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Regime comunista

Programa espacial na África pode fortalecer espionagem e domínio militar da China

Programa espacial na África pode fortalecer espionagem e domínio militar da China
O ditador da China, Xi Jinping, e o presidente do Egito, Abdel Fattah El-Sisi, durante encontro em 2014 (Foto: EPA/GREG BAKER)

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Nos últimos anos, a China tem utilizado o pretexto da cooperação científica e tecnológica com países africanos para consolidar sua presença em setores estratégicos, como o espacial. No entanto, segundo analistas, essa aproximação serve não apenas para impulsionar o desenvolvimento regional, mas também para expandir o domínio militar de Pequim e fortalecer sua crescente rede global de espionagem.

Segundo uma reportagem da agência Reuters, um dos símbolos mais visíveis dessa estratégia está na periferia do Cairo, capital do Egito. Lá, um moderno laboratório espacial — promovido como o primeiro centro de produção de satélites da África — revela a profundidade da atual influência chinesa no continente. Embora oficialmente projetado para desenvolver satélites egípcios, o local é amplamente abastecido com tecnologia, equipamentos e expertise vindos da China, de acordo com informações apuradas pela Reuters.

A instalação, que começou a operar em 2023, faz parte do ambicioso projeto da “Space City”, um complexo de alta tecnologia que está em construção a cerca de 30 quilômetros do Cairo, contando com apoio direto do governo do presidente Abdel Fattah El-Sisi. Apresentado como o núcleo do programa espacial egípcio, a instalação, na prática, expõe uma relação de dependência: os componentes utilizados para a produção dos satélites no local chegam em contêineres de Pequim, cientistas chineses operam os sistemas e supervisionam engenheiros da instalção, e até uma bandeira da China ocupa lugar de destaque em uma das paredes, relata a Reuters.

O primeiro satélite montado no local – amplamente divulgado como um marco africano – foi, de fato, fabricado majoritariamente na China e também lançado a partir de um centro espacial chinês, em dezembro de 2023.

Até o momento, Pequim firmou 23 acordos bilaterais com nações africanas envolvendo doações de satélites, centros de monitoramento e estações terrestres. Países como Egito, Senegal e África do Sul já fecharam parceria com os comunistas para um futuro projeto de base lunar, iniciativa que concorre diretamente com o programa lunar dos Estados Unidos.

Durante um encontro com líderes africanos em Pequim, em setembro de 2024, o ditador Xi Jinping anunciou que o setor espacial seria uma das prioridades dentro de um pacote de US$ 50 bilhões em empréstimos e investimentos prometidos ao continente pelos próximos três anos. Publicamente, o regime chinês afirma que deseja incluir os países africanos na corrida tecnológica e espacial global. No entanto, fontes ouvidas pela Reuters indicam que a China está colhendo muito mais do que planta.

Segundo seis pessoas com conhecimento direto dos projetos, os acordos com países da África dão à China acesso a dados de satélites e telescópios e permitem que técnicos chineses permaneçam em solo africano, operando parte das instalações. Especialistas alertam que essa crescente influência da China no setor espacial africano representa um risco à segurança global, especialmente para os Estados Unidos e seus aliados. O ex-oficial de inteligência dos EUA, Nicholas Eftimiades, ressaltou à Reuters que a China está utilizando sua rede de parcerias no continente para, na verdade, consolidar seu sistema global de vigilância.

 “A China democratizou o espaço para ampliar suas capacidades autoritárias… e está fazendo isso de maneira muito eficaz”, disse.

O Pentágono alertou que os equipamentos chineses no continente africano podem ser usados para fins militares e de inteligência por parte de Pequim. Por sua vez, o Departamento de Defesa dos EUA classifica os projetos chineses em desenvolvimento África como um "risco à segurança", por possibilitar a coleta de informações sensíveis e permitir a Pequim pressionar governos locais, caso fiquem presos à rede de comunicação chinesa.

Segundo a Reuters, telescópios instalados pela China no Egito, por exemplo, podem ajudar a prever quando satélites militares dos EUA passarão por determinadas regiões, o que facilitaria ações de armas antissatélite – tecnologias que os regimes de China e Rússia já testaram, segundo relatório da Agência de Inteligência de Defesa dos EUA.

Além disso, estações terrestres chinesas em países como Etiópia – e em projeto com a Namíbia – podem coordenar operações militares, rastrear lançamentos de mísseis e também monitorar satélites estrangeiros.

O ex-assessor de segurança espacial dos EUA, Scott Pace, que comandou o Conselho Nacional do Espaço durante a primeira gestão do presidente Donald Trump, afirmou que a China é um “ator fundamentalmente interessado apenas em si mesmo”, e que seus acordos na África servem para consolidar o país como o “centro de poder” no espaço.

O Egito, que também é o maior beneficiário da ajuda militar americana na África, tenta manter neutralidade, segundo o diretor da Agência Espacial Egípcia, Sherif Sedky.

“Se recebemos uma oferta, aceitamos”, declarou ele à Reuters, garantindo que os dados captados pelos satélites fabricados pertencem ao Egito.

Apesar da alegação egípcia, fontes ouvidas pela agência internacional informam que a empresa estatal chinesa CASC (Corporação de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da China) continua ativamente monitorando as informações colhidas por satélites como o MisrSat-2 – oficialmente montado no Cairo, mas com partes feitas na China, testado por técnicos chineses e lançado ao espaço em território chinês.

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