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O presidente russo, Vladimir Putin, e o ditador chinês, Xi Jinping, em encontro pouco antes da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, no início de fevereiro
O presidente russo, Vladimir Putin, e o ditador chinês, Xi Jinping, em encontro pouco antes da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, no início de fevereiro| Foto: EFE/EPA/ALEXEI DRUZHININ/KREMLIN/SPUTNIK

Ao invadir a Ucrânia, sob pretexto de proteger russos étnicos e evitar que a ex-república soviética entrasse na Otan e na União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, planejava demonstrar força diante do Ocidente. As pesadas sanções econômicas que obteve como resposta, entretanto, podem torná-lo ainda mais dependente daquele que descreve como seu principal parceiro geopolítico.

Um caso que ilustra bem essa situação é a saída dos sistemas de pagamento Visa e Mastercard da Rússia, anunciada no fim de semana, que o banco central russo espera compensar recorrendo ao sistema chinês UnionPay.

Ainda que o comércio bilateral entre Rússia e China, de mais de US$ 146 bilhões em 2021, ainda esteja bem abaixo das transações com a União Europeia (US$ 220 bilhões no ano passado), os laços entre os dois países já vinham se estreitando e a invasão da Ucrânia pode acelerar esse processo.

“Para uma economia como a da Rússia, que ainda depende muito das receitas de exportação e do comércio internacional de forma mais ampla, perder o acesso ao sistema financeiro global é claramente um golpe doloroso”, disse Eswar Prasad, professor de economia e política comercial da Universidade de Cornell e ex-chefe da Divisão China do Fundo Monetário Internacional (FMI), à revista Time.

“As restrições ao acesso da Rússia ao sistema financeiro global dominado pelo Ocidente, sem dúvida, a levarão a um relacionamento econômico mais profundo com a China, em termos de comércio e dependência financeira”, acrescentou.

Com uma pauta de exportações muito dependente de commodities como fertilizantes, minérios, petróleo e gás, a Rússia terá dificuldades porque a invasão da Ucrânia deve levar muitos compradores a buscar outras fontes.

“Acho que Putin não esperava um bloqueio tão grande das transações econômicas com os demais países, a Rússia está meio isolada do mundo. Muitos bens da sua pauta de exportações estão sendo substituídos por outros parceiros comerciais. Por exemplo, a Rússia é um dos grandes fornecedores de titânio do mundo. Só que a Ucrânia também tem, outros países têm, o que vai gerar uma alocação diferente das fontes de comércio mundial”, explicou Rodolfo Coelho Prates, professor do curso de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Quando a invasão da Ucrânia era iminente, a Alemanha suspendeu a autorização do novo gasoduto Nord Stream 2; nesta terça-feira (8), a União Europeia informou que estuda reduzir sua dependência do gás russo em dois terços este ano.

Os Estados Unidos anunciaram também nesta terça o veto a importações de petróleo e gás da Rússia. O Reino Unido informou que reduzirá gradualmente as compras de petróleo russo para deixar de importar o produto desse país até o final do ano, e a União Europeia cogita medida parecida.

Após ameaçar interromper imediatamente o fornecimento de gás à Europa como retaliação, Putin assinou nesta terça-feira um decreto que proíbe exportações de produtos e/ou matérias-primas, que serão especificados em lista aprovada pelo governo russo nos próximos dois dias. Ao que parece, recorrer ao Oriente se tornará uma questão de sobrevivência para a Rússia.

“É claro que isso seria em alguns anos, mas a Rússia poderia ter uma compensação fazendo um gasoduto ligando à China, Índia e Paquistão, ela está deslocando o eixo das relações internacionais, do Ocidente para o Oriente”, apontou Prates.

“Ela vai ficar muito dependente da China, principalmente na exportação de recursos naturais, e obviamente essa parceria comercial e financeira vai se acentuar de forma mais intensa agora”, projetou o professor.

China reafirma parceria, mas tem seus próprios interesses

A China criticou as sanções impostas à Rússia e não tem usado o termo invasão para se referir ao conflito, embora não tenha apoiado a guerra deflagrada por Moscou. Nesta segunda-feira (7), o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, reafirmou a cooperação entre os dois países.

“Não importa quão precária e desafiadora seja a situação internacional, a China e a Rússia manterão o foco estratégico e avançarão constantemente nessa parceria estratégica abrangente de coordenação para uma nova era”, declarou Wang.

Um complicador é que, além da China ainda estar longe de representar uma compensação suficiente para o comércio com o Ocidente, Pequim tem seus próprios interesses e pode se aproveitar do cerco à Rússia para obter vantagens: em 2014, quando Moscou sofreu sanções pelas primeiras agressões à soberania territorial ucraniana, a China pressionou por preços mais baixos em um contrato anterior de fornecimento de gás natural.

Esse horizonte e as dificuldades na invasão à Ucrânia, que não está sendo o passeio que Putin esperava, comprometem a imagem de poder que o presidente russo quer passar. “A Rússia sai enfraquecida por essas questões econômicas e também do ponto de vista militar, porque observamos que o exército russo tem uma capacidade aquém do imaginado”, concluiu Prates.

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