O presidente de Israel, Moshé Katzav, caído em desgraça por um envolvimento num escândalo sexual, renunciou formalmente ao cargo nesta sexta-feira, saindo pela porta dos fundos após um acordo com a justiça que permitiu que escapasse da pena de prisão.
Katzav, de 61 anos, pai de cinco filhos, estava desde janeiro, a seu pedido, suspenso das funções de presidente - um posto honorífico em Israel, e o qual assumiu em 2000.
"Desejo finalizar meu mandato duas semanas antes e entrego a vocês por esta razão minha demissão", escreveu em carta endereçada à presidente do Parlamento Dalia Yitzik.
Seu mandato deveria terminar no dia 13 de julho. O veterano Shimon Peres, 83 anos, já foi eleito em junho pela Knesset, o Parlamento de Israel, para sucedê-lo.
Katzav escapou da pena de prisão após um compromisso, fortemente criticado pela imprensa e pelas associações de defesa dos direitos das mulheres, anunciado na quinta-feira pelo procurador-geral do Estado Menahem Mazouz.
Nos termos do compromisso, ele reconheceu a responsabilidade em uma longa série de crimes sexuais, incluindo assédio e atos obscenos contra duas de suas ex-funcionárias, mas a acusação de violação não foi mantida contra ele.
Estes crimes valem então para Katzav apenas uma pena de prisão com direito a sursis segundo o compromisso que deverá ainda ser ratificado no domingo pelo tribunal do distrito de Jerusalém, segundo fontes judiciárias.
Segundo Mazouz, que também é conselheiro jurídico do governo, este acordo pôde ser concluído após Katzav, que jurava inocência, "reconhecer finalmente sua responsabilidade em parte das acusações contra ele".
Mazouz afirmou que a acusação de estupro não foi mantida "por falta de provas suficientes".
"O acordo da vergonha", era a principal manchete do Yediot Aharonot, o jornal de maior tiragem do país.
Uma das duas ex-funcionárias, que acusa Katzav de tê-la violentado, apelou na Suprema Corte para tentar anular o acordo que ela classificou de "imoral" e "contrário ao interesse público". Por causa dela o escândalo eclodiu há um ano.
"Estou ferida por esta decisão que permite criminosos atacarem as mulheres", declarou chorando; ela foi apresentada pela inicial A, durante uma entrevista coletiva à imprensa concedida na quinta-feira algumas horas após o anúncio do acordo.
"Moshé Katzav exerceu sobre mim um terror físico e moral (...) Ele era como Jekyll e Hyde ("O médico e o Monstro"), doutor durante o dia e assassino à noite. Vi seu lado monstruoso", disse. "Ele me ligava de manhã para me dizer como iria me vestir, para colocar uma saia e não usar calcinha. Ele ameaçava destruir minha vida se não fizesse o que ele queria".
Nos termos do acordo, Katzav deve pagar a ela o equivalente a 3.500 dólares de indenização e 8.000 dólares à segunda funcionária.
Segundo uma pesquisa realizada pelo jornal Yédiot Aharonot, 69% das pessoas ouvidas condenaram o acordo e 73% consideraram que a justiça não havia sido feita neste caso.
As associações feministas e as vítimas de agressões sexuais organizarão um protesto no sábado à noite em Tel-Aviv.
Inicialmente, Mazouz havia manifestado a intenção de processar Katzav por estupro, assédio sexual, obstrução da justiça e suborno de testemunhas.
Ao longo de todo o escândalo, Katzav, judeu praticante, negou sistematicamente as acusações de violação que teriam valido a ele uma pena de 16 anos de detenção em regime fechado.
No dia 24 de janeiro, ele acusou publicamente a imprensa israelense de ter armado "um ignóbil complô para derrubá-lo", falando de "linchamento midiático" e prometendo lutar "com toda a sua alma para provar" inocência.
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