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Migrantes venezuelanos vindos da cidade de Boa Vista, em Roraima, são acolhidos em uma paróquia para orientações e encaminhados para casas alugadas pelo programa de integração da Cáritas Brasileira, em São Sebastião, no Distrito Federal | Valter Campanato/Agência Brasil
Migrantes venezuelanos vindos da cidade de Boa Vista, em Roraima, são acolhidos em uma paróquia para orientações e encaminhados para casas alugadas pelo programa de integração da Cáritas Brasileira, em São Sebastião, no Distrito Federal| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Qual é o valor necessário para atender à crise de refugiados da Venezuela? Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), algo em torno de R$ 3 bilhões, ou mais precisamente, US$ 738 milhões. O montante foi anunciado nesta terça-feira (4), quando a organização apresentou suas necessidades de financiamento para 2019, que globalmente somam US$ 21,9 bilhões, sem contar com a ajuda à Síria.

Esta é a primeira vez que a crise da Venezuela é incluída no plano anual de assistência da ONU e já na estreia os recursos necessários para a região superam os solicitados para ajuda humanitária no Afeganistão, Iraque, Mianmar ou Líbia.

"Há uma crise pela qual temos pela primeira vez um plano de resposta, que é ajudar os países vizinhos da Venezuela a lidar com as consequências de um grande número de venezuelanos deixando o país", disse Mark Lowcock, coordenador de ajuda emergencial da ONU.

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O dinheiro será necessário, segundo a organização internacional, para responder ao maior êxodo da história moderna da América Latina e Caribe. Mais de três milhões de refugiados e migrantes venezuelanos vivem fora de seu país, sendo que 2,3 milhões deles deixaram sua terra natal a partir de 2015 – uma crise que tende a se agravar no próximo ano. As estimativas apontam que em 2019, 3,6 milhões de pessoas vão precisar de assistência e proteção, sem expectativa de retornar para a Venezuela em médio prazo.

A ONU salientou que o montante não será destinado ao regime do ditador Nicolás Maduro. Os recursos são para os governos de países que estão recebendo o fluxo de imigrantes venezuelanos, como Brasil, Equador, Colômbia, Peru e outros países da América Latina e Caribe, visando atender às necessidades de mais de 2,2 milhões de refugiados e migrantes e a cerca de meio milhão de “membros das comunidades anfitriãs”.

“A ampliação da assistência humanitária e um maior apoio aos mecanismos de inclusão socioeconômica são urgentemente necessários para complementar os esforços dos governos e garantir que comunidades continuem a aceitar refugiados e migrantes em um ambiente acolhedor”, afirma o relatório da ONU.

Debandada de médicos prejudica saúde na Venezuela

O sistema de saúde da Venezuela perdeu 20% de sua capacidade de atuação diante da crise que enfrenta o país, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), que denuncia as dificuldades enfrentadas no país sul-americano. Conforme a agência, 20 mil médicos e 5 mil enfermeiros deixaram o país desde o início da crise. 

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Segundo o diretor-geral da agência de Saúde da ONU, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a dimensão da crise é profunda. "O setor de saúde foi atingido e sua capacidade reduzida", disse. "Estimamos que, em comparação a sua dimensão original, o setor está operando com uma capacidade de 80%", disse o africano, citando a saída de médicos e enfermeiros do país. 

"Também vimos o aumento da malária e outras doenças. Estamos ajudando com compra a determinados setores, como vacinas, e temos canais abertos com o governo", indicou. Segundo ele, a OMS também está prestando assistência para os refugiados e imigrantes no Peru, Brasil, Colômbia e Equador.

Tedros indicou que a meta da agência é preencher as lacunas deixadas pela crise e também pedir o compromisso do governo para garantir recursos à saúde primária.

Ajuda humanitária da ONU à Venezuela

As declarações são dadas uma semana depois de a ONU admitir que começou a prestar ajuda humanitária dentro da Venezuela para atender o setor de saúde e de alimentação, numa iniciativa que tenta estabilizar o fluxo de venezuelanos que deixa o país. Por anos, o governo de Caracas se recusava a aceitar qualquer ajuda internacional, alegando que isso seria uma justificativa para eventualmente promover uma intervenção militar, com uma desculpa humanitária.

Dos US$ 9,5 milhões enviados pela ONU, a maior parcela do dinheiro está indo para a OMS. A agência terá US$ 3,6 milhões para gastar no fortalecimento de hospitais, ajudar a pagar salários e até mesmo na compra de remédios. 

Segundo dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), a situação aponta para a fuga de um a cada três médicos do país e a explosão de casos de aids, malária, tuberculose, sarampo, difteria e outras doenças. Em 2014, por exemplo, estavam registrados 66,1 mil médicos na Venezuela. Em 2018, 22 mil já deixaram o país.

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Os dados de mortalidade infantil também mostraram que o país regrediu em 40 anos. Depois de anos de melhorias, os índices de 2017 eram equivalentes ao que se registravam na Venezuela em 1977. No Estado de Miranda, um estudo ainda mostrou que os idosos chegam a perder 16 quilos por ano em média por escassez de alimentos nos centros de atendimento.

Ajuda brasileira à ONU

Em um decreto publicado nesta terça-feira (4) no Diário Oficial da União, o presidente do Brasil, Michel Temer, autorizou o repasse de R$ 15 milhões a agências de migração da ONU para “fins de acolhimento a pessoas em situação de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado por crise humanitária”, sem especificar a situação da Venezuela. A doação será efetuada pelo Ministério das Relações Exteriores.

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