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O Irã corre o risco de sofrer sanções quando a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) decidir, na quinta-feira, se o país ignorou ou não o prazo para suspender um programa de combustível nuclear que, segundo potências ocidentais, pode ser usado para fabricar bombas.

E as grandes potências mundiais devem começar a discutir uma resolução com sanções ao Irã em um encontro, na Europa, na próxima semana, se Teerã continuar a desafiar uma exigência do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidos, disse o Departamento de Estado americano na quarta-feira.

Na véspera do fim de um prazo dado pela ONU, o porta-voz Sean McCormack disse que a expectativa é que o Irã não cumprirá as exigências da ONU, portanto o subsecretário de Estado dos EUA, Nicholas Burns, e autoridades de alto escalão da Grã-Bretanha, Rússia, França, China e Alemanha vão se encontrar "no início da próxima semana". Ele não deu uma data específica nem um local.

Antes de 31 de agosto, o prazo final dado pela Organização das Nações Unidas (ONU), o governo iraniano prometeu "nunca" abrir mão do seu projeto nuclear.

O Conselho de Segurança da ONU pediu ao chefe da AIEA, Mohamed ElBaradei, que determine se o Irã atendeu ou não ao prazo fixado na resolução de 31 de julho.

- O teor da decisão é óbvio. Ninguém espera que seja diferente - disse um importante diplomata familiarizado com a agência quando questionado sobre se ElBaradei consideraria que o Irã desobedeceu ao Conselho de Segurança.

Diplomatas disseram que Washington viu no período de 30 dias dado ao Irã uma oportunidade justa para que o país islâmico mudasse de idéia. Caso isso não aconteça, a Rússia e a China poderiam ser convencidas a aceitar a imposição de sanções.

A resposta dada no dia 22 de agosto pelo país islâmico a uma oferta de incentivos elaborada para convencê-lo a abrir mão do programa de enriquecimento de urânio acabou dividindo as seis potências que lidam com o caso iraniano. Em sua resposta, o Irã disse que poderia aceitar a suspensão do programa durante eventuais negociações, mas não como precondição para a realização delas.

Rússia e China defendem a retomada das negociações enquanto dois importantes aliados dos EUA, França e Grã-Bretanha, parecem ter se afastado dos planos norte-americanos de impor sanções no próximo mês.

- A conclusão de ElBaradei sobre o Irã não ter suspendido o enriquecimento de urânio dará uma base para que os EUA, a Grã-Bretanha e a França argumentem em favor das sanções - disse Gary Samore, analista da Fundação MacArthur.

- Mas o Irã decidiu-se claramente por dar continuidade a seu programa, avaliando que o Conselho será incapaz de chegar a um acordo sobre sanções econômicas sérias e de que sanções adotadas fora da ONU (uma possibilidade aventada pelos americanos) não teriam eficácia.

PROTELAÇÃO

A AIEA também avalia a possibilidade de o programa nuclear anunciado oficialmente pelo país islâmico, cuja meta seria a produção apenas de eletricidade, ser uma fachada para esforços de desenvolver bombas atômicas.

A investigação da agência inclui as experiências com plutônio, a participação dos órgãos governamentais no processamento de urânio, os testes com explosivos, um projeto para a montagem de ogivas nucleares e a aquisição, no mercado negro, de peças de centrífuga usadas no enriquecimento.

O relatório de ElBaradei pode afirmar que os iranianos conseguiram paralisar as várias frentes da investigação, afirmou outro diplomata.

Para a AIEA, o Irã não respondeu satisfatoriamente a suas perguntas sobre seu programa nuclear, dizem diplomatas, e, mais recentemente, diminuiu a cooperação com os inspetores da agência para o mínimo previsto pelo Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), patamar esse considerado insatisfatório.

Em agosto, o país islâmico negou um pedido de visto para um especialista da AIEA em centrífugas. Há meses, o Irã não renova os vistos concedidos a inspetores encarregados de monitorar suas instalações nucleares, afirmaram diplomatas que trabalham junto à agência, em Viena.

- ElBaradei deve afirmar, no relatório, que o impacto cumulativo desse comportamento chega perto de impedir a AIEA de realizar até mesmo as inspeções de rotina exigidas pelo TNP - disse Mark Fitzpatrick, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, com sede em Londres.

- Quanto menos informação tivermos, quanto mais o Irã restringir o acesso dos inspetores, maior será o grau de incerteza e maior a tendência de os líderes ocidentais trabalharem com os piores cenários - afirmou Fitzpatrick à Reuters.

ElBaradei também dará, ao Conselho de Segurança, informações sobre o programa de enriquecimento de urânio em Natanz. Em abril o Irã, pela primeira vez, purificou urânio até o nível necessário para utilizá-lo em usinas nucleares, um nível considerado baixo. O processo envolveu a utilização de uma cascata e 164 centrífugas interconectadas.

Mas os esforços de enriquecimento tornaram-se mais lentos desde então, provavelmente devido a dificuldades no controle de qualidade, afirmaram diplomatas à Reuters.

- O Irã quase não está purificando urânio neste momento. Eles estão basicamente testando as centrífugas - disse um diplomata. - A diferença entre o que exige o Conselho de Segurança e o que o Irã está fazendo pode ser bastante pequena.

O governo iraniano, que defende a destruição de Israel, diz que sua agenda nuclear é totalmente pacífica e que nunca a utilizará para ameaçar nenhum país.

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