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Derrotada no domingo, Patricia Bullrich teve 24% dos votos, fatia do eleitorado que será decisiva na disputa entre Milei e Massa
Derrotada no domingo, Patricia Bullrich teve 24% dos votos, fatia do eleitorado que será decisiva na disputa entre Milei e Massa| Foto: EFE/Matias Martin Campaya

O candidato governista e atual ministro da Economia, Sergio Massa, contrariou as pesquisas e foi o mais votado no primeiro turno da eleição presidencial da Argentina, realizado neste domingo (22). Com quase 37% dos votos, disputará com o libertário Javier Milei (30%) em 19 de novembro quem ocupará a Casa Rosada a partir de 10 de dezembro.

Os votos da candidata de centro-direita Patricia Bullrich (cerca de 24% dos votos), da coalizão Juntos pela Mudança, do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), serão decisivos para definir o vencedor.

Embora a tendência é que o eleitorado dos nanicos de esquerda Juan Schiaretti e Myriam Bregman (que juntos somaram 9,5%) migre para Massa, ele ainda precisaria atrair parte dos eleitores de Bullrich para ser eleito.

Neste domingo, enquanto Milei apenas repetiu a porcentagem das primárias (que são obrigatórias para todo o eleitorado na Argentina) de agosto, nas quais foi o mais votado, o total de votos para o grupo de Macri, que havia somado 28% no mês retrasado, contando os votos de Bullrich e do correligionário Horacio Larreta, caiu para 24%.

Por outro lado, a União pela Pátria, que havia conseguido 27% nas primárias (contando os votos para Massa e Juan Grabois, vencido na disputa interna do peronismo), agora chegou a 37%.

Ou seja, como Milei ficou estagnado entre as primárias e o primeiro turno, a indicação é que Massa foi beneficiado pela diminuição da abstenção (70% do eleitorado argentino votou em agosto e 78% foi às urnas agora) e até que já atraiu alguns votos da Juntos pela Mudança.

Ainda que aparentemente seja mais fácil o eleitorado de Bullrich migrar para Milei do que para Massa, por ela estar à centro-direita do espectro político, analistas consideram que essa transposição de votos não será automática.

Pesa para isso o fato de um dos partidos da Juntos pela Mudança, a União Cívica Radical (UCR), legenda dos ex-presidentes Raúl Alfonsín (1983-89) e Fernando de la Rúa (1999-2001), estar mais ao centro, e o discurso de “medo” que Massa tenta emplacar em relação a Milei pode ter efeitos nessa fatia do eleitorado.

“Nos votos para Patricia Bullrich, há muitos eleitores da UCR. E entre esses eleitores da UCR, há muitos eleitores moderados, não sei se estarão muito dispostos a votar em Milei. Isso não quer dizer também que votarão em Massa, provavelmente boa parte desse eleitorado vai votar em branco, não vai votar ou vai distribuir seus votos entre Milei e Massa”, disse o advogado e professor da Universidade de Buenos Aires Flavio Gonzalez, em entrevista à Gazeta do Povo.

Gonzalez afirmou que, devido à afinidade em certas pautas (como liberdade econômica e segurança), é mais fácil que os votos da Juntos pela Mudança do PRO, o outro grande partido da coalizão e ao qual Macri e Bullrich são filiados, migrem para Milei. Para isso, o libertário precisaria moderar seu discurso no segundo turno, alertou o especialista.

“Milei poderia capitalizar boa parte desse voto se fizer um percurso acelerado para [se apresentar como] político profissional, o que até agora não demonstrou”, disse Gonzalez. O mesmo raciocínio, porém, pode se aplicar ao candidato peronista.

“Massa também pode atrair esse eleitorado, mostrando-se como alguém sério, prudente, como alguém que não tem muito a ver com [a ex-presidente condenada por corrupção] Cristina Kirchner. O ato de ontem, a recepção de Massa [em Buenos Aires, após a definição de que haverá segundo turno] não teve nada a ver com o kirchnerismo, Massa se apresentou como se estivesse inaugurando um novo formato de peronismo, que é o ‘massismo’, digamos”, afirmou o especialista.

Em entrevista ao site Perfil, o consultor político Eduardo Reina disse que ainda é “prematuro” apontar para onde o eleitorado de Bullrich vai caminhar, mas estimou que ao menos metade dos que votaram nela deve optar por Milei no segundo turno.

Para isso, entretanto, também indicou que o libertário precisa se mostrar mais “negociador e conciliador” – Bullrich já descartou no domingo apoiar Massa, mas não declarou apoio a Milei.

À Gazeta do Povo, Aldo Abram, diretor-executivo da Fundação Liberdade e Progresso, apontou que, além de um perfil “menos agressivo e disruptivo” de Milei, um apoio claro da Juntos pela Mudança é necessário para que o libertário atraia os votos da coalizão derrotada neste domingo.

“Há uma oportunidade nessa união de conseguir mostrar uma frente ‘votável’ para o cidadão médio. Se não acontecer essa união da centro-direita, clara, que seja visível de alguma forma, a verdade é que Massa terá mais chances de ganhar”, disse.

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