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O rei que sai, Juan Carlos (direita), e o que entra, Felipe | REUTERS/Susana Vera
O rei que sai, Juan Carlos (direita), e o que entra, Felipe| Foto: REUTERS/Susana Vera
  • Príncipe Felipe e o então rei da Espanha Juan Carlos
  • Motivos da abdicação serão explicados aos espanhóis nesta segunda-feira

O rei Juan Carlos abdicou nesta segunda-feira em favor do príncipe Felipe, anunciou o presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, em uma declaração institucional. Juan Carlos I, de 76 anos, disse nesta segunda-feira que decidiu abdicar em favor do príncipe Felipe para "abrir uma nova etapa de esperança na qual se combine a experiência adquirida e o impulso de uma nova geração"

Em uma mensagem à nação, o monarca acrescentou que pensou na renúncia ao cumprir 76 anos, e que quando volta o "olhar para trás" sente "orgulho e gratidão" aos espanhóis.

Biografia: Juan Carlos I, 39 anos como Rei da Espanha

O rei da Espanha chegou ao trono em 22 de novembro de 1975. Seu filho, Felipe de Bourbon, de 46 anos, se tornou Príncipe das Astúrias, título do herdeiro da Coroa espanhola, em janeiro de 1977.

O presidente do Governo lembrou o papel do rei na transição democrática e disse que "foi um defensor infatigável" dos interesses da Espanha. "O rei deixa uma impagável dívida de gratidão a todos os espanhóis", afirmou Rajoy em seu pronunciamento no Palácio da Moncloa, sede do Executivo.

Rajoy acrescentou que convocou para esta terça-feira um Conselho de Ministros extraordinário para tramitar a renúncia do rei ao trono, mediante a aprovação de uma Lei Orgânica como estabelece a Constituição espanhola.

"Quero transmitir que este processo se desenvolverá em um contexto de estabilidade institucional e como prova da maturidade de nossa democracia", disse Rajoy.

O Presidente do Governo explicou que espera que em um prazo "muito breve" o parlamento proclame como rei ao príncipe Felipe.

Saúde

Juan Carlos I, que subiu ao trono há 39 anos, foi operado nove vezes por diversos motivos de saúde e por acidentes relacionados com a prática esportiva.

Em maio de 2010, foi operado para extirpar um nódulo pulmonar e em várias ocasiões por problemas no quadril.

Nos últimos anos, o rei enfrentou problemas familiares, já que o marido de sua filha mais nova, a infanta Elena, Iñaki Urdangarín, é investigado pela Justiça em um caso de corrupção.

Juan Carlos I, 39 anos como Rei da Espanha

Juan Carlos de Bourbon e Bourbon foi Rei da Espanha sob o nome de Juan Carlos I durante 39 anos, um dos reinados mais longos da história, desde que foi proclamado em 22 de novembro de 1975.

O rei nasceu em Roma no dia 5 de janeiro de 1938, primeiro filho homem de dom Juan de Bourbon e Battenberg e de dona María das Mercedes de Bourbon e Orleáns.

Após passar sua infância na Itália, Suíça e Estoril (Portugal), em 9 de novembro de 1948 pisou pela primeira vez na Espanha, onde fixou sua residência, afastado de sua família.

Na Espanha estudou bacharelado e completou sua formação militar nas academias de Terra, Mar e Ar de 1957 a 1959. De 1960 a 1961 realizou um programa de estudos monográficos de Direito, Economia, Política e Filosofia.

No dia 14 de maio de 1962 se casou, em Atenas, com a então princesa Sofía, primogênita do rei Paulo da Grécia. Desta união nasceram três filhos, as infantas Elena (1963) e Cristina (1965) e dom Felipe, nascido em 1968, que desde 1977 é Príncipe das Astúrias e herdeiro.

Em 22 de julho de 1969, por proposta do general Franco, foi designado pelos Cortes Espanholas sucessor na Chefia de Estado, com o título de Rei. No dia seguinte prestou juramento e recebeu o título de Príncipe da Espanha.

Dois dias depois foi promovido no Exército e foram-lhe atribuídas as honras de capitão geral. Desde então, ocupou em todos os atos oficiais o posto imediato ao chefe de Estado.

Como Príncipes da Espanha, dom Juan Carlos e dona Sofía visitaram diferentes cidades e regiões da Espanha e viajaram oficialmente a 36 países de quatro continentes, como embaixadores de honra da Espanha.

Em 22 de novembro de 1975 foi proclamado rei e pronunciou perante as Cortes sua primeira mensagem à nação, no qual expressou seu desejo de ser "rei de todos os espanhóis".

Cinco dias mais tarde, em cerimônia religiosa aconteceu a denominada "exaltação" ao trono da Espanha, com o nome de Juan Carlos I.

A partir desse momento, se tornou um dos artífices da democratização do país, que começou com a Lei da Reforma Política de 1976. Outro momento de destaque foi a aprovação por referendo da Constituição em 6 de dezembro de 1978, sancionada pelo rei em 27 daquele mês.

No dia 14 de maio de 1977, dom Juan, conde de Barcelona, chefe da Casa Real Espanhola, renunciou oficialmente a todos seus direitos dinásticos, em favor de seu filho, dom Juan Carlos.

O rei teve uma intervenção decisiva para parar a tentativa de golpe de Estado do dia 23 de fevereiro de 1981, com a qual ganhou o respeito e a admiração, tanto na Espanha como no exterior.

Tal como expressa a Constituição em seu artigo 56, é o chefe do Estado, símbolo de sua unidade e permanência, arbitra e modera o funcionamento regular das instituições e assume a mais alta representação do Estado espanhol nas relações internacionais. Ostenta, além disso, o comando das Forças Armadas.

Em 22 de novembro de 2005, dom Juan Carlos completou 30 anos à frente da chefia do Estado, período no qual liderou "uma nova etapa da história da Espanha", cumprindo o desejo que expressou durante sua proclamação.

Por ocasião de seu 70º aniversário, em 9 de janeiro de 2008 foi celebrado um jantar em sua honra, com a presença das mais altas autoridades do Estado, na qual o Rei agradeceu a todos eles sua contribuição para manter "o rumo da Coroa" e ter conseguido "uma Espanha unida e diversa, moderna e plural, próspera e solidária".

Durante estes anos visitou todas as regiões espanholas e as duas cidades autônomas de Ceuta e Melilla, no norte da África.

Impulsionou um novo estilo nas relações com a região ibero-americana, com sua presença a todas a Cúpulas Ibero-Americanas realizadas desde 1991, salvo a de 2013, e lembrou sempre a vocação europeia da Espanha, encorajando seu processo de integração na Europa.

Foi investido doutor honoris causa por 30 famosas universidades espanholas e estrangeiras.

Por seu cuidado com as relações internacionais e por seu papel no restabelecimento da democracia na Espanha foi reconhecido com vários prêmios internacionais, como o Prêmio Carlos Magno (1982), o Prêmio Nacional de Humanismo e Democracia (1983) e o Prêmio de Convivência "Professor Manuel Broseta" (1997).

Juan Carlos I conta, além disso, com vários títulos e condecorações estrangeiras, como a Grande Cruz da Ordem de Malta e cavalheiro da Ordem de la Jarretera, outorgada pela rainha da Inglaterra. Em 1987, as Nações Unidas lhe concedeu a Medalha Nausen, por seu apoio aos refugiados e em janeiro de 1988 recebeu a Medalha do Conselho da Europa.

Grande amador do esporte, sobretudo esqui e vela, participou dos Jogos Olímpicos de Munique de 1972, representando a Espanha em uma modalidade deste segundo esporte.

Don Juan Carlos foi operado nove vezes, cinco delas de 2010 a 2012. Sua passagem pela sala de cirurgia foi devido a motivos de saúde e por acidentes relacionados com a prática esportiva. Por sua especial relevância, destacam-se as cirurgias sofridas em maio de 2010, para extirpar um nódulo pulmonar, e em abril de 2012, de uma fratura no quadril.

Esta última coincidiu com um momento crítico da crise econômica espanhola e após uma viagem de lazer a Botsuana.

Em um gesto sem precedentes, dom Juan Carlos pediu no dia 18 de abril de 2012 desculpas publicamente, ao afirmar, "Sinto muito; me equivoquei e não voltará a acontecer".

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