alemanha

A partir de 1997, a cidade de Poznan comprou bondes usados alemães das décadas de 1950 e 60, apelidados de "Helmut" por causa do corpulento ex-chanceler Helmut Kohl. Hoje em dia eles dividem as ruas com os bondes de última geração da Solaris.

"Esse é um dos nossos", disse Malgorzata Olszewska, diretora de vendas e marketing global da Solaris. Ela parece empolgada ao apontar um luzidio bonde verde e amarelo da linha 16, deslizando em frente ao belo prédio de pedra que abriga a filarmônica local. Empresa familiar aberta pelo pai dela, a Solaris exemplifica os laços históricos e comerciais entre Alemanha e Polônia.

Os pais de Olszewska deixaram a Polônia depois que a lei marcial foi declarada em 1981, estabelecendo-se em Berlim Ocidental. Eles voltaram e fundaram a Solaris, que agora emprega 2.200 pessoas no país e outras 200 no exterior.

Jena

A companhia exporta ônibus topo de linha para a Alemanha. Os primeiros bondes da Solaris devem chegar às ruas de Jena no ano que vem e de Braunschweig em 2014.

Olszewska entrou na Solaris em 2004, mesmo ano em que a Polônia entrou para a União Europeia, regressando para morar na Polônia pela primeira vez desde que era criancinha. Ela divide o tempo entre Berlim e Poznan. A viagem costumava durar quatro horas. Com a nova estrada, ela chega em duas horas e meia.

Habilidade

Questionada sobre se preferia ser polonesa ou alemã, Olszewska, que tem cidadania alemã e cresceu falando polonês em casa e alemão na escola, fugiu com habilidade da pergunta respondendo se sentir europeia. "Eu me sinto em casa nos dois países."

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