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Primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu
Primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu| Foto: AMIR COHEN/POOL/AFP

O procurador-geral de Israel, Avichai Mandelblit, anunciou nesta quinta-feira (21) que o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, será acusado criminalmente de suborno, fraude e quebra de confiança em três processos diferentes. A decisão torna Netanyahu o primeiro premiê a ser indiciado durante o mandato na história de Israel. Ele, porém, não tem a obrigação de renunciar - isso ocorreria somente se fosse condenado.

Netanyahu tem sido perseguido por escândalos durante grande parte de sua carreira. Em Israel, os detalhes das investigações contra ele e seus aliados são tão conhecidos que se sabe o números dos casos: 1000, 2000, 3000 e 4000. Os detalhes desses processos – que envolvem, entre outras coisas, champanhe rosa, um show da Mariah Carey e o magnata de cassino americano Sheldon Adelson – foram reproduzidos pelos jornais israelenses durante anos. Ele nega todas as acusações.

Caos na política israelense

"Estamos em uma situação histórica e sem precedentes, com novas questões jurídicas quase todos os dias", Suzie Navot, professora de direito constitucional da Escola de Direito Haim Striks, em Rishon LeZion.

As acusações foram proferidas no primeiro dia de uma fase sem paralelo na política israelense: uma janela de 21 dias em que nenhum membro do parlamento conseguiu formar uma maioria para governar o país, incluindo Netanyahu e seu rival Benny Gantz, que falharam nessa tarefa em ocasiões anteriores.

A lei permite que um primeiro-ministro permaneça no cargo até ser condenado. Ele também continuaria elegível em uma possível terceira eleição. Mas as acusações que pesam contra Netanyahu foram um grande problema para ele nas duas eleições que ocorreram neste ano. Gantz construiu sua campanha batendo neste tecla.

Uma pesquisa de outubro mostrou que 53% dos israelenses achavam que Netanyahu deveria renunciar se fosse indiciado. Quase metade, 47%, de seus principais partidários de direita pensava o mesmo.

Mas Netanyahu passou meses menosprezando a investigação como sendo "politicamente motivada", uma "caça às bruxas", como o presidente americano Donald Trump se refere ao processo de impeachment contra ele. Grande parte do eleitorado é simpática às suas queixas.

Porém, a decisão do procurador-geral de indiciar o premiê fez com que alguns membros do Likud (partido do qual Netanyahu é líder desde 2005) sugerissem eleições internas para a escolha de um novo presidente do partido. O ex-ministro do Likud, Gideon Sa'ar, disse que "se formos às eleições, não é razoável pensar que ele conseguirá formar um governo após as três eleições". E acrescentou: "Acho que poderei formar um governo e acho que poderei unir o país e a nação".

Os processos contra Netanyahu

Caso 1000: esta investigação se concentra em presentes ilegais supostamente recebidos pela família Netanyahu –incluindo champanhe rosa, joias, charutos cubanos e até mesmo ingressos para um concerto de Mariah Carey – em troca de favores políticos para bilionários. No total, Netanyahu, sua esposa Sara e seu filho Yair, são acusados ​​de receber presentes no valor de mais de US$ 280.000 em troca do primeiro-ministro promover políticas que beneficiam poderosos aliados.

A polícia diz que esses aliados - incluindo o produtor de Hollywood nascido em Israel, Arnon Milchan, e o investidor australiano James Packer - receberam apoio político de Netanyahu em questões importantes. Por exemplo, o primeiro-ministro pressionou por uma lei, que a mídia rotulou a "lei Milchan", que reduziu os impostos para os israelenses retornarem à sua terra natal depois de viverem no exterior.

Caso 2000: Netanyahu também é acusado de usar suas conexões com Adelson, magnata de cassinos dos EUA e aliado do líder israelense, para pressionar o dono de um jornal por uma cobertura mais favorável de seu governo.

Um acordo de troca foi supostamente negociado com Arnon Mozes, editor do Yedioth Ahronoth, um importante jornal diário israelense. Sob o suposto acordo, Mozes teria aliviado a cobertura crítica de seu jornal sobre o primeiro-ministro israelense em troca de Netanyahu pressionar Adelson a limitar a circulação do Israel Hayom, um jornal gratuito de propriedade do bilionário americano.

Uma transcrição vazada da conversa de Netanyahu com Mozes foi divulgada pela mídia israelense em 2017. "Todos os dias eu tenho alguém que está me matando", reclama o primeiro-ministro, segundo relatos da mídia, antes de pedir a Mozes "para diminuir o nível de hostilidade comigo de 9,5 a 7,5".

Netanyahu mais tarde disse que sua oferta a Mozes não era séria. Adelson disse aos investigadores que ele não estava ciente de nenhum acordo entre Netanyahu e Mozes e ficou irritado com a ideia.

Caso 4000: Netanyahu é acusado de oferecer favores regulatórios a uma das maiores empresas de telecomunicações de Israel em troca de uma cobertura positiva do primeiro-ministro e sua esposa em um popular site de notícias pertencente à empresa.

Netanyahu, que atuou como ministro das Comunicações de Israel entre 2014 e 2017, além de primeiro-ministro, teria usado sua influência para ajudar o grupo Bezeq e seu proprietário, Shaul Elovitch. Elovitch, um amigo próximo do líder israelense, teria ordenado que o site de notícias Walla fornecesse uma cobertura mais favorável do Netanyahus em troca.

"Netanyahu e seus associados intervieram de maneira aberta e constante, às vezes até diariamente, no conteúdo publicado pelo site Walla News e procuraram influenciar a indicação de altos funcionários (editores e repórteres)", disse a polícia em um comunicado divulgado em dezembro do ano passado. Netanyahu negou as alegações.

Conteúdo editado por:Isabella Mayer de Moura
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