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Um relatório da Otan vazado nesta quarta-feira revelou que a organização acredita que as forças de segurança do governo do Paquistão têm vínculos com lideranças do grupo extremista Taleban. De acordo com suas informações, os radicais têm planos de retomar o poder no Afeganistão, após a saída das tropas americanas e da aliança internacional. A Otan confirmou a existência do documento, mas afirmou que trata-se apenas compilação de opiniões de prisioneiros. Islamabad negou qualquer vínculo com os extremistas islâmicos.

Para a organização, o documento, intitulado "Estado do Taleban: perspectivas de detentos", "não é uma análise nem deve ser considerado" como tal. As informações do documento indicam que os talibãs se mantém desafiadores em um momento em que os Estados Unidos e o governo afegão tentam estabelecer negociações para encerrar os conflitos no país.

Segundo o relatório, que é baseado em "opiniões e ideias" obtidos através de mais de 27 mil interrogatórios com quatro mil radicais presos por forças ocidentais, os talebans teriam "perdido território" no Afeganistão e autoridades estariam dando refúgio aos extremistas no Paquistão, onde eles "desfrutam de um lugar seguro".

Representantes da liderança taleban, como Nasiruddin Haqqani, "mantém residências nas vizinhanças imediatas das sedes da ISI em Islamabad", afirma o documento. Um membro do alto escalão da Al-Qaeda é citado, alegando ser vigiado por autoridades paquistanesas: "O Paquistão sabe de tudo. Eles controlam tudo. O Taleban não é o Islã. O Taleban é Islamabad". O documento pontua também que "a manipulação por parte do Paquistão dos líderes talebans continua incessantemente".

Horas depois da publicação desta informação, o Exército paquistanês lançou um ataque aéreo contra vários acampamentos talibãs na região de Orakzai, atingindo pelo menos 20 radicais, segundo fontes de segurança citadas pela rede paquistanesa "Geo TV". De acordo com as informações dos extremistas, nas regiões onde as forças de segurança da Otan já se retiraram a influência do Taleban aumentou, muitas vezes com pouca ou nenhuma resistência das forças de segurança do governo. Em alguns casos, teria existido até ajuda da polícia e do Exército afegão para a ascensão taleban.

Um repórter da BBC que teve acesso aos depoimentos disse que o Taleban parece se sentir encurralado pelo controle do ISI e teme nunca conseguir escapar de sua influência.

Paquistão nega ligações, e EUA se mostram preocupados

Após ser questionado pela imprensa, o ministério de Relações Exteriores paquistanês negou com veemência as acusações contidas no documento vazado. "Nós estamos comprometidos em não interferir no Afeganistão. O Paquistão tem sofrido enormemente por causa do longo conflito no Afeganistão. Uma paz estável com Cabul está entre os nossos interesses e todos do governo estão muito cientes disso", disse o porta-voz da pasta Abdul Basit, que classificou as acusações de "ridículas".

O relatório também destaca que, apesar da estratégia da Otan para treinar as forças do Afeganistão, a colaboração entre insurgentes e membros das forças de segurança está estendida. A coalizão internacional passou o controle de amplas zonas do país às forças afegãs, para retirar completamente o poderio estrangeiro dentro de alguns anos.

Entretanto, muitos afegãos duvidam da capacidade do Exército e das forças de segurança afegãs para manter o controle do país. A chanceler paquistanesa, Hina Rabbani Khar, em encontro com o presidente afegão, Hamid Karzai, nesta quarta-feira, fez questão de enfatizar que a polêmica entre as relações de seu governo e radicais é velha e não demonstrou preocupação com o vazamento do documento. - Nós desconsideramos isso como um "vazamento estratégico potencial".

"Essa discussão é um vinho velho em uma garrafa mais velha ainda", disse a ministra. Um porta-voz da Força de Assistência de Segurança Internacional da Otan no Afeganistão confirmou a existência do relatório e afirmou que ele é "um documento interno secreto que não deveria ser divulgado ao público". "É uma questão de política que documentos que são confidenciais não sejam discutidos sob nenhuma circunstância", afirmou Jimmie Cummings. Os Estados Unidos afirmaram que o Departamento de Defesa americano ainda não leu o relatório, mas sinalizou sobre suas suspeitas quanto às relações entre Paquistão e Taleban: "Nós estamos preocupados há muito tempo sobre os laços entre elementos do ISI (serviço de inteligência do Paquistão) e algumas redes extremistas", afirmou o capitão

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