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Crimeia

Referendo ameaça dividir a Ucrânia

Marcada para o próximo domingo, consulta popular sobre a incorporação da Crimeia à Rússia pode gerar impasse com potências ocidentais

Soldado supostamente russo faz a guarda em uma base militar de Sebastopol, na Crimeia | David Mdzinarishvili/Reuters
Soldado supostamente russo faz a guarda em uma base militar de Sebastopol, na Crimeia (Foto: David Mdzinarishvili/Reuters)
Moradores de Stavropol, no sul da Rússia, fazem manifestação em favor da retomada da Crimeia |

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Moradores de Stavropol, no sul da Rússia, fazem manifestação em favor da retomada da Crimeia

A Ucrânia parece caminhar a passos largos no sentido de uma divisão territorial depois de o Parlamento da Crimeia, república autônoma no sul de seu território, ter manifestado na quinta-feira o desejo de fazer parte da Rússia e convocado um referendo para o próximo dia 16. Nesta semana, deputados russos encaminharam um projeto de lei com o objetivo de facilitar uma eventual adesão da Crimeia.

INFOGRÁFICO: Conheça a Crimeia

Acredita-se que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, esteja por trás de tais desdobramentos, mas ainda não se sabe se a intenção de Moscou é realmente anexar a Crimeia ou alavancar sua posição na queda de braço com Estados Unidos e União Europeia (UE).

Em 22 de fevereiro, após três meses de protestos contra a decisão do presidente Viktor Yanukovich de aceitar um multibilionário pacote de ajuda de Moscou e deixar de lado uma aproximação comercial com a UE, políticos pró-Bruxelas derrubaram o governo estabelecido em Kiev.

Enquanto EUA e UE saudaram a deposição de Ya­­nu­­kovich e rapidamente abraçaram o governo interino empossado pelo Parlamento, a Rússia qualificou a ação como golpe. Rapidamente, o foco das tensões voltou-se para a Crimeia, região autônoma onde a maioria da população é de etnia russa.

A convocação do referendo pelo Parlamento da Crimeia equivale quase a uma declaração de independência. Cerca de 60% da população local é de etnia russa. "Esta é a nossa resposta à desordem e à ilegalidade em Kiev", declarou o deputado Sergei Shuvainikov. "Decidiremos nós mesmos o nosso futuro."

O atual primeiro-minis­­tro da Ucrânia, Arseniy Yatse­­nyuk, antecipou que não vai reconhecer o resultado do referendo, que considera "ilegal", e disse que o governo empossado depois da deposição de Yanukovich não fará concessões em relação à Crimeia. Líderes da UE e dos EUA também contestaram o referendo.

Referendo visa dar "verniz democrático" a decisão parlamentar

Agência Estado

A consulta popular daria um verniz democrático à eventual adesão formal da Crimeia à Federação Russa, mas ainda não é possível prever como a questão irá evoluir, apesar da proximidade da votação.

Antes de chamar a consulta popular sobre a adesão à Rússia, o Parlamento da Crimeia havia convocado um referendo para 30 de março, mas a questão a ser colocada aos eleitores era se a república deveria ou não gozar de "autonomia de Estado" dentro da Ucrânia.

Na cidade portuária de Sebastopol, que dispõe de autonomia em relação ao restante da Crimeia, a câmara local decidiu também participar do referendo. De acordo com o governo da Crimeia, forças pró-Rússia controlam atualmente todos os acessos à península e isolaram todas as bases militares que ainda não se renderam.

"Estamos cansados de revoluções, praça e conflitos. Queremos viver pacificamente na Rússia", disse Igor Urbansky, morador de Simferopol, capital da Crimeia. "Só a Rússia pode nos salvar do genocídio", prosseguiu.

Viktor Gordiyenko, por sua vez, acredita que a Crimeia esteja sendo usada como um "fantoche" de Moscou. "Isso é loucura. O referendo é só uma encenação. A decisão da ocupação foi tomada de antemão", acredita.

Acordo

Atualmente, um acordo de arrendamento assinado entre Moscou e Kiev, em 1997, permite que a Frota do Mar Negro da Rússia fique instalada em Sebastopol, na região autônoma da Crimeia, até 2042. Segundo o pacto, as tropas russas não podem sair dessa região com equipamentos ou veículos militares sem a permissão das autoridades ucranianas. Todos os movimentos devem ser acertados em conformidade com Kiev.

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