
A Ucrânia parece caminhar a passos largos no sentido de uma divisão territorial depois de o Parlamento da Crimeia, república autônoma no sul de seu território, ter manifestado na quinta-feira o desejo de fazer parte da Rússia e convocado um referendo para o próximo dia 16. Nesta semana, deputados russos encaminharam um projeto de lei com o objetivo de facilitar uma eventual adesão da Crimeia.
INFOGRÁFICO: Conheça a Crimeia
Acredita-se que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, esteja por trás de tais desdobramentos, mas ainda não se sabe se a intenção de Moscou é realmente anexar a Crimeia ou alavancar sua posição na queda de braço com Estados Unidos e União Europeia (UE).
Em 22 de fevereiro, após três meses de protestos contra a decisão do presidente Viktor Yanukovich de aceitar um multibilionário pacote de ajuda de Moscou e deixar de lado uma aproximação comercial com a UE, políticos pró-Bruxelas derrubaram o governo estabelecido em Kiev.
Enquanto EUA e UE saudaram a deposição de Yanukovich e rapidamente abraçaram o governo interino empossado pelo Parlamento, a Rússia qualificou a ação como golpe. Rapidamente, o foco das tensões voltou-se para a Crimeia, região autônoma onde a maioria da população é de etnia russa.
A convocação do referendo pelo Parlamento da Crimeia equivale quase a uma declaração de independência. Cerca de 60% da população local é de etnia russa. "Esta é a nossa resposta à desordem e à ilegalidade em Kiev", declarou o deputado Sergei Shuvainikov. "Decidiremos nós mesmos o nosso futuro."
O atual primeiro-ministro da Ucrânia, Arseniy Yatsenyuk, antecipou que não vai reconhecer o resultado do referendo, que considera "ilegal", e disse que o governo empossado depois da deposição de Yanukovich não fará concessões em relação à Crimeia. Líderes da UE e dos EUA também contestaram o referendo.
Referendo visa dar "verniz democrático" a decisão parlamentar
Agência Estado
A consulta popular daria um verniz democrático à eventual adesão formal da Crimeia à Federação Russa, mas ainda não é possível prever como a questão irá evoluir, apesar da proximidade da votação.
Antes de chamar a consulta popular sobre a adesão à Rússia, o Parlamento da Crimeia havia convocado um referendo para 30 de março, mas a questão a ser colocada aos eleitores era se a república deveria ou não gozar de "autonomia de Estado" dentro da Ucrânia.
Na cidade portuária de Sebastopol, que dispõe de autonomia em relação ao restante da Crimeia, a câmara local decidiu também participar do referendo. De acordo com o governo da Crimeia, forças pró-Rússia controlam atualmente todos os acessos à península e isolaram todas as bases militares que ainda não se renderam.
"Estamos cansados de revoluções, praça e conflitos. Queremos viver pacificamente na Rússia", disse Igor Urbansky, morador de Simferopol, capital da Crimeia. "Só a Rússia pode nos salvar do genocídio", prosseguiu.
Viktor Gordiyenko, por sua vez, acredita que a Crimeia esteja sendo usada como um "fantoche" de Moscou. "Isso é loucura. O referendo é só uma encenação. A decisão da ocupação foi tomada de antemão", acredita.
Acordo
Atualmente, um acordo de arrendamento assinado entre Moscou e Kiev, em 1997, permite que a Frota do Mar Negro da Rússia fique instalada em Sebastopol, na região autônoma da Crimeia, até 2042. Segundo o pacto, as tropas russas não podem sair dessa região com equipamentos ou veículos militares sem a permissão das autoridades ucranianas. Todos os movimentos devem ser acertados em conformidade com Kiev.



