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Navio hospitalar no porto de Palu, a cidade mais atingida pelo tsunami que ocorreu em outubro deste ano | BAY ISMOYO/
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Navio hospitalar no porto de Palu, a cidade mais atingida pelo tsunami que ocorreu em outubro deste ano| Foto: BAY ISMOYO/ AFP

Em outubro deste ano, um terremoto de magnitude 7,5 seguido de um tsunami atingiu a Indonésia e deixou ao menos 1,4 mil mortos. Mas essa não foi a última tragédia do ano no país. Na noite deste sábado (23), um novo tsunami provocou mortes e estragos na ilha. Ao menos 220 mortes, 28 desaparecimentos e mais de 800 feridos foram contabilizados. 

Não é a primeira vez que terremotos causam destruição e mortes em massa na Indonésia. Todos os tsunamis que atingiram a região foram poderosamente destruidores. Mas por quê? 

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A combinação de placas tectônicas na região, o formato da costa, comunidades vulneráveis e um péssimo sistema de alarme são fatores que tornam os tsunamis na Indonésia perigosíssimos. 

Placas tectônicas 

A Indonésia está em cima de complexos conjuntos de placas tectônicas. No entanto, muitas informações que poderiam melhorar nossas habilidades para prever desastres como este, ainda são desconhecidas. 

Os maiores terremotos do planeta ocorrem nas “zonas de subducção”, ou seja, o lugar onde duas placas tectônicas se chocam/encontram. 

Em dezembro de 2004 e março de 2005, dois tremores em zonas de subducção atingiram o litoral de Sunda Trench, na costa oeste de Sumatra. O terremoto de magnitude 9,1, em dezembro de 2004, gerou um tsunami devastador que matou quase 250 mil pessoas em países e ilhas ao redor do Oceano Índico. 

Mas é importante estarmos atentos para outros perigos. O leste da Indonésia, por exemplo, tem muitas microplacas, que são empurradas pelo movimento das grandes placas da Austrália, Sunda, Pacífico e Mar das Filipinas. 

O tremor de setembro foi causado pelo que chamamos de “falhas transcorrentes” no interior de uma dessas pequenas placas. Embora conhecido, é raro que esse tipo de terremoto possa gerar tsunamis. 

O conjunto de falhas é grande e, através dos processos de erosão, criam-se amplos vales e estuários fluviais. O vale do rio Palu e seu estuário, onde está localizada a capital regional de Palu, foram formados por esse complexo sistema de falhas. Estudos de terremotos pré-históricos sugerem que essas fendas produzem tremores de magnitude entre 7 e 8 graus na escala Richter a cada 700 anos, aproximadamente. 

O fundo do mar determina o tamanho da onda 

 Outro fator importante para que ocorram tsunamis é a profundidade e a forma do fundo do mar. Isso determina a velocidade das primeiras ondas. Fortes tremores nas zonas de subducção, no fundo do oceano, podem fazer com que toda a coluna de água do mar se levante e depois mergulhe de volta. A água pode cair abaixo do nível e criar fortes oscilações. 

A altura das ondas que se movem para fora do centro do terremoto geralmente tem um limite: raramente maior que um metro. O volume de água, porém, é extremamente grande, dependendo da área da superfície movida pelo tremor. 

As ondas do tsunami podem se mover rapidamente e chegam a atingir a velocidade de um jato. Em um local com 2 quilômetros de profundidade de água, as ondas podem se mover a 700 quilômetros por hora, já em um oceano muito profundo, chegam atingir mil quilômetros por hora. 

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Quando a onda se aproxima da costa, que é mais rasa, sua velocidade diminui, mas a altura aumenta. Um tsunami, por exemplo, pode ter 1 metro de altura em mar aberto, enquanto na costa, pode atingir de 5 a 10 metros. E se o chão da costa for íngreme, o resultado pode ser ondas de dezenas de metros de altura. 

Apesar de desacelerarem perto da costa, a rápida velocidade das primeiras ondas revela que áreas planas podem ser inundadas por quilômetros. A topografia do fundo do oceano afeta a velocidade das ondas do tsunami, o que significa que elas se movem mais rápido em áreas profundas e diminuem a velocidade em áreas mais rasas. Topografias muito íngremes podem até fazer com que as ondas dobrem. 

As costas do arquipélago indonésio são acentuadas, em particular na parte oriental e, especialmente, em Celebes. Palu tem uma baía estreita, profunda e longa: um cenário perfeito para tornar os tsunamis mais intensos e mortais. 

Essa complexa configuração geográfica também dificulta a previsão de possíveis tsunamis e, por essa razão, é difícil emitir alertas oportunos para avisar a população. 

Para fugir: ir a lugares mais altos

O conselho mais seguro e simples para pessoas que moram nas áreas costeiras e que já foram afetadas por um terremoto é: ir para o lugar mais alto da região, o mais rápido possível, e ficar lá por algumas horas. Mas, na realidade, esse é um problema bastante complexo. 

O Havaí e o Japão possuem sistemas de alerta sofisticados e eficientes. Mas ter o mesmo sistema na Indonésia é um desafio, considerando a falta de infraestrutura de comunicações e a grande variedade de idiomas falados em todo o vasto arquipélago da ilha. 

Após o desastre do Oceano Índico em 2004, os países começaram a investir em sistemas eficientes de rede de alerta de tsunamis. Hoje, o sistema de alerta de tsunamis da Indonésia opera uma rede de 134 estações de maré, 22 boias conectadas a sensores do fundo marinho para transmitir alertas antecipados, sismógrafos terrestres, sirenes em cerca de 55 locais e um sistema que distribui alertas por mensagem de texto. 

No entanto, financiar um sistema de alerta, a longo prazo, é um problema. Somente as boias custam cerca de US $ 250 mil dólares cada para instalação e US$ 50 mil dólares anuais para manutenção. 

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As três principais agências indonésias responsáveis pelo gerenciamento de terremotos e tsunamis sofreram cortes orçamentários e passaram por impasses internos para definir papéis e responsabilidades. 

O tsunami de Palu apenas salientou que nossos atuais modelos de prevenção e gerenciamento de desastre são insuficientes. Eles não consideram adequadamente vários eventos sísmicos, ou os deslizamentos subaquáticos potencialmente causados por esses terremotos. 

Nenhum sistema de alerta pode evitar fortes terremotos. Outros tsunamis certamente ocorrerão no futuro. Mas com um sistema de alerta bem desenvolvido e confiável, e melhor comunicação e conscientização pública, podemos minimizar as trágicas consequências. 

Com terremotos que ocorrem muito próximo à praia - geralmente o caso da Indonésia -, mesmo um sistema eficiente atual não conseguiria distribuir as informações com a rapidez necessária. A geografia da Indonésia e as habitações vulneráveis na costa tornam os tsunamis muito mais perigosos. Por isso, precisamos de mais esforços para criar comunidades resilientes a esses desastres naturais.

*Anja Scheffers é professora da Southern Cross University (Austrália)
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