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Quatro ministros já deixaram o governo de Luis Arce após denúncias de irregularidades, dos quais dois foram presos: escândalos alimentam disputa política com o ex-aliado Evo Morales
Quatro ministros já deixaram o governo de Luis Arce após denúncias de irregularidades, dos quais dois foram presos: escândalos alimentam disputa política com o ex-aliado Evo Morales| Foto: EFE/Stringer

Denúncias de corrupção no governo do presidente Luis Arce se acumulam na Bolívia e têm sido usadas como argumento na briga com Evo Morales, com quem o atual mandatário disputa o domínio do campo político à esquerda no país.

O golpe mais recente ocorreu na semana passada, quando Juan Santos Cruz, que havia acabado de deixar o Ministério do Meio Ambiente e Águas devido a denúncias de corrupção, foi preso.

Uma ex-assessora dele denunciou que Santos, ex-líder camponês do departamento de Pando, pedia propinas de até 30% do valor de projetos de irrigação. O então ministro teria embolsado o equivalente a US$ 2,7 milhões e com esse dinheiro teria comprado duas fazendas, um frigorífico e 27 casas em nome de parentes.

Santos havia renunciado ao cargo de ministro dias antes de ser preso. Na ocasião, alegou que não queria “manchar” a gestão de Arce e disse ser vítima de um “ataque midiático da direita radical e de inimigos internos”.

No ano passado, o então ministro de Desenvolvimento Rural e Terras, Edwin Characayo, havia sido preso quando ainda ocupava a pasta. A polícia o flagrou, em gravações e fotos, recebendo mais de US$ 20 mil em uma rua central de La Paz como propina para emitir um título agrário para uma empresa. Characayo foi processado e meses depois condenado a oito anos de prisão.

Em apenas dois anos e meio, o governo Arce já teve quatro ministros que deixaram seus cargos após denúncias de irregularidades. Além de Santos e Characayo, também saíram Wilson Cáceres, que antecedeu Characayo no Ministério de Desenvolvimento Rural e Terras, e Adrián Quelca, que estava na pasta da Educação.

Embora os dois ex-ministros presos tenham ligações com as organizações sociais e sindicatos que formam o partido governista Movimento ao Socialismo (MAS), este tenta se desvincular dos escândalos no governo Arce. A legenda, presidida por Morales (presidente boliviano entre 2006 e 2019), declarou que já “não respalda” o atual governo.

O próprio ex-presidente, cujo governo também foi marcado por denúncias de corrupção, tem procurado se distanciar do seu afilhado político. “Os escândalos de corrupção mostram que não há justiça nem transparência. Lamento muito que não sejam tomadas medidas oportunas para prevenir e combater um mal que causa muitos danos”, escreveu Morales no Twitter.

Durante o ato de nomeação de Rubén Méndez como novo ministro do Meio Ambiente e Águas, Arce alegou que “não há tolerância com a corrupção, não há tolerância com o tráfico de influência de qualquer tipo no nosso governo” e que os casos denunciados “não condizem com a conduta revolucionária” do governo boliviano.

“Pedimos aos ministros, às diferentes instituições públicas, à imprensa que denunciem esses eventos para que [os responsáveis] sejam punidos e censurados com todo o peso da lei”, acrescentou.

Entretanto, a população boliviana, que sofre com outros problemas, como a escassez de combustíveis, não parece acreditar no discurso de Arce: numa pesquisa do jornal Página Siete, quase 60% dos participantes disseram que seu governo é tolerante com a corrupção.

A gestão Arce também é investigada por outros escândalos, como a denúncia de que doou a um sindicato agrário uma caminhonete que havia sido roubada no Chile. Outro veículo roubado no país vizinho estava sendo utilizado pela Câmara dos Deputados.

O próprio MAS denunciou nos últimos meses casos de corrupção na estatal Campos Fiscais de Petróleo da Bolívia (YPFB, na sigla em espanhol) e na Administração de Estradas da Bolívia (ABC).

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