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Uma batalha começou a ser travada no Reino Unido logo depois da eleição que reconduziu os conservadores ao poder. E não se trata — pelo menos por enquanto — da independência da Escócia, um dos temas espinhosos mais evidentes da nova gestão do primeiro-ministro David Cameron. Ativistas e defensores dos direitos dos animais declararam guerra à possibilidade de se retomar a caça às raposas com cães, aberta com a promessa de campanha do partido de colocar em votação o fim da proibição em vigor há exatos dez anos.

O assunto foi trazido de volta em um parágrafo no Manifesto Conservador, com o programa de Cameron para os próximos cinco anos. “Um governo conservador dará ao Parlamento a oportunidade de rejeitar o Ato de Caça em voto livre”, diz o documento se referindo à medida aprovada na gestão trabalhista de Tony Blair.

Como oito entre dez britânicos já disseram em 2013 que acham uma crueldade a caça com cães, o tema acabou fora do discurso de abertura do Parlamento feito por Elizabeth II com as linhas gerais para a legislatura este ano. Os conservadores querem evitar polêmicas e divisões para aproveitar a pequena maioria de assentos obtida nesta eleição e aprovar assuntos urgentes, como o ajuste fiscal e outras reformas.

“A Sociedade Real para a Prevenção da Crueldade contra Animais (RSPCA, na sigla em inglês) está convencida de que a prática de caçar e matar animais com cães é bárbara e ultrapassada, e não tem lugar no Reino Unido moderno. Este é o sentimento ecoado pela vasta maioria do público. Apenas uma pequena minoria quer trazer de volta a crueldade”, disse ao Globo o porta-voz da RSPCA, Andy Robbins.

Mas parte da bancada conservadora e o próprio porta-voz de Cameron já deixaram claro que a promessa de campanha será cumprida. O lobby é enorme, e os caçadores, cada vez mais numerosos, têm pressa.

As redes sociais têm sofrido um bombardeio de imagens de raposas protagonizando cenas inocentes, pacíficas e, por que não, fofas. Mais de 70 mil tuítes com fotos foram publicados, contra cerca de quatro mil antes do pleito.

“Tenha uma noite pacata”, diz a mensagem sob a foto da raposa que se espreguiça em um dos vários tuítes do ativista e comediante britânico Rick Gervais. É com a mesma mensagem e diferentes imagens de raposas que ele tem se despedido dos mais de oito milhões seguidores na rede.

“Este é um dos lindos animais que Cameron acha legal torturar até matar”, diz o guitarista do Queen, Brian May, ao compartilhar a fotografia do filhotinho de olhar perdido postada por Gervais. “O homem mais poderoso do Reino Unido quer liberar a caça por caçadores montados a cavalo que assistem aos cães destroçá-la em pedaços”, diz ainda o comediante no mesmo tuíte em que posta um vídeo de raposa brincando.

Os internautas também têm replicado nas redes o site do abaixo-assinado contra o fim da proibição. O documento recebeu mais de 240 mil assinaturas.

A caça com cachorros foi proibida na Inglaterra, no País de Gales e na Escócia. Hoje, só é permitida na Irlanda do Norte.

A queda de braço entre caçadores e protetores de animais se arrasta, e o caso foi parar na Corte Europeia. Esta é uma tradição que existe no país desde o século XV.

Meses atrás, Cameron escreveu em artigo na revista “Countryside Alliance” lembrando que sempre apoiou os esportes do campo. “Acredito que as pessoas deveriam ser livres para caçar. Compartilho da frustração de muitos em relação ao Ato da Caça e a maneira como foi trazido pelo governo anterior”, disse.

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