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Retrato do Papa Pio XII, que liderou a Igreja Católica durante a 2ª Guerra Mundial: legado muito discutido | Wildcommons
Retrato do Papa Pio XII, que liderou a Igreja Católica durante a 2ª Guerra Mundial: legado muito discutido| Foto: Wildcommons

"Combatemos essa visão errônea sobre Eugenio Pacelli"

O judeu Gary Krupp é um dos principais defensores de Pio XII na atualidade. Ele deixou o ramo de equipamentos médicos para criar a fundação interreligiosa Pave the Way, da qual é presidente. Krupp recolheu depoimentos de sobreviventes do Holocausto e pessoas que conviveram com o Papa, e tem se empenhado em mostrar aos judeus as suas descobertas. Ele concedeu entrevista à Gazeta do Povo por e-mail.

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Cronologia

Veja os principais fatos do papado de Pio XII

2 de março de 1939 – Eugenio Pacelli é eleito Papa e escolhe o nome de Pio XII.

1º de agosto de 1939 – A Alemanha invade a Polônia, iniciando a 2ª Guerra Mundial.

20 de outubro de 1939 – Pio XII publica sua primeira encíclica, Summi Pontificatus, em que condena o totalitarismo e o racismo. Condena a ocupação alemã.

Outubro de 1939 a março de 1940 – Pio XII concorda em agir como intermediário em uma tentativa de golpe contra Hitler. A conspiração, no entanto, perde força.

Natal de 1942 – Em mensagem radiofônica, Pio XII condena a deportação de judeus, sem no entanto ser explícito sobre países ou povos.

1943 – Hitler ordena a elaboração de um plano de invasão do Vaticano e sequestro do Papa, que no entanto não é realizado.

Fim de 1943 – 80% dos judeus romanos escapam da deportação.

Maio de 1945 – Termina a guerra na Europa.

9 de outubro de 1958 – Pio XII morre de ataque cardíaco.

Fonte: da Redação

Papa diz que a religião pode se corromper

Em sua primeira viagem pela Terra Santa, o Papa Bento XVI afirmou ontem que as religiões "podem se corromper" e que ficam "desfiguradas" quando são obrigadas a servir à ignorância e ao preconceito, ao desprezo, à violência e ao abuso.

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Amanhã, o Papa Bento XVI chega a Israel para uma visita muito aguardada, e que promete polêmica – na sua passagem pelo Yad Vashem, o memorial do Holocausto, em Jerusalém, Bento XVI não entrará no Museu do Holocausto. No local está exposta uma foto de Pio XII com uma legenda segundo a qual o Pontífice, que governou a Igreja Católica de 1939 a 1958, manteve-se neutro diante do extermínio dos judeus. A noção de Pio XII como "Papa de Hitler", no entanto, só surgiu duas décadas depois do fim da Segunda Guerra Mundial, e descobertas recentes, bem como informações esquecidas da época do conflito, revelam um Pontífice diferente daquele retratado atualmente.

Segundo a notícia publicada em abril por jornais italianos e britânicos, Pio XII havia dado instruções à Cúria Romana para o caso de ele ser sequestrado pelos nazistas: se isso acontecesse, o Papa renunciaria imediatamente, e os cardeais deveriam levar adiante um conclave para escolher o sucessor de Pio XII em Portugal, que era um país neutro durante o conflito. A informação foi dada pelo jesuíta Peter Gumpel, postulador da causa de canonização do Papa. A existência de um plano contra Pio XII já era conhecida – o general alemão Karl Otto Wolff tinha instruções para invadir o Vaticano e prender o Papa, segundo o historiador Dan Kurzman, autor de Complô contra o Vaticano, e que entrevistou Wolff na década de 1980. Além disso, em um dos mais famosos livros escritos contra Pio XII, O Papa de Hitler, John Cornwell narra a participação do Pontífice em uma das primeiras tentativas de conspiração para depor Hitler e encerrar a guerra.

Nos anos imediatamente posteriores ao fim da guerra, Pio XII recebeu manifestações de gratidão de várias lideranças judaicas. O maior responsável por jogar a opinião pública mundial contra o Pontífice foi o dramaturgo alemão Rolf Hochhuth, autor da peça O Vigário (recentemente adaptada para o cinema pelo grego Costa-Gavras, com o nome Amém). Escrita em 1963, cinco anos após a morte de Pio XII, a peça retrata o Papa como um líder mais preocupado com as finanças do Vaticano do que com a sorte dos judeus, e conivente com a Alemanha nazista por vê-la como o único adversário à altura da Rússia comunista.

A peça original tinha oito horas de duração, e foi reduzida para duas horas pelo produtor Erwin Piscator, que era comunista. A atuação de Piscator no "melhoramento" da peça foi comentada pelo ex-espião romeno Ion Mihai Pacepa, em artigo de janeiro de 2007 na publicação norte-americana National Review Online. No texto, Pacepa argumentava que a peça foi "adotada" pela KGB como parte de um plano para minar a autoridade moral da Igreja Católica no Ocidente, manchando especialmente a imagem de Pio XII, que em 1949 tinha emitido um decreto proibindo qualquer católico de colaborar com partidos comunistas, seja filiando-se a eles, ou votando neles. "Não posso sustentar que Hochhuth era um agente dos russos, mas é evidente que sua obra estava em grande medida influenciada por aquele aparato", afirmou Peter Gumpel na ocasião.

Neutralidade

Para um dos vice-presidentes da Federação Israelita do Paraná, Léo Kriger, é preciso diferenciar neutralidade de omissão. "Não foi apenas o Papa, o mundo inteiro silenciou. Não sabemos as circunstâncias, as ameaças que o Papa percebia", afirma, ressaltando que a Federação não tem posição oficial sobre a atuação de Pio XII e suas opiniões são pessoais. "No entanto, é perfeitamente compreensível que outras pessoas considerem omissão o que eu considero neutralidade", acrescenta. É o caso de Antônio Carlos Coelho, professor de História de Israel na Faculdade Evangélica do Paraná e de Ecumenismo no Studium Theologicum de Curitiba.

"Chamar Pio XII de ‘Papa de Hitler’ é exagero, mas ele foi realmente omisso. Cabia ao Papa denunciar o que houve, não importando o preço que ele teria de pagar por isso. A omissão não faz parte dos preceitos cristãos", afirma o professor, que é católico e participa do diálogo entre cristãos e judeus em Curitiba.

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Gratidão

"Se o Papa tivesse tomado explicitamente uma posição, Hitler provavelmente teria massacrado bem mais do que 6 milhões de judeus e talvez 10 vezes 10 milhões de católicos, se tivesse oportunidade para isso."

Marcus Melchior, rabino-chefe da Dinamarca durante a guerra.

"Só a Igreja posicionou-se abertamente contra a campanha de Hitler pela supressão da verdade. Nunca tive um particular amor pela Igreja até hoje, mas agora experimento grande estima e admiração, pois somente a Igreja teve a coragem e a firmeza de posicionar-se em defesa da verdade intelectual e da liberdade moral.

Sinto-me, portanto, obrigado a confessar que atualmente aprecio sem reservas aquilo que antes desprezava."

Albert Einstein, em artigo publicado na revista Time em dezembro de 1940.

"A Santa Sé está prestando o seu poderoso auxílio no qual é possível, para aliviar a sorte dos meus correligionários perseguidos."

Chaim Weizmann, em 1943; ele se tornaria, em 1949, o primeiro presidente do Estado de Israel.

"O povo de Israel nunca esquecerá o que Sua Santidade e seus ilustres delegados, inspirados pelos princípios eternos da religião, que estão na base da autêntica civilização, estão fazendo pelos nossos desafortunados irmãos e irmãs no momento mais trágico de nossa história, uma prova viva da Divina Providência neste mundo."

Yitzhak Herzog, rabino-chefe de Israel, em mensagem de fevereiro de 1944 ao Papa.

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