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Funcionário do Museu do Tsunami de Aceh, onde foram colocados os nomes das vítimas da tragédia ocorrida uma década atrás | Beawiharta/Reuters
Funcionário do Museu do Tsunami de Aceh, onde foram colocados os nomes das vítimas da tragédia ocorrida uma década atrás| Foto: Beawiharta/Reuters

Empecilho

Conflito entre governo e guerrilha separatista dificultou operação

Uma das grandes dificuldades na operação foi o conflito de mais de três décadas entre a guerrilha separatista e o governo indonésio, que no dia seguinte ao desastre suspendeu a proibição de acesso a Aceh a organizações internacionais.

A analista Lilianne Fan, que trabalhou em Aceh desde 1999, elogia as autoridades indonésias pela maneira como aproveitaram a tragédia para refazer suas relações com a região, e sobretudo os dirigentes da BRR, que envolveram os moradores locais na reconstrução.

"Compreenderam que se encontravam diante de um problema sem precedentes e foram suficientemente valentes, comprometidos e sérios para dar uma resposta", diz Lilianne.

Ao mesmo tempo, a analista critica que a ajuda internacional tenha se concentrado na reparação de danos materiais e a reabilitação de uma sociedade afligida pelo conflito armado ficasse desatendida.

Crianças

A participação das comunidades afetadas no processo de reconstrução, especialmente das crianças, é destacada pelos organizadores da operação. A experiência serviu de referência em outros desastres como o terremoto do Haiti e o tufão Haiyan nas Filipinas.

5 mil pessoas se reuniram ontem para rezar numa mesquita que foi uma das poucas construções que permaneceram em pé em Banda Aceh. "Alá manteve a sua casa segura. Isso é o que nós muçulmanos acreditamos", disse Azman Ismail, imã da Grande Mesquita de Baiturrahman. Essa foi a maior oração coletiva no local desde o tsunami.

  • Mulheres rezam na mesquita de Banda Aceh, onde uma cerimônia reuniu cerca de 5 mil pessoas que lembraram o tsunami de 2004

Sriwahyuni varre a entrada de sua pequena casa, a de número dez, idêntica às demais de um bairro construído o mais rápido possível por organizações humanitárias após o tsunami que há uma década devastou a região indonésia de Aceh.

Casas como esta em Aceh Besar, junto a barreiras de mangues recém-plantados ou a nova estrada do litoral oeste, fazem parte do legado da monumental operação de ajuda humanitária, que deu resposta a uma das piores catástrofes naturais.

Um terremoto de 9,1 graus provocou a onda gigante que em 26 de dezembro de 2004 causou a morte de 170 mil indonésios e arrasou 800 quilômetros de litoral no norte da ilha de Sumatra.

Dezenas de ONGs de todo o mundo foram ao auxílio de Aceh onde, com mais de 200 mil casas destruídas e 560 mil deslocados, foram gastos US$ 6,7 bilhões (mais de R$ 17 bilhões).

"A devastação foi grande. Só ficou a terra. Não havia certidões de óbito, nem de propriedade. Foi muito difícil decidir onde construir as casas. Começamos do zero", disse Myrna Evora, diretora na Indonésia da Plan, uma das organizações.

A agência para a reconstrução de Aceh (BRR), criada pelo governo indonésio, dirigiu e coordenou a operação que, no fim de seu mandato em 2009, quase não deixou nenhum rastro físico da destruição.

"Para mim foi uma demonstração de grande coordenação, foi tudo planejado muito bem. Senão, agora não estaríamos em uma situação tão estável", contou Buchari, eleito prefeito de Aceh Besar após o tsunami.

A região, que goza de ampla autonomia, é governada por ex-guerrilheiros que, como nos anos de guerra, controlam os principais setores econômicos da região: a exploração mineira e florestal, e as plantações.

Desorganização gerou excesso de moradias

Se a operação teve resultados expressivos, observando mais detalhadamente é possível notar as deficiências de uma tarefa monumental, complicada pela dinâmica das organizações doadoras e sua pressa em gastar o dinheiro concedido, o que levou a construir mais casas do que as que foram destruídas.

Meia dúzia de buracos na parede mostra as vezes que Sriwahyuni teve que repor o leve suporte de plástico que sustenta a cortina, um defeito de qualidade que essa indonésia explica pela rapidez com que foi construída a casa.

"A casa é assim-assim. Mas é melhor que a que eu tinha", disse a flagelada, enquanto mostra um rodapé roído ou como barras de ferro saem do teto desgastado pela umidade seis anos após instalar-se em seu novo lar.

"O trabalho a realizar era enorme e os doadores queriam ajudar logo. Mas ainda não sabíamos do que necessitávamos, não tínhamos feito as avaliações", explicou Buchari.

"Havia muito dinheiro. Veio todo o setor da ajuda humanitária e a coordenação foi difícil", disse Myrna Evora, que admite que os problemas também aconteceram devido à concorrência entre ONGs para assumir projetos.

"Pescadores que perderam um barco passaram a ter três, e os problemas de sobrepesca que estavam controlados se descontrolaram", comentou a voluntária, que,em contrapartida, aponta um aspecto positivo: "Vimos que quando as crianças e a comunidade intervêm, esta sai fortalecida."

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