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A Holanda está vivendo um clima de polêmica sem precedente com os anúncios de transmissão na sexta-feira de um reality show num canal público voltado para jovens, no qual uma mulher em fase terminal precisa decidir para qual de três candidatos doará seus rins.

No Parlamento e nas ruas, os holandeses estão indecisos entre impedir a exibição do programa por motivos éticos ou permitir sua veiculação para esclarecer o problema existente com as doações de órgãos.

Os responsáveis pelo programa dizem estar "conscientes" da controvérsia, mas afirmam que desejam atrair a atenção da opinião pública para a situação péssima das doações de órgãos.

O dono da rede de televisão pública holandesa BNN Laurens Dillich afirmou em entrevista à rádio pública que, apesar das críticas, o programa será exibido.

"As chances para os candidatos de obter um rim são de 33%, bem maiores do que as pessoas que estão nas listas de espera", explicou Dillich.

A BNN escolheu transmitir o programa no dia do quinto aniversário de morte de seu fundador, Bart de Graaff, que esperou sete anos por um rim.

O projeto provocou reações diversas em Bruxelas, onde um porta-voz da Comissão européia qualificou a atração "de extremo mal gosto". Já o presidente da Fundação holandesa para as doações de rins está contente com a atenção dada ao assunto trazida pela polêmica, mas afirma que "esta não é a nossa maneira de agir, pois ela não traz qualquer solução estrutural".

Este não é o primeiro escândalo televisivo da BNN. Antes, o canal transmitiu uma série voltada para a educação sexual sem tabus e programas dedicados a sexo e drogas.

O "Grande Programa do Doador" (The Big Donorshow) chegou a ser cogitado pela Endemol, o grupo de produção holandês célebre por seus reality shows, sendo um dos mais famosos o Big Brother.

No centro da atração, Lisa, 37 anos, condenada por um tumor cerebral, deverá decidir para qual dos três pacientes selecionados pelos produtores, de idades entre 18 e 40 anos, ela doará um rim. Os telespectadores poderão influenciar a escolha através de mensagens.

A questão foi abordada pelo Parlamento nesta terça-feira e dividiu a maioria. Embora todos reconheçam a importância do problema com o sistema de doação de órgãos, os deputados dos partidos democrata-cristãos (CDA) e protestante (ChristenUnie, CU) pediram ao ministro da Saúde, Ab Klink, e ao ministro das Comunicações, Ronald Plasterk, que impedissem a transmissão.

No partido social-democrata, um deputado condenou a exibição por motivos éticos, mas não pediu sua proibição, devido à importância do assunto.

Os dois ministros já declararam que a lei do estatuto das comunicações não lhes permite censurar previamente a transmissão.

Na Holanda, o transplante de órgãos possui regras restritas. Os doadores não podem escolher para quem irão seus órgãos após a morte.

Mas, no transplante de rins, caso o doador esteja vivo, ele pode fazê-lo, caso se estabeleça uma ligação entre as pessoas envolvidas.

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