
Se os resultados das recentes eleições, presidencial na Argentina e legislativa na Venezuela, são sinal de uma mudança de ciclo político na região, a atenção da comunidade internacional deveria centrar-se, a partir de agora, na Bolívia. No próximo dia 21 de fevereiro, o presidente Evo Morales testará seu poder nas urnas, com a realização de um referendo sobre a possibilidade de disputar uma nova reeleição e governar, assim, até 2025.
Na opinião de analistas, a onda esquerdista que iniciou-se nos primeiros anos deste século em vários países do continente está começando a ganhar novos contornos, em direção a “sistemas políticos mais institucionalizados e menos ideologizados”.
Em La Paz, o futuro do governo é considerado incerto. Pesquisa da empresa de consultoria Mercados e Mostras indica que 53% dos bolivianos são contra uma nova reeleição do presidente, que assumiu seu primeiro mandato em janeiro de 2006.“A opinião pública boliviana sente como próprias as vitórias da oposição na Argentina e na Venezuela”, disse o professor da Universidade Maior de San Andrés, Carlos Cordero. Segundo ele, nos últimos meses “a popularidade de Morales recuou, entre outros motivos, por escândalos de corrupção que chegaram até mesmo a uma ex-ministra”.
Os novos ares políticos que se respiram na América Latina também poderiam influenciar o cenário equatoriano, onde Rafael Correa se prepara para deixar o poder em 2017. O presidente disse que não pretende buscar um novo mandato, mas, mesmo se essa decisão for mantida, provavelmente tentará fazer um sucessor que dê continuidade a sua autoproclamada revolução. “No Equador, tudo dependerá da capacidade de organização da oposição. Essa é uma das lições que nos deixaram Argentina e Venezuela”, opinou Ignácio Labaqui, professor da Universidade Católica Argentina (UCA). Para ele, “quando os partidos de oposição resolvem problemas de coordenação e montam uma alternativa viável, têm maior capacidade de aproveitar contextos para produzir a alternância”.



