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Pequim – A riqueza emergente dos chineses está criando um novo problema para o governo da China: casais que, por terem mais dinheiro, estão tendo dois ou mais filhos e não se importam em pagar a taxa imposta pelo governo, que pode chegar a R$ 150 mil por criança, dependendo da província ou da região. A taxa foi fixada no Programa Nacional de População e Planejamento Familiar, criado no fim da década de 1970 e conhecido como a "política do filho único".

A comissão do governo que cuida do programa fez um levantamento e descobriu que 10% das celebridades e dos ricos chineses possuem três filhos, assim como autoridades e muitas famílias de classe média alta que não se importam de pagar para ter o segundo filho. O governo está preocupado com um novo "boom" de nascimentos depois de tantos anos de controle. Calcula-se que, caso a política do filho único não fosse adotada na China, o país teria hoje 300 milhões de pessoas a mais – a china hoje tem 1,3 bilhão de habitantes..

"O trabalho de manter a taxa de fertilidade da China em níveis baixos, ao redor dos 1,8 dos últimos 20 anos, está ficando mais difícil", afirmou Zhang Weiqing, diretor da Comissão de Controle e Planejamento Familiar.

A saída do governo está sendo aumentar as multas e, em alguns casos, segundo entidades internacionais de direitos humanos, forçar abortos. Há duas semanas, por exemplo, um empresário da Província de Anhui, que não teve seu nome revelado, teve que pagar US$ 78 mil por ter mais de um filho. No município de Chongqing e na província de Hunan, todos os funcionários públicos serão investigados e, caso tenham mais de um filho, poderão até perder o cargo.

Apesar de o fenômeno ser mais visível nos casais de classe média e alta das grandes cidades, os casais que moram no campo também começam a subverter a política do filho único e, em alguns casos, a severidade da resposta dos governos locais tem trazido protestos. Um deles ocorreu na semana passada, com enfrentamento entre policiais e moradores da região autônoma de Guanxi, no sul do país.

O conflito resultou em pelo menos cinco mortos, 78 presos e centenas de feridos, além de vários carros e prédios incendiados em muitas cidades da região. A notícia foi ignorada pela mídia chinesa, mas moradores da região afirmaram que há dois meses as autoridades locais adotaram uma série de medidas para garantir a política do filho único, como estabelecer exames de saúde periódicos e obrigatórios para mulheres e forçar grávidas de segundos filhos a abortar.

Além disso, o governo decidiu cobrar multas que variavam de US$ 9 mil a US$ 65 mil de todo o casal que tivesse um segundo filho desde 1980, mesmo daqueles que já haviam pago penalidades.

A política do filho único é fortemente criticada por entidades de defesa dos direitos humanos, que acusam o governo de recorrer a operações de esterilização e abortos forçados e fazer vista grossa para o infanticídio feminino.

Histórias pessoais mostram bem como os chineses estão menos propensos a ter só um filho. O casal Zhang Li Hua, 48 anos, e sua esposa Li Ya Qin, 44 anos, por exemplo, tinham acabado de ter seu primeiro filho, em 1985, quando Qin se viu novamente grávida. Naquela época, os Zhang eram camponeses na região de Ping Gu, pequena cidade da província de Hebei. A política do filho único era então ferozmente vigiada pelos representantes do Comitê de Controle Familiar.

"Nós não planejávamos ter um outro filho, mas aconteceu e, como éramos muito pobres, achávamos que os filhos seriam uma garantia de sustento na nossa velhice", lembra Li Ya Qin.

A saída, para ela, foi sumir das ruas, trancar-se em casa e tentar esconder a barriga com panos que apertavam sua cintura. Quando a filha Zhang Dan nasceu, em 1986, a família foi ao governo e revelou seu "pecado" e pagou a multa.

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