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Reeleição solidificaria “revolução” de Trump no Partido Republicano
| Foto: Shealah Craighead/ Fotos Públicas

A Convenção do Partido Republicano, iniciada na segunda-feira (24), nos Estados Unidos, oficializou a candidatura à reeleição do atual presidente do país, Donald Trump, e do vice Mike Pence. A legenda declarou que continuará apoiando o presidente, sem apresentar competidores para a chapa.

A aposta do partido em Trump é apenas a última ação de uma sequência de quatro anos de influência do empresário sobre o partido. Desde a eleição em 2016, o Partido Republicano viu seu público, pautas e discurso mudar e acomodar um novo conservadorismo.

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Os inimigos do partido também estão mudando. Trump estabeleceu uma aproximação com o presidente russo Vladimir Putin e diz que se dá bem com a Rússia. Trata-se de algo inédito no conservadorismo americano contemporâneo: desde a Guerra Fria a Rússia é considerada inimiga dos ideais de liberdade dos EUA.

Os eleitores estão acompanhando Trump: pesquisas mostram que os cidadãos que seguem o Partido Republicano estão desenvolvendo uma postura menos hostil em relação à Rússia da era Putin: em 2017, 32% tinham uma visão favorável de Putin, contra apenas 13% em 2015.

Outros inimigos tradicionais da direita, os impostos também estão menos rejeitados pelos eleitores republicanos: a parcela dos que consideram os impostos “uma coisa ruim” despencou de 63% para 46% desde 2016. Além disso, 73% dos republicanos acreditam que os impostos de Trump seriam bons para os EUA, apesar do posicionamento do partido a favor do livre comércio.

Renovação do partido

Uma possível reeleição de Donald Trump não é certa – pesquisas mostram o atual presidente atrás do candidato do Partido Democrata, Joe Biden –, mas o pleito de 2020 poderá solidificar uma nova fase do Partido Republicano com a marca de Trump pelos próximos anos.

Após a vitória de 2016, uma nova bancada presidencial tomou forma, composta por candidatos como o Secretário de Estado Mike Pompeo, mais alinhados ao estilo de política de Trump. O mesmo aconteceu na Câmara e no Senado, já que de 2017 para cá quase metade da Conferência Republicana da Câmara se aposentou, renunciou, foi derrotada ou está se aposentando. A maioria dos recém-chegados do partido ao Congresso são alinhados a Trump.

“Donald Trump concorreu em 2016 e inundou um vasto campo de republicanos conservadores mais convencionais. Ao fazer isso, ele não se limitou a ganhar a nomeação e embarcar no caminho para a Casa Branca. Ele afastou os republicanos de quatro décadas de conservadorismo de grandeza nacional ao estilo [Ronald] Reagan para um novo evangelho de populismo e nacionalismo”, diz Gerald F. Seib, editor do Wall Street Journal e autor do livro “We Should Have Seen It Coming: From Reagan to Trump – A Front-Row Seat to a Political Revolution” (“Deveríamos ter previsto: De Reagan a Trump - Um assento na primeira fileira para uma revolução política”, em tradução livre).

O especialista ressalta que essa mudança vinha crescendo há algum tempo. Pat Buchanan, Ross Perot, Sarah Palin, Mike Huckabee, o Tea Party e um debate cada vez mais acirrado sobre a imigração foram os primeiros sinais de que uma nova porta estava se abrindo no partido.

“Trump simplesmente avançou”, acrescenta Seib, que destaca que o presidente entendeu que as antigas prescrições de conservadorismo econômico do partido não funcionaram para seus novos aliados da classe trabalhadora.

Mudança na base

As mudanças começaram pela base: novo discurso e novos eleitores para o Partido Republicano. A campanha eleitoral de Trump em 2016 conquistou americanos brancos de classe operária e áreas rurais – uma mudança em relação ao eleitor republicano típico, mais rico, com maior nível de formação e mais cristão.

“A base é um pouco diferente do que era há um ou dois ciclos, e Trump tem muito a ver com isso. São pessoas que estão impacientes, estão procurando coisas para serem feitas”, diz o estrategista republicano Bill McCoshen.

É para valer?

Não há dúvidas entre os republicanos de que Trump mudou o partido, mas as opiniões se dividem sobre o caráter permanente ou temporário da mudança, segundo pesquisa da Morning Consult. Dos 79% dos eleitores do Partido Republicano que acreditam que Trump mudou a legenda, cerca de metade vê a mudança como temporária, enquanto 36% disseram que é uma mudança permanente.

“Donald Trump sem dúvida mudou o Partido Republicano. Mas ele não mudou para algo que não era antes. Ele forçou o Partido Republicano a realmente refletir as opiniões de seus eleitores”, afirma Andrew Surabian, estrategista republicano que trabalhou no governo Trump em 2017.

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Embora existam debates sobre a permanência do “trumpismo” no Partido Republicano, a adesão de uma nova classe de eleitores ao partido tem tudo para ser permanente.

“Ele trouxe pessoas que eram apáticas sobre a política ou, possivelmente, democratas insatisfeitos”, aponta Dan Cox, pesquisador em pesquisas de opinião pública no American Enterprise Institute. Segundo Cox, Trump mudou a composição do partido com sua imagem de indivíduo que veio de fora do mundo político, conquistando eleitores que rejeitam figuras políticas.

Jovens políticos e novos eleitores

Ed Brookover, sócio da Avenue Strategies que foi conselheiro sênior da campanha de Trump, afirma que o Partido Republicano está passando por uma mudança lenta que é maior do que uma pessoa. Segundo Brookover, a tendência é voltar pelo menos ao início do movimento do Tea Party em 2009. Ele vê um Partido Republicano inclinando-se cada vez mais para os políticos mais jovens, que refletem com mais precisão o novo eleitorado republicano.

De qualquer forma, as mudanças impulsionadas por Trump mostram-se um terreno fértil para o Partido Republicano nos próximos anos.

“Acho que você terá mais candidatos populistas no futuro, e o truque será conseguir o candidato populista que também possa apelar para o eleitor suburbano, o que não podemos perder”, diz o ex-governador republicano da Carolina do Norte, Pat McCrory. “Eu não ficaria surpreso se os republicanos encontrassem alguns futuros AOCs [deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez] conservadores”.

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