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Por que não há novas lideranças políticas na América Latina?

Presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, e a presidente do Chile, Michelle Bachelet | Alex Ibañez/ Gobierno de Chile/
Presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, e a presidente do Chile, Michelle Bachelet (Foto: Alex Ibañez/ Gobierno de Chile/)

Faz tempo que não surgem, com força e provocando entusiasmo, novos nomes na política latino-americana. Em eleições recentes, como no Peru, por exemplo, e em futuras, como a presidencial chilena, marcada para novembro do ano que vem, os candidatos foram e serão figuras amplamente conhecidas que já participaram em votações no passado e, em alguns casos, que já governaram seus países.

A disputa pela sucessão de Michelle Bachelet será, provavelmente, entre os ex-chefes de Estado Ricardo Lagos (2000-2006) e Sebastián Piñera (2010-2014), de 78 e 67 anos, respectivamente.

Na opinião de analistas ouvidos pelo Globo, os sistemas políticos predominantes no continente não promovem a renovação política. Pelo contrário, tendem a perpetuar nas posições de maior influência lideranças cada vez mais veteranas.

Uruguai

No Uruguai, governado pelo presidente Tabaré Vázquez, de 76 anos, a situação é extremamente delicada. As próximas eleições presidenciais serão em 2019, mas já instalou-se no país o debate sobre o futuro da aliança governista Frente Ampla, no poder desde 2005. Vázquez compartilha a liderança do partido com seu antecessor, o ex-presidente e senador José Mujica, de 81 anos. O nome mais cotado para ser o próximo candidato é o do atual prefeito de Montevidéu, Daniel Martínez, de 57 anos. Mas ele ainda deverá vencer uma eleição interna e melhorar sua imagem nas pesquisas, já que atualmente não chega nem perto do respaldo a Vázquez e Mujica.

“O comando da Frente Ampla está nas mãos da geração de 1968, ano em que nasceu o partido”, comentou Chaquetti, pesquisador do Instituto de Ciência Política e professor da Universidade da República.

Para ele, outra opção de sucessão é o atual ministro da Economia, Daniel Astori, que foi vice do ex-presidente e tem 76 anos. Outro veterano da Frente Ampla.

“No Uruguai, são sempre os mesmos partidos e, ultimamente, os mesmos nomes. Na oposição houve mais renovação do que na Frente Ampla, e temos dirigentes como o ex-candidato a presidente Luis Lacalle Pou, com menos de 50 anos”, explicou o analista.

De fato, Lacalle Pou, 43 anos, fez uma ótima campanha presidencial e conseguiu dar um susto em Vázquez e na esquerda uruguaia. O candidato do Partido Nacional, filho do ex-presidente Luis Lacalle (1990-1995), tem grandes chances de disputar novamente a Presidência em 2019 e seria beneficiado por uma candidatura fraca da Frente Ampla. “Mujica e Astori atuam como se fossem eternos, mas estão desgastados. Eles deveriam abrir o caminho para novos dirigentes”, afirmou Chasquetti.

O analista teme que o Uruguai reviva o drama do final da década de 60 e começo dos anos 70, quando morreram, num período de cinco anos, os principais líderes políticos do país.

Chile

No Chile, o lançamento das pré-candidaturas de Lagos e Piñera não surpreendeu a sociedade nem os analistas. O conservador Piñera está em primeiro lugar nas pesquisas, mas ainda falta quase um ano para o primeiro turno, num país no qual o voto não é obrigatório e onde o percentual de abstenção na última eleição chegou a 60%.

“O caso chileno é preocupante: a elite política se mantém nos espaços de poder, diante de uma sociedade que participa cada vez menos dos processos eleitorais”, apontou o analista Guillermo Hollzman, professor da Universidade do Chile.

Políticos tradicionais dominam o cenário local, mas também são muito questionados pela opinião pública. A deterioração da situação econômica, em sintonia com a maioria dos países do continente, aumenta o clima de insatisfação social com partidos tradicionais, principalmente com a aliança governista Nova Maioria (o que favorece o conservador Piñera). “Os dirigentes mais veteranos são os que dão certeza às elites política e econômica. E as elites querem continuidade”, frisou Hollzman.

Apesar de ter prometido reformar a Constituição herdada da ditadura de Augusto Pinochet (de 1973 a 1990), Bachelet não tem respaldo político e social para avançar, e esta será uma tarefa que deixará para seu sucessor. Essa é, segundo o professor chileno, uma das razões que explicam o apoio da classe política e empresarial a candidatos considerados confiáveis e previsíveis, como Lagos e Piñera.

Peru e Equador

Em junho passado, os peruanos elegeram Pedro Pablo Kuczynski, de 78 anos, como presidente. O economista já tinha se candidato na eleição anterior e este ano finalmente venceu, em grande medida pela avalanche de votos antifujimoristas que se uniram para impedir o triunfo de Keiko, filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000).” Na América Latina, em geral, vemos falta de alternância. As lideranças tendem a ser permanentes, e isso está desgastando os partidos em toda a região”, disse o analista peruano Luis Benavente.

Ele vê um panorama totalmente diferente na Europa, onde “os sistemas políticos fazem justamente o contrário: evitam a repetição de líderes”. “Já nós, latino-americanos, temos estruturas partidárias armadas para serem controladas sempre pelas mesmas pessoas, apesar dos questionamentos sociais e cada vez mais denúncias de corrupção”, opinou Benavente.

A próxima eleição será no Equador, em 19 de fevereiro. Pela primeira vez em dez anos o presidente Rafael Correa não será candidato, mas tentará eleger seu vice, Lenín Moreno. Para vencer no primeiro turno, Moreno precisa obter 40% dos votos, com uma vantagem de dez pontos. Segundo as pesquisas, seu triunfo não será tão simples, dada a crise econômica que também assola o país.

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