
Um diplomata norte-americano disfarçado com uma peruca loira foi pego em flagrante quando tentava recrutar um agente de contraespionagem russo em Moscou, informaram ontem os serviços de segurança da Rússia, afirmando que o representante diplomático é um funcionário da CIA (Agência Central de Inteligência, em inglês), órgão norte-americano de espionagem internacional.
Ryan Fogle, terceiro-secretário da embaixada dos EUA em Moscou, levava consigo equipamento técnico especial, disfarces, instruções por escrito e uma grande quantidade de dinheiro quando foi detido durante a noite, informou o Serviço Federal de Segurança (FSB, na sigla em inglês, agência que sucedeu a KGB) em comunicado. Fogle foi entregue a funcionários da embaixada norte-americana.
Segundo o FSB, Fogle tentava recrutar um agente de contraterrorismo russo especializado na região do Cáucaso, área do sul da Rússia que inclui a Chechênia e o Daguestão. Os suspeitos do ataque à Maratona de Boston eram chechenos e o mais velho dos irmãos, que morreu num confronto com a polícia, passou seis meses no Daguestão, que atualmente é um foco de insurgência islâmica.
Investigadores norte-americanos têm trabalhado com colegas russos para determinar se Tamerlan Tsarnaev havia estabelecido contatos com militantes que operam no Daguestão. Autoridades russas expressaram indignação ontem com o fato de os EUA realizarem operações de espionagem num período no qual os presidentes dos dois países trabalham para melhorar a cooperação de contraterrorismo.
Fogle foi declarado persona non grata e recebeu ordens para sair da Rússia imediatamente, informou o Ministério de Relações Exteriores russo. Ele tem imunidade diplomática, o que impede que seja preso.
Espionagem
Apesar do fim da Guerra Fria, Rússia e EUA ainda mantêm operações de espionagem um contra o outro. No ano passado, vários russos foram condenados em diferentes casos por espionar para os EUA e submetidos a longas sentenças de prisão.
A prisão de Fogle, porém, parece ser a primeira de um diplomata norte-americano acusado de espionagem em cerca de uma década e deve agravar as já tensas relações entre os dois países.
A televisão estatal russa mostrou fotografias de um homem identificado como Fogle, usando um boné, com o que parece ser uma peruca loira, de bruços, no chão. O homem, sem a peruca, também é mostrado sentado numa cadeira no escritório do FSB. Duas perucas e pacotes com notas de 500 euros estão entre os itens mostrados sobre uma mesa.
Russo ganharia até US$ 1 mi por ajuda
Das agências
A emissora estatal russa também mostrou uma carta descrita como instruções ao agente russo que era alvo da suposta tentativa de recrutamento. A carta, escrita em russo, é endereçada ao "amigo querido" e oferece US$ 100 mil para "discutir sua experiência, perícia e cooperação" e até US$ 1 milhão por ano por cooperação de longo prazo.
A carta também inclui instruções para a abertura de uma conta de e-mail no Gmail que seria usada para as comunicações e um endereço, para onde as mensagens seriam enviadas.
Ainda ontem, o Ministério de Relações Exteriores da Rússia informou que convocou o embaixador dos EUA, Michael McFaul, para explicar a situação. A chancelaria russa disse que Fogle deve retornar aos EUA "o mais rápido possível" e declarou que tais "atos provocativos no espírito da Guerra Fria de forma alguma ajudam a fortalecer a confiança mútua" entre Moscou e Washington.
A porta-voz do Departamento de Estado Jen Psaki confirmou que um funcionário da embaixada em Moscou foi detido por um breve período de tempo e depois liberado.
"Nós vimos o anúncio do Ministério de Relações Exteriores russo e não temos mais comentários a fazer neste momento", disse Psaki, que está na Suécia com o secretário de Estado John Kerry. A CIA se recusou a comentar o caso.
Pouco se sabe sobre Fogle, que é terceiro-secretário, um posto de início de carreira no Departamento de Estado, o nível mais baixo do serviço diplomático.



